(O conteúdo deste blog é de autoria inviolável de Alessandro Vargas, sendo parte consubstancial de sua idiossincrasia) (contém partes da obra "Velhos Invernos e Dias de Diamantes")
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Procura de ti
Sentei-me no banco da praça para olhar a rainha viver,
Espionar seu jeito de ser,
Por entre esse odor de fumaça,
Que sai quando sentes perder o amor não importa o que faça.
Que em poucos goles eu vi quanta beleza que não conhecia,
Conversava comigo, sorria,
Esquecendo a melancolia de ti;
Cachos castanhos, pele macia,
Que hoje percebi que perdi.
Quero te ver nessa luz ofuscante que sai das janelas do prédio,
Onde sei que estás nesse instante,
Sentindo, como eu, tanto tédio.
Na sacada, observava ofegante,
Procurando a solução, o remédio.
Por muitas vezes revoltei-me no escuro da noite, esquecendo minha vida;
Meu amor se tornara obscuro por perder a ilusão já perdida,
Mas encontrei quem agora eu procuro,
Nas alturas, a mulher da minha vida.
Sentei-me nesse banco vazio para encontrar a garota que amo,
O vento me acolhe tão frio, e eu grito, choro e te chamo,
Mas da sacada não sei se me viu,
Mas pude encontrá-la chorando.
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4 comentários:
Sei; conheço bem a febre dos sanguíneos. Nós amamos o inatingível, o perdido, o impossível... E, acima de tudo, mais do que qualquer forma de amor, odiamos perder; podemos aprender tudo, menos a encarar as derrotas ou frustrações com serenidade.
E, diferente dos ditos "normais", vamos com mais fúria do que nunca de encontro ao que tanto desejamos quando nosso Udjat interior alerta que a derrota se aproxima; na verdade, essa é a grande distinção dos sanquínios: fúria - que nos leva a patrolar pessoas, nossa consciência e qualquer tipo de ética, num surto de prepotência e insensatez.
E, bem, depois vem a calmaria; e a frustração, e o cansaço, e a dúvida... Enfim, a típica depressão sanguínea, quando percebemos que nossa força e magnetísmo não são tão indiscutíveis assim.
Talvez o grande problema seja a profundidade com a qual tentamos viver, entender e descrever essa vida, sublimando-a; talvez, a solução seja a mesma que Manoel Bandeira encontrou, similar a de outros grandes poetas em seu crepúsculo...
"Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo - que foi? passou - de tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.
- Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples."
Sábio Manoel Bandeira.
Mas não creio nesse amor ao perdido ao impossível.
Talvez sim, que seja uma febre dos sanguíneos, ainda mais de nós, abaixo da linha do Equador.
Mas creio que é só uma questão de falta de percepção ao que temos ao alcance das mão.
"Mal podemos conhecer o que há na terra, e com muito custo compreendemos o que está ao alcance de nossas mãos; quem, portanto, investigará o que há nos céus?" (Sabedoria 9,13-18)
Concordo num ponto crucial contigo, Alessandro: o que conhecemos? Montaigne já afirmava que “o reconhecimento da própria ignorância é um dos mais belos e seguros testemunhos de juízo que conheço”, e nisso você está coberto de razão.
Mas peço vênia pra discordar materialmente da afirmação; essa falta de “percepção” referente ao que temos em “nossas mãos” traz algum conforto? Kant passou anos de inconformismo até enxergar, na “Critica da razão pura”, que “algo” só existe porque nossa “percepção” o captou; só se torna um “objeto” realmente quando o discernimos, relacionando-o com nossos conceitos e conhecimentos. O “amor”, a “dor” ou um pneu na estrada só existem porque existem pra você; sua mente os percebe por algum de seus sentidos e porque os relaciona com toda a sua “bagagem” de informações, discernindo-o.
Mas, enfim: não saber o que “temos nas mãos” muda em que nossa realidade? Esperança? Não sei... Talvez o tempo esteja me levando a enxergar a vida de forma mais seca, e simplificada. Tempos atrás, do alto de seus avançados anos e de sua humildade comunista, Oscar Niemeyer disse: “Pessimismo não é nada negativo quando bem pensado - é preciso acabar com essa bobagem de que o universo foi criado para nós. Só se vai adiante com a crença de que somos infinitamente pequenos.”
Aceitar o “desconhecido” não importa vantagens... Só acredito no que, conscientemente, tenho nas mãos; o que não sei que tenho (se é possível) em verdade não há, para mim – um objeto não “percebido” pela sua mente, não existe para você.
Talvez o raciocínio seja outro: aquilo que temos nas mãos, mas não conhecemos seu valor; ou, se conhecemos, não o valorizamos tal como deveríamos. Justamente por isso a importância da “Teoria do conhecimento” Kantiana: valor ou importância são adjetivações de algo que antes precisa ser racionalizado, depreendido. Criativo, Monteiro Lobato um dia brincou que “só quem está sendo asfixiado aprende que o ar existe”. Não será assim com o amor, inclusive?
A citação que outro dia postei aqui, do jovem humilde que se tornou magnata do aço nos EUA (Andrew Carnegie), serve também pra ilustrar isso: inclusive na área relacional nossas decepções, desilusões e fracassos servem de aprendizado. E, feliz ou infelizmente, todos nós vamos viver derrotas amorosas – principalmente para nós mesmos, visto que “perder” o que “temos nas mãos” geralmente acontece em virtude de nossos próprios erros e desídia.
Aí mora o grande segredo que desemboca na serenidade: crescer. Como disse o mesmo Montaigne, “existem derrotas mais triunfantes que as vitórias”. E triunfar diante dos fracassos só depende de nós: “Quando você perder, não perca a lição.” (Tenzin Gyatno – “Dalai Lama”).
Bem, é isso.
Paz, uma ótima semana e obrigado pelas respostas; quanta falta sinto do exercício constante da dialética.
“Quem está com o estômago cheio rejeita até o mel; mas, para quem está com fome, até a comida amarga é doce.” (Pv 27:7)
Adorei a sua síntese, a partir de minha antítese; realmente, há derrotas mais triunfantes que as derrotas, às vezes perdemos aquilo que, de fato, não era o ideal para nós mesmos, até por que não nos merecia ou não queríamos tal como era.
Hoje em dia faço o julgo particular a partir de um viés: A permanência, a persistência, aquele que quer algo luta por esse algo, mesmo o sabendo não tão digno. Apenas o quer. Constantemente.
Valorizo quem persiste. Mesmo no erro. Como diria Leminski, "só o erro tem vez..."
Ótima dialética.
Obrigado.
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