terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Corpo e alma


Meu corpo tem sede da sua pele,
Minha alma contenta-se com a sua voz,
Meu corpo exige que se revele
E se entregue ao amor deixado pra trás.

Minha alma se exalta com o seu sorriso,
Mas dele preciso molhado em meus beijos;
Nosso amor se consome sem dor, nem juízo
E à noite sufoco-me em tantos desejos.

Na calmaria do amor te fiz poesias,
No calor da paixão suspiramos gemidos;
Quero teu corpo como nunca queria,
Quero ter esse sonho vivido.

Quero dormir em seu colo de tarde,
À noite possuo seu colo, seus seios;
Nosso amor é chama que arde,
Meus pensamentos são só devaneios.

Posso senti-la cálida, trêmula, envolvendo meu corpo todo,
Umedecendo-me com seus lábios quentes,
Como em uma noite fria de outubro,
Dois corpos amantes, ardentes.

Dormia tranqüilo de tarde,
Sonhava com tudo que me abrasa,
Sentia que alguém me acordava,
Acordei com você em minha casa.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

A penumbra do teu olhar


Era-me salutar contemplar a penumbra do teu olhar,
A meia luz do seu quarto a crepitar, crepitar...
E o encantamento do momento, devagar, devagar, devagar.

Ocorrera-me beijar, abraçar seu corpo na tumba a descansar,
Atendendo a voz do coração que retumba sem cessar,
Aquietar enfim essa alma que não cansa de vagar, de vagar, de vagar...


A luz da sala acesa ilumina o copo de vinho,
Você ébria e acesa, eu, rebelde, sozinho,
Todos muito distantes, mas todos no mesmo caminho.

Fico contente ao ver o amor proliferar,
Sem barreiras, reprimendas para quebrar,
Atingindo e passando como nuvem, devagar, devagar.



Hoje, o seu rosto só vejo em sonho,
O seu sorriso, o sonho não tem cores para exibi-lo,
Meu sonho é um mundo perfeito, um dia tranqüilo,
Que, infelizmente eu consciente não sei transmiti-lo.

Das mil faces que tu mostraste nenhuma eu vi chorar,
Mas era-me salutar o contemplar da penumbra do teu olhar,
Na meia luz do teu quarto a crepitar, crepitar...
... Aquietar enfim essa alma e parar de vagar, devagar, devagar.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Pode ser


Pode ser só perda de tempo o contratempo da dor da ruptura da asa de outrem.
Como digo, o tempo vai lento e adia o momento do amor que sutura a ferida de ontem.

Quero ferí-la pois é assim que posso sentir os seu ossos, sua carne, sua fibra;
Vou desferir golpes em seu rosto pra sentir o seu gosto na noite que vibra.

Pode até ser que eu pudesse e sua alma aquecesse e descesse ao fundo de qualquer vão que fosse.
Não que eu não quisesse que você me aquecesse ou não merecesse um lugar que não esse.

Mas não me prendo a você um só segundo, pois meu mundo é profundo e com o profano não cabe você.
Você me dá sono, prefiro o abandono onde me perco e me encontro e não acho você.

Pode ser só perda de tempo todo o momento da dor da ruptura da asa de alguém.
Como disse, o tempo vai lento e adia o tormento do amor que sutura as feridas de um ontem.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A flor da noite


"... É sim assim, olente como uma flor da noite,
Mas só se sente se se aproxima dela..."


E bem que queria, e deveria,
Se não fosse o desvario a correr pela espinha.
O desvario que me faz inerte ao tempo,
Ao tempo preciso em que mais precisei do seu sorriso.

Hoje lembro-me dela, aquela, terminava com ela;
Nem sei o tempo preciso em que terminava com ela.
Hoje nem sei o que preciso.

Faço invertido o sentido do que realmente preciso,
Dolorido como um dente do siso,
É relembrar cada dia sofrido ou vivido,
Sei lá, não sei dizer o que é isso.

Ao passo em que passam-se os dias, inadiavelmente sigo seus passos,
Inacreditavelmente o passado não passa. E eu o que faço?
Lembro-me novamente, é tudo “assim, olente como uma flor da noite, mas só se sente se se aproxima...”... Novamente, novamente.

O crime


Quem diria que a bebida acabaria?
Quem imaginava aquilo que tu pensavas?
Quem diria que a chama apagar-se-ia do cigarro que outrora fumavas?

Quem falou-me a respeito do respeito?
Quem ensinou-me o poder da sedução?
É difícil quando o amor vira o suspeito de um crime sem malicia e sem perdão.

Destarte, posso então reconfortar-lhe,
Afinal, o réu já se encontra aprisionado,
Devido aos seios protuberantes, um detalhe:
_nunca tenha um criminoso do seu lado!

Foi interessante vê-la debater-se inutilmente,
Foi interessante tê-la bruscamente, minha, nua,
Mais interessante foi mantê-la em correntes.
Deprimente. Testemunha? Só a lua.

Enquanto isso o amor dormindo estava,
Na cela que ela mesma edificou,
Realmente até minutos eu a amava,
Mas me deixar tão cruelmente...
_ Quem mandou?!?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Abandono



Hoje a noite é quente, deprimente, sem sono,
José perambula na sala, fumando, sonhando...
O pensamento mais vital é o abandono,
E o tempo vai passando.


A noite arrasta-se como uma pessoa baleada,
Sofrendo como quem vê a sua derrota,
Noite fria, como nós, abandonada,
Em breve, muito em breve estará morta.



Conversa com a caneta e com o papel,
Fala ao telefone, desligado,
Se liga nas estrelas, olha o céu,
Se sente num planeta, abandonado.

Sobe as escadas da decepção, é muito tédio!
Não tem a concepção da altitude,
Por falta de opção liga seu rádio,
Mas sua vida perdeu toda a amplitude.

