quarta-feira, 26 de maio de 2010

Esses e Aqueles


Amo o amigo que faz complô,
Amo o amigo que não é robô.

Amo aquele das controvérsias,
Amo aquele que me prega peças.

Gosto daquele das desavenças,
Melhor é-me ainda o fujão das crenças.

Não aprecio tanto o que me defende,
Mas mais ainda o que, enfim, compreende.

Não sou dado a esses dos elogios,
Mas mais daqueles de olhar sombrio.

Não me agrada aquele que da briga foge,
Me alegro desse que mata ou morre.

Sou mais esses de escudo e espada,
Do que o afago de hostis palavras.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Vidas em Jogo (Quase um soneto)

Quando a conheci já era insana,
Mas muito bem a mim fazia;
Não compreendia toda a trama,
Enquanto eu já enlouquecia.

E entre mimos, risos e choros,
Ao mesmo tempo, embaraçados;
Entre lágrimas, suspiros e gozos
Acordávamos, enfim, abraçados.

Sorriso infante, andar mais ainda,
Não sabia o risco que a mim despertava,
Talvez da minha vida, a moça mais linda,
Melhor se acordasse enquanto ainda sonhava.

Presentes, passados, vidas em jogo,
E vidas duplas de um lado e de outro;
Traição, depressão, mentiras e fogo,
E muita culpa aliada ao pecado.

Um soneto imperfeito de amor e de ódio,
Infelizmente são essas palavras,
Hoje inexiste qualquer dor ou imbróglio,
Mas ainda persiste o som das suas risadas.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O Jugo


O Senhor dos exércitos livrou-me
Do cárcere e das grades aterradoras,
Dos pareