terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Quero Ver


Eu queria ver seu sorriso em um dia nublado
Queria ver seu beijo apaixonado ao sol do meio-dia
Queria ver sua dança ao som de um som quebrado
Queria ver se frente a morte restaria sua ironia.

Quero ver se apaixonada ainda resta traição
Se frente a sua mãe demonstra leviandade
Parando o coração, você sentir qualquer paixão
E sozinha neste mundo, amar alguém de verdade.

Quero ver se morando longe alguém a leva pra casa
Quero ver você sonhar com insônia a noite inteira
Quero ver você voar com apenas uma asa
Quero ver fazer pedido sem cair nenhuma estrela.

Ver você ignorar alguém de costas pra ti
Ver você chorar quando acabarem suas lágrimas
Ver você chorar quando todo o mundo ri
Confidenciar em seu diário quando acabarem suas páginas.

Quando quiser voltar atrás e você já se perdeu
Quer um novo caminho, mas outra estrada não há
Sentir saudade de alguém e esse alguém sou eu
Quando lembrar então de mim, eu não estarei lá.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Uma Visão

• Excertos de Jorge Mautner ( * ) extraídos da obra “A mitologia do Kaos”

O sexo é o amor e tem que existir. *
Sei que se te visse num campo ermo não iria resistir
Faria o amor prevalecer
Faria bem ali.

Esses dias atrás me perdi em uma visão de você quando te observava
Você sobre mim, envolto em ti só os lençóis em suas pernas e a luz lunar azulada.

Você sobre mim com sua dança,
E a dança é o movimento de tudo*
A dança a qual não se cansa
De um ritmo forte e mudo.

Tão magra e pálida sob o sol da noite encantada
Eu guiava sua dança com as mãos na cintura fina e tão cálida
Apoiavas as mãos em meu peito suado e viril
E fechavas os olhos em um transe louco e febril.

Nossos corpos deslizam no suor que o fato extrai.
E o suor é o cimento da carne*.
Somos um só corpo, bicolor, mas somos iguais
Envoltos, sob o manto lunar que protege todos nós.

sábado, 20 de dezembro de 2008

A Faxina


Hoje começa a faxina
Não é bom tudo de novo?
Digo, tudo novo!
Acabou-se a rotina
Pelo menos renovo

Preciso livrar-me de tantos objetos
Preciso livrar-me de outros abjetos
Preciso esquecer-me que já fui um destes...
Preciso acordar amanhã e esquecer-te...

Não como esquece-se um livro
Num banco de praça ou num bar
Mas como uma ave que livro
Ou como uma mãe ao ver filho acampar...

Mas aqui findo-me breve
Digo, findo isto aqui agora...
Não há razão de alarde...
Muito menos por que de demora

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Qualquer proposição seria mero despropósito


Qualquer proposição seria mero despropósito
É pura volúpia mesmo
Sem propósito.

Se tudo desandasse sem freios nas rodas
Feito trem esquivo do trilho
Feio como mãe sem filho.

Qualquer achaque é dose sem remédio
O remédio seria uma dose de conhaque
Para curar tédio.

Sempre tento me convencer que tenho de tê-la
Mesmo não tendo nenhum tento
Mas o intento é o que vale
Mesmo não tendo vale.

Tudo o que ronda é deletério e incomoda
E me incomodo com tudo aquilo que me ronda
Mesmo sendo a sombra inerte que sobra
Não confio no que incomoda.

Na verdade falo tudo sem crédito
Não acredito em quem começa falando na verdade
Seria ou será um joguete do óbvio
Pois qualquer proposição seria mero despropósito.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Traços e tormentos


Tem gente que não dá pra olhar muito tempo
Pois se pode incorrer em tormento
Repara-se no alinhamento dos traços
Perde-se em um só momento.

Encare face a face se puder
Eu não pediria tal coisa
Quem perde-se a observar mulher
Pede para perder.

Ganha nos argumentos
Sofre nas teimosias
Mas se se coloca alma em jogo
Derrotado seria.

Lança um olhar de desejo
Avança sobre o objeto, destemida,
Une forças contra o possível beijo
Resta possuí-la.

Anima-se com a utopia
Sofre com novos intentos
Acorda pra ver o dia
Esquece os tormentos.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Talvez seja


Talvez seja hora de se arrastar
Que nem se deixar levar
Não se arrastar por outros
Mas devastar

Talvez seja hora de detonar
Com os explosivos nos preceitos
Talvez seja hora de arrasar
Sem distintivos no peito

Talvez seja hora de não mais talvez
Quem sabe seja isso
Talvez seja hora de não mais te ver
Talvez seja omisso

Talvez acabe de vez de me julgar
Talvez pare com esses desejos
Talvez pare de vez de te ligar
Talvez possa viver sem teus beijos

Talvez amargue o dissabor de não mais
Talvez nunca mais te veja
Talvez possa ser isso ou algo mais
Talvez não seja isso ou talvez seja...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Parece pouco


O amor bate em nossas costas
Com seu açoite esgarçante
A dor não importa
A noite é gigante

Senti a dor aguda na alma
Corri no seu encalço
A noite ferida de trauma
Um passo em falso

Agonia e aflição e loucura
Misturados com chuva forte
Histeria negação e tortura
A mistura da morte

Parece pouco mas não se se é quase louco
Não se brinca com o desconhecido
Parece louco mas aumente mais um pouco
Aí sim tens a porção do perigo

Parece pouco mas não se se é quase louco...

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

É com máscaras que conhecemos as pessoas


É com máscaras que conhecemos as pessoas
Mas um dia elas caem
As máscaras e as pessoas
É sem máscaras que reconhecemos as pessoas
Mesmo de madrugada.

Não há lógica, nem métrica, nem nexo
Nem desabafo
Nem mágica, nem estética, nem sexo
Eu acho.

Quase como achar agulha num palheiro
Mas a gente brinca e pula nas palhas
A gente brinca e pula o dia inteiro
Acha mesmo. Não há falha.

É com máscaras que conhecemos as pessoas
Mas são tantas alegorias
E sem máscaras reconhecemos as pessoas
Nem tantas alegrias

Dou uma pausa por agora
Mas não acaba
Às vezes demora
Mas não é nada.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Por que não consigo?


Por que não consigo dizer que quero tê-la?
Por que não vês que quero amar-te?
O que eu faço para convencê-la de que não consigo ficar mais um dia sem beijar-te?

Por que não consigo me expressar quando te vejo?
Por que te desejo dessa forma, desse jeito?
Por que não consigo te dizer que quero um beijo?
Por que não consigo te explicar o que eu desejo?

É tanto que quero de você, mas não posso explicar,
Só te amando saberias o que sinto,
Sentirias o que eu quero ao te beijar,
Saberias com meu beijo que não minto.

Por que não consigo parar de te olhar?
Quero tê-la mais que segundos de seus beijos,
Quero tê-la do momento em que acordar
Até o momento em que dormir com seus segredos.

Quero sentir, ao te beijar, seu respirar;
No silêncio, ouvir bater seu coração,
Por favor, me dê uma chance de te amar,
Por favor, acredite em mim, não diga não.

sábado, 22 de novembro de 2008

Acordar


Um copo de conhaque é o remédio
Para remediar a situação insuportável,
Para despetalar docemente a flor do tédio,
Para tornar a condição mais razoável.

Mas não, nada muda, tudo é igual,
Nada desvanece o sentimento de estar deslocado,
É simples assim, é sim natural,
No momento em que se vê acordado.

Queria virar a mesa do mundo,
Chutar tudo para o alto,
Entrar em um sono profundo,
Acordar feliz em meu quarto.

Fechar os olhos para dormir,
Esquecer de toda essa gente,
Acordar, começar a sorrir,
Com o mundo feliz, diferente.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Sofrer & viver


Nenhuma dor para me inspirar,
Nem consciência do existir,
Sem ar pra respirar,
Sem motivo pra fugir.

Nenhum romance para lembrar,
Só esperar o que está por vir,
Sem ar, sem ar...
Cem motivos para sorrir.

Sofrer é saber que está vivendo,
Sentir a vida pulsando,
Passando correndo,
Pulando.

O difícil é saber tudo tão longe,
Sem discussão dos tormentos,
Pergunto-me sempre “onde?”,
E o que ouço são só ventos.

Viver é saber que estás crescendo,
Sentir a vida pulsando,
Passando correndo,
Pulando.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Canto ao Pranto da Chuva


Caiu o pranto desesperado da chuva,
E um soluçar desesperador,
Como um canto resignado ao acaso,
Em um canto do corredor.

Tem telhado, mas vazam gotas no lugar inóspito,
Gotas gélidas de lembranças atrozes.
Tem telhado, mas vazam gotas no lugar, repito;
E à noite o farfalhar de vozes.

Na calçada, à tarde, a chuva cai que arde,
Três pessoas, que não eu, discutem em minha mente,
Na calada da noite o sono ataca, covarde.
Tarde da noite o mundo é inconsciente.

Cai o pranto desesperado,
Chovem gotas sobre o teto furado,
Escorrem lágrimas pelo telhado
Em um dia nublado.

Alguém te persegue, você corre,
E o vento sopra desesperador,
Se não consegue você morre
Em um canto do corredor.

Seus sonhos são ilusões perturbadoras,
Mas é notável a grandiloqüência dos fatos,
As noites são consoladoras,
Os dias inexatos.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Flores no cabelo


Não sei se já relatei quando a vi com flores no cabelo,
Pelo que sei queria amá-la, mas não sei como fazê-lo.
Um dia a mais, sem dia a menos, o dia vai lento.

Por brincar tanto de beijar acho que a amo,
Tem um mês que te vi, chego a pensar que faz um ano,
Tentei te aprisionar e acabei me aprisionando.

Sinto falta da sua elegância, dos seus lábios, seu aroma,
Entrei num sonho um dia à tarde, acordei, por ti em coma.
Talvez não haja mais ninguém, só você à minha volta.

Eu queria agora amá-la, mas não sei como fazê-lo,
Vou fazer as minhas malas, quem sabe possa vê-la,
Não consigo mais não tê-la, isso tudo é pesadelo,
Mas amei desde que a vi com aquelas flores no cabelo.

domingo, 2 de novembro de 2008

Clarice


Estou sonâmbulo e vivo acordado,... E como vivo!
Abate-se uma amargura que traz feiúra a cara,
Faz três ontens que se repetem no hoje.
A amargura não se dissipara.

Primeiro dia do mês e ainda não chegou minha vez!
Sei que o dia passa mal e mal,
Algum amigo meu aniversaria hoje, mas não sei qual.

Dia dos namorados passou e eu como sempre abandonado,
Sonâmbulo, vivo “e como vivo!” e acordado...
... Estou tão acordado que quando durmo ouço o som ligado ao lado.

Não sei se amanhã é sexta ou se é sábado,
Não estou ébrio, estou meio acabado.

Hoje a lua é redonda e brilha e como!
Comê-la-ei tanto que diminuirá no decorrer da semana.
Ando sonâmbulo tanto que fico até tonto,
Agora sei do que Clarice estava falando.

Coitadinha, era sonâmbula e viva e acordada até dormindo,
Andava pela cozinha e sozinha olhando o mundo do vidro.
Ou vive-se bem e dorme-se bem e sê normal,
Ou dorme-se mal, vive-se mal, mas conhece-se de tudo e coisa e tal.

Hoje olhando essa lua imaginei que ela sorrisse,
Andando sozinho na rua, sonâmbulando, pensando em Clarice.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Contraposição


Um sobe e desce descomunal
Como se nada acontecesse,
Como se fosse normal
Tanto sobe e desce como esse.

Altos e baixos; prédios e casas.
E como nada muda ou mudasse
Joguei cartas.

Nem sorte, nem nada,
Um sobe e desce de escada;
Antes tudo mudava,
Agora só muda a palavra.

Tudo vai, não volta,
Mas sobe-se e desce-se no caminho,
Abre-se e fecham-se portas,
Mas ainda resta porta e caminho.

Tudo dá certo no fim,
Mas se é fim, porque há razão se dar certo?
Isso não é certo pra mim
“Se não deu certo é porque não chegou o fim”.

No fim nada importa.
É um sobe e desce nessa vida,
Se fecha-se a porta,
Não haverá mais saída.