Você está caindo em seu abismo,
Entregou-se facilmente como um tolo,
Não há faces, nem sorrisos, nem cinismo,
O abandono, amigo, agora é seu consolo.



Esses Dias


Mais feliz que gato desperto na sombra em dia de Corpus Christi.
Dias claros de sol e vontade de ir pra fazenda.

Como se a vida fosse um limiar eterno ou o miar de um gato desperto.

Quando fico perto da minha vida sinto-me em meio ao deserto.
No entanto sou todo chamas e de todos que me estão perto.

Queima-me o peito de não-sei-tanto-o-quê,
Não tem jeito é o novo de fronte para o novo de ontem que já se foi.
E os dias de manhãs.

Se vem o verão não sei se virão trazendo o inverno,
E se virão não sei se verão como estou esperto,
Verão o verão chegando com ares de inverno
E verão como viram o dia radiante e o gato desperto.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Eu e você nas trevas


Eu estou nas trevas
Nas trevas dos seus olhos negros
Se bem que me enxergas
Quando choro em meus olhos vermelhos.

Eu estou nas trevas
Nas trevas se fecho os olhos e te beijo,
Se estamos no escuro
Atrás desse muro se esconde o desejo.



Quando em meu quarto me encontro nas trevas,
Se apago a luz e ligo meu som,
Adoro então esse momento de trevas,
Onde penso em você e então fico bom.

Olhos castanhos, escuros, mas à noite tudo é negro,
Amores atrás de muros,
Mas isso é nosso segredo.
Nossa amizade é algo obscuro,
Nossa amizade é feita de medo.



É tão feliz ver-me refletido nas trevas do seu olhar,
E nesse momento adoro essas trevas,
Mais feliz é quando vens me buscar,
E à noite para as trevas me leva.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Indiferença...

O que vejo quando me olho no espelho?
As pessoas são tão alheias...
De quando em quando sentimos falta do que nem sabemos.
Abraçamos o espaço num abraço íntimo como se nos abraçásssemos todos juntos.

Estamos presos a mero desejos.
Consumimo-nos em beijos.
Como se isso nos completasse.
Querendo assumir uma vida outra.
querendo residir na alma alheia.

Queremos nos apoderar da residência contida num corpo perfumado.
Mas sem expulsá-la de seu lar...
Sinto em sua essência...
Pudera respirá-la...

DESCONEXO


Preciso me concentrar em algo sólido
Desconcentrar-me de coisas aéreas
Desconcertar-me em outras etéreas.

Solidificar-me como nuvens sensíveis
Empedrar massas volúveis
Engendrar sonhos voláteis
Acordar de brumas fantasmagóricas.

Soltar gritos no vácuo do espaço
Abraçar o espaço num átimo
Espantar-se com o ótimo inexato
Viajar pelo além do que é fato.

Sair de si mesmo sem nexo
Chegar ao orgasmo com sexo
Entender o ser humano complexo
Conectar-se ao que está desconexo.

Abraçar-se em almofadas e fadas
Abrasar-se em outras fadas
Acordar na retina líquida do real
Em camas de hotéis ou calçadas.

Sonhar é preciso, mas é preciso precisar a distância do sonho inexato
Feito em dias nublados

O Cemitério da Minha Terra


O cemitério da minha terra não tem palmeiras nem canta sabiá.
Tem eucaliptos e folhas secas e é só isso o que há.
No cemitério da minha terra tem vela e tem macumba.
No cemitério da minha terra tem gente fumando maconha.

No dia de finados serve pra namorar.
Com as transeuntes perfumadas visitando seus avós.

O cemitério da minha terra é terra e poesia.
Tem placas apagadas de joãos, Josés e Marias.
De quando em quando eu o visito mesmo com calafrios.
Às vezes vejo marginais pichando os mármores frios.

Conheci uma menina nos lajedos que nem havia.
Caminhando sorrateira flertando sem compromisso.
Jogando seus cabelos soando nauseabundos.
encantando todo o mundo inclusive os mortos-vivos.

Há um cheiro perseguidor de flor e vela queimando.
Confundindo as pessoas que parecem andar flutuando.
Tem missa de vez em quando, tem festas particulares.
Depois do dia de todos os santos apareço por lá, caminhando.

Mas finalizo esse depoimento, ou poema ou poesia.
Sacramentado pela honestidade que no fundo do meu peito se desenterra.
Tão gélido quanto o cimento, a brita e a cal constante nos túmulos.
É a saudade que tenho das pessoas e do cemitério da minha terra.

Quem sou eu???


Bom, vou me apresentar inicialmente como Alessandro Vargas.
Tentativa de iconoclasta.
Gostaria de ser.
No entanto vivo à mercê de minhas frivolidades, e me crêem, profundo.
Fugitivo das circunstâncias, e não obstante, vítima delas.
Protetor das almas que me circundam. Acolho sem pundonor algum.
Me julgam até leviano, mas todos merecem atenção, seja quem for. Seja o que seja. Creio.
A gente é responsável pelo que cativa, dizem.
No entanto a clausura é segurança para alguns.
Há quem viva da prisão por opção.
Sentir-se-á inseguro frente à liberdade.
As algemas o protegem de si mesmo.

Dou esperança... Porque por enquanto é o que tenho a dar.

Julgam-me tolo, insensível...
A sensibilidade está em ser plural, multifacetado....
... Alegrando quem quiser.

Vou finalizar por aqui.
Não fui óbvio.
Nunca sou.
Sou eu mesmo.
Eu mesmo.

Eu sou eu e minhas circunstâncias.

Alguém disse isso, não fui eu. Mas logo me lembro e o reconhecerei.
Bela definição...
Por enquanto é isso...