Vai e não volta, um sobe e desce descomunal,
No fim nada importa,
Como se fosse normal
Tanto sobe e desce,
Bom e mau.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A ventura


Eu e meus pensamentos incertos, confusos.
Pensamentos são tormentos, são como os dias. Lentos, lentos.
A solidão é necessidade da alma,
Tal qual a dor é a certeza do amor.
O dia vai lento. A noite é uma flor.

A estrada é poeirenta, mas a ventura é olente,
Parece nostalgia, mas já é novembro,
Dos sonhos que tive, nenhum eu me lembro.

Se existiu amor, não posso sentir. Se se sentia, já faz muito tempo.
O tempo passou,... Outubro, novembro.

Claustrofobia, isso aqui não é vida!
Trancou-me sozinho no esquecimento,
Enfim chega o fim. Dezembro,... Dezembro!

Cem quilômetros da incerteza pungente,
Sem inocência, sem rosto rubro.
Cento e cinqüenta e três dias para trinta e um de outubro.

Eu e meus pensamentos levados por ventos para longe daqui,
Lugares distantes em poucos instantes.
Mas nada como antes.

O coração pulsa pedindo solidão,
Em um pulsar desvairado de amor,
O futuro incerto, bem certo só dor... Dor e mais dor.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Ela não olha pra trás


Ela não olha pra trás,
Para ela passado não há.
Ela não olha pra trás,
Pois passos não voltam mais.

Gosto como arruma o cabelo,
Gosto simplesmente de vê-lo,
Admiro todo o seu corpo,
Que sei nunca vou tê-lo.

Mas ela não olha pra trás,
Não olha de jeito nenhum,
Mesmo quando eu fico pra trás,
Ela não olha pra mim.

De longe a vejo arrumando o cabelo,
Este que sei, não vou tê-lo,
Exibindo seu corpo pequeno
Que mais longe, sei não vou vê-lo,
Os passos não voltam mais,
E ela não olha pra trás.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A dúvida da primeira vista.


Meu coração ainda me trai,
Julgava-o incapaz de inquietar-se novamente,
Último amor então se esvai,
Mas não sai a dor pungente.

E não se quebra a dor tão fácil,
A lembrança fica, ela não some,
O amor não é volátil,
Nada se evola ou se consome.

Fica a dúvida da primeira vista,
Não sei julgar pela impressão,
A não ser que se persista,
Ou a não ser que não.

O corpo todo responde a esse impulso,
Mas não se altera o pulso da vida,
A alma empalidece, desce o sangue no pulso,
E cresce a viva ferida.

Uma palavra resolveria tudo,
Mas que saia de ti, do fundo da alma,
Eu com você fico mudo,
E se não mudo é porque falta calma.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

31 de outubro


O fim do mês de outubro tende a ser confuso,
Entra novembro e me lembro de tudo.
O dia das bruxas é o dia mais duro,
Foi o fim de tudo, mas não é o fim do mundo.

Se eu sou um eterno insatisfeito,
Não faço um inferno na vida dos outros,
Nunca enxerguei seus defeitos,
E deixei os desejos soltos.

Não trancafiei seus sorrisos,
Ora indecisos, e preciso deles,
No inferno um ataque de risos
Da minha angústia de todos os meses.

Pintando palavras na frente da tela,
Mandando mensagens para uma face opaca,
Luzes apagadas e luzes de velas,
Iluminam seu rosto, sua vida, mais nada.

Agora os sonhos são mornos como o chuveiro,
A loucura passou como as flores são murchas,
O ano vai tombando em um despenhadeiro,
Mas as dores são duras no dia das bruxas.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O que preciso...


Preciso de um banho de praia
De água gelada
Preciso de um banco na praça
E vento na cara

Preciso confiar em alguém
Mesmo que em mim mesmo
Preciso chegar além
Mesmo que seja a esmo

Preciso de um banho de chuva
Preciso de um amor primeiro
Não preciso de guarda-chuva
Muito menos de muito dinheiro

Preciso de mãos dadas
Preciso de caminhada
Não precisam muitas palavras
Não falta mais quase nada

Preciso andar sozinho
E areia entre os dedos
Preciso fazer caminho
E dizer adeus para os medos

Sem dizer um adeus
Obsessões para trás
Sozinho e com Deus
Em busca da paz

quarta-feira, 15 de outubro de 2008


"Gostaria que apostasse em quem te ronda,
mesmo sendo apenas uma sombra do que podes desejar
Gostaria que abrisse seus braços e se deixasse levar como numa loucura de amar improvável...
Saudável como ondas do mar..."

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Destroços


Sei o quanto posso ferí-la
Mas amar não sei se posso
Sei que se amar só vou destruí-la
Depois não amarei destroços

A culpa é vã, o pecado capital, a dor é triste!
O momento profano
O ardor natural
O sofrimento inexiste.

Um simulacro de vida
Um sepulcro vilipendiado
É o coração em carne viva quando é abandonado.

A carne perfeita, cor-de-lua-cheia
Que tange a minha toda
E penetra nas veias.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Planador de Passageiros


É desculpa pra analfabeto...
É desculpa pra analfabeto...
O negócio já começou.
O negócio já começou.

É planador.
É planador.
Incrível queda livre.
É plena dor.
É plena dor.
Indescritível.

Sustentou-se em nuvens voláteis.
Agora aguenta as pontas.
Sabe-se os últimos dias.
O que me contas?

Mais cedo ou mais tarde viria.
Sabe-se-lhes na boca do leão.
Bem que mo diziam.
Se bem que uns diziam que não.

É planador de passageiros.
E ainda falta vento.
Sem motor ou paraquedas.
Mau tempo.

Sem rebocador.
Sem rebocar dor.
É plena dor.
É plana a dor.

Deve-se desculpas pr'os analfabetos.
Por não lhos terem aberto os olhos.
Por eles não serem os prediletos.
Por lhes furarem os olhos pelas costas.

Pelo voto de cabresto.
Por quem não presta.
Pelo julgo do incesto.
Pela catequese.

Planador cabe só um.
Aqui tem gente demais.
Queda livre em comum.
E ainda vem mais.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Poema do Desacordo Ortográfico


Não tenho mais idéia
Nem existe ato heróico
Muito menos assembléias
Eles não vêem mais paranóicos

Feiúra já não existe
É a nova cara do Brasil
Amazônia ainda resiste
Mas a jibóia se aboliu

Eles não crêem mais na gente
Eles não lêem mais artigos
Eles parecem bem contentes
Mas e você aí amigo?

Não sei se vou ou vou na boa
Só sei que não levanto mais meus vôos
E que de barco ou de canoa
Não me acometo mais de enjôos

Estão extinguindo mesmo com tudo
Lingüiças, sagüis e pingüins...
A qualquer hora muda-se o mundo
E ao invés de por tiram os pingos dos is

O que era constante não é mais freqüente
Mesmo assim se acostuma
Ainda mais se inteligente
O brasileiro se apruma

Mas agora é vida nova
É pegar a autoestrada
Ou até mesmo o paraquedas
Mas primeiro a autoescola
Acrescentar algumas letras
O dicionário está na moda
Não está achando uma boa ideia?

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Aquele que seguia sombras


Já não é mais aquele que seguia sombras
Nem companhias boas de beber vinho
Já não é mais desses de residir penumbras
Nem faz mais daquelas de investir sozinho

Não chega mais ao raiar do dia
Não é mais amigo das incertezas
Não chega perto de onde antes ia
Não procura em tudo toda a beleza

Ele é o transgressor das gerações
Todos passam, ele permanece
Ele é o gerador das transgressões
Ele falha, mas não recrudesce

Talvez inove de quando em quando
Mas não mais aquele de iludir o mundo
O tempo passa e ele vai passando
Não se sente mais o que é no fundo

Não mais comícios, beijos e praças
Não faz mais nada que antes fazia
Não vê sorrisos, não vê mais graça
Fugiu a alma que aqui jazia

Age como antes só de quando em vez
Foge quase sempre quando é muito sério
Vive muito tempo quando muito um mês
Se mais que isso já é deletério

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A Raposa Felpuda


Ele é o lobo em pele de cordeiro
A raposa felpuda
Tem pontaria certeira de arqueiro
Ávida e astuta

Sente a ponta da flecha na carne
Remexa na brasa
Sinta a vida escorrer em seu cerne
O fio da navalha

Tem as garras das aves de rapina
Sobrevoa bem alto
Um visão mais nobre do que se imagina
Agarra de assalto

Ele é o lobo vestido em casaca de cordeiro
Que matou para vestir-se
Ela é a flecha morteira e certeira do arqueiro
Que insiste em ferir-me

Tem dom de sobra e só não dobra quem não quer
É força bruta
Tem som de cobra e não se cobra por mulher
Dá o tom da luta

Apesar de lobo sabe o jogo e a presa estuda
Veste-se carneiro prepara as presas bem agudas
Mas o lobo é bobo não sabe o quanto ela o escruta
É fiel do arqueiro e não se brinca com a raposa astuta

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

21:40

Excerto de "Velhos Invernos e Dias de Diamantes"

Pude sentir sua presença no ar,
Pude pagar cada palavra que disse,
Não sabes, nem sei o que é amar,
Mas não pedi que você conseguisse
Ou tentasse só me beijar
Pra não viver essa vida tão triste.

Eu viajo até sua casa,
Posso te ver inquieta infeliz
De madrugada, no sofá de sua sala,
Assistindo para se distrair.
Se tentar ainda ouço sua fala,
Mas não consigo vê-la sorrir.

Se pudesse nunca mais te veria,
Se pudesse eu corria de volta,
Mas não sei se eu te faria compreender essa minha revolta.
E será que você sofreria ao ver o amor sair pela porta?

Você não poderá me esquecer
Com um livro, uma carta, um cd,
Em tudo sempre vais ver
A mim como eu vejo você.

Mas não vai me procurar
Porque não quer dar o braço a torcer,
Mas um dia você vai se cansar
Se cansar de tanto sofrer
De tanto sofrer por amar
Amar como eu amo você.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Volátil (poema feito noise)



Maconha, marijuana, Cannabis, sensimilla
Papoula, cachaça, absinto, losna e artemísia

Cicuta, cigarro, cianoreto...
Éter...
Volátil e perfeito...
Etéreo
Já sob efeito...

Maconha, marijuana, Cannabis, sensimilla
Papoula, cachaça, absinto, losna e artemísia

Sexo, unha, limpeza e prazer
Café, trabalho, comida e morrer

Disputa, troféu, jogo e derrota
Come, dorme, acorda e nem nota

Fumaça de carro, cigarro e batalha
Cigarras no ouvido
Cigarras, cigarras...

Maconha, marijuana, Cannabis, sensimilla
Papoula, cachaça, absinto, losna e artemísia

Dorflex, anador e corda no pescoço
Alivia a dor, ali vem a dor, alicia a dor como reforço

Diazepam, Diazepam
Essa gente tão pagã
Diazepam, Diazepam
Não existe vida sã

Maconha, marijuana, Cannabis, sensimilla
Papoula, cachaça, absinto, losna e artemísia

Esse poema é feito noise...
Esse poema é feito noise...

Vida Sensitiva


Um feixe de luz
Escapa por entre os galhos
Provando que a vida reluz
Faz piscar os olhos

Um átimo
Perplexo
No espelho d'água
Reflexo

Um peixe salta
Rasga o véu d'água
Invade o espaço alheio, peralta
Naufraga

As imagens são nítidas
Entre luz e sombra
Vida sensitiva
Já não mais assombra

Já não mais a sombra...

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Dias Inteiros

Dedicado a José Afonso Alberton

Hoje estou aqui lembrando seus olhos verdadeiros,
Seu jeito de não me incomode,
Seu tempo em tantos cinzeiros.

Seus lábios têm sabor de licor. Campari rubro.
Em seu copo olha um mundo torto,
Se eu olhar eu descubro.

Nosso mundo é profundo de vozes como um rádio noturno,
Sei que há mais que fumaça entre nós.
Nosso mundo é soturno.

Seus pensamentos vão e voltam-se contra seus ideais,
Procurou tanto que achou alegria
Em dias normais.

É hipocrisia dizer que tudo foi contra nós,
Contra você em sua vida,
E comigo logo após.

No entanto nos achamos solitários na metrópole dos sonhos,
Nos perdemos de todos.
E dias estranhos.

Ontem eu estava aqui comigo mesmo, lembrando seus olhos verdes verdadeiros,
Seu jeito de não me incomode,
Nossos dias inteiros.

Os lábios são sábios


Incita-me à contenda
Cicia-me desejos burlescos
Mostre-me a recompensa
Que realizo seus pensamentos

Dê-me o sabor latente
Que sirvo-te da melhor vivenda
Sabes ainda lactente
Sei que não és fazenda

Desvele-me como beata
Revele-se como queira
Mostre-me a maçã intacta
Que sugo-lhe até a seiva

Sinta o amor pulsante
A paranóia, o frenesi
Promovo-lhe uma dor pungente
Que nem mesmo algum dia senti

Descubra a protuberância maior
Cálice dos meus desejos, rotundo
Uma sobremesa após o jantar
Ágape dos deuses do mundo

E agora estamos deitados
Apartados e unidos no mesmo afã
Cada um para o seu lado
Lados contrários, mas causa irmã

O deleite é alvo e pinta os lábios
Os lábios são sábios e o sabem sadios
Os ânimos aquecem, minutos mágicos
O sangue efervesce e recomeça o delírio

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O Aroma


É um aroma de aventura
Olente como certos fluidos
Não como esses que por aí se apura
Mas de uns que vem seguidos de risos

É um torpor de torcer sentidos
É um odor que me agrada infante
Uma alegria que extrai gemidos
Uma sensação de prazer constante

Impulsiona e pula aqui no meu peito
Com seu sorriso pueril me enlaça
Nas adversidades dá-se um jeito
E como ela não há quem faça

Se suamos é de peripécia
Se amamos é da cabeça aos pés
Se jogamos? Sim só jogamos
Mas nosso jogo é bem mais que dez

Tão leve que adorno em uma mão
Capaz de todas as ilicitudes pra sua idade
Tão breve mas não em vão
Capaz de todas as virtudes que aqui se sabe

Não sei se sabe que tem o aroma das aventuras
Só sei que sabe que não apostei quando devia
Não sei se sabe como adorei as nossas loucuras
Só sei que não cabe mais em seus olhos o que antes via.

O ontem, o hoje...



Tão calmo quanto um cemitério
Tão estável quanto posso...
O tempo é deletério
O tempo é amigo nosso

O ontem na tumba
O hoje é a vida
Ainda não assombra
A vinda da ida

Menos fracasso que antes
Instável feito terremoto
Já não é como era antes
Mas não me importo

Não sou inerte ao fator do tempo
Nem tento mais ou menos que antes
Não sei a quanto está o motor do tempo
Nem sei agora o que virá adiante

Às vezes, alheio, de soslaio olho
As águas passadas do meu barco a vela
Digo não posso, mas enfim me molho
Pois as venturas se fizeram belas

O ontem não vive
O retrovisor
O hoje é quem vive
Mas se bem que retrô.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Uma nova gente, um novo dia...


Nada como um dia novo
Nada como uma pá de terra
Nada como um dia o novo
Nada como uma nova era

E um balde de água fria
E um sol bem quente
E um novo dia
E uma nova gente

Quebrar a cara
Murro em ponta de faca
Entortar a vara
Muros com pontas de facas

Ilusões debalde
Um balde de água fria
Uma nova gente
E um novo dia

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

LHC - The End Of Times


A máquina do fim do mundo já está ligada
Pode causar tumulto
Como pode causar nada

Não estou aflito com a novidade
Continuo aqui com meus livros
E ansiedade

Disseram que não é como ligar
A batedeira na tomada
É a maior máquina que existe
A maior máquina pra nada

Como se deu o Big Bang?
É o que queremos saber
Criaremos o nosso também
Estaremos lá para ver?

Agora sim vão dizer que enlouqueci
Que virei um fundamentalista
Ou então que me converti
A algo não provado que exista

Mas tudo bem sou acostumado com isso
Continuo na minha batalha
Julgado, mas não por omisso
Maluco ou coisa que o valha

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Provas de Amor


É fácil exigir provas de amor,
Difícil é se submeter...
É fácil trocar momentos de dor,
Difícil é se comprometer...

É fácil tirar a roupa,
Difícil é tirar a máscara...
É fácil viver uma vida outra,
Difícil é mostrar a cara...

A felicidade não está nos dias atípicos...
Nem na fugacidade da saudade...
A verdade encontra-se nos momentos críticos...
Aí se encontra a verdade.

Se quiser fazer algo de má vontade, não faça.
Se quer viver algo pela metade, não viva.
Se quer algo de qualidade, então faça.
Se quiser me contar a verdade, me liga.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Antecipação


Há que extravasar
Senão estoura
Não é nada demais
Você que exagera

As preocupações
As aflições
As boas lições
As perturbações

Tudo na mesma panela
Entupido até a tampa
Nem vai à fresca janela
Já nem janta

O exemplo
O momento
O tormento
O intento

E virá
Você que nem sabe
Talvez que nem leu
E talvez nunca o saiba

terça-feira, 2 de setembro de 2008

No Meio de Um Coração

(Dedicado a R. S. O. G.)

Escreveu o meu nome no meio de um coração
Irá se apagar, logo vai se apagar...
O vento sopra, o vento é vilão,
Escreveu o meu nome na beira do mar...

Escreveu o meu nome na areia da praia,
Escreveu o meu nome na caneta do dedo,
Escreveu o meu nome porque vai se apagar,
Escreveu o meu nome porque não tinha medo.

Tinha solidão, mas companhia do mar,
Fazia tempo que assim se sentia,
O vento, vilão, a cantar, a cantar,
Por isso escreveu-me na beira mar.

Deixou-se sozinha um minuto a pensar,
Enquanto isso, a maresia;
Escreveu o meu nome, sem ver, nem pensar,
Escreveu o meu nome porque a mim só sentia.

Deixou-me sozinho, quer dizer, o meu nome,
E logo após isso, pôs-se a caminhar,
Na areia da praia tudo se consome,
por isso escreveu-me na areia do mar.

sábado, 30 de agosto de 2008

Essa noite


Essa noite fiquei no meio da rua
Olhando para o céu, pra ver se era abduzido;
Essa noite mergulhei num copo d'água
Porque as outras águas já não tem me seduzido

Essa noite sentei-me na calçada
Como senta um engraxate ou como senta um bom mendigo;
Essa noite senti o vento, o nada
Batendo na minha cara sem violência e sem perigo

Essa noite era eu as folhas secas, rodopiando com o vento
Esse vento de setembro,
Mesmo assim não me contento, muito menos me lamento,
É agosto, sim, me lembro

A dor bate pungente, mesmo assim a festa adentro,
Mesmo assim o peito queima;
O amor bate na gente, uma dor que vai lá dentro,
Um amor que tosco, teima.

Essa noite não quero dormir, mesmo assim há o cansaço,
Mesmo assim existe o sofrer;
Sei que não vão me abduzir, pois não se interessam pelo que faço,
Assim como você

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A Devassidão

(Letra/ Música: Alessandro Vargas)

Dedicado a Michael Herbert


Se não há remédio pra sua dor
arrume outro amor
Se em sua vida só há problemas,
finja que não há

Se ela ligar no meio da noite
não atenda o telefone;
Se ela falar que lembra de ti,
você diz que nem lembra o seu nome

Para evitar de se lembrar das noites perdidas, da dor de cabeça
que ela um dia tanto lhe causou...

"Diga que vai viajar,
Diga que nunca mais vai voltar,
Diga que arrumou um emprego
E que agora sim, está tudo bem..."

Se ela falar de amizade, você não fale não,
Se ela falar sobre amor de verdade, você fale em traição...

Pois como pode tanta beleza desprezar romance e pureza e só pensar...
... Em devassidão...

"Diga que vai viajar,
Diga que nunca mais vai voltar,
Diga que arrumou um emprego
Que agora sim, está tudo bem...

Diga que vai viajar,
Diga que nunca mais vai voltar,
Diga que arrumou um emprego
E que agora sim, está tudo bem..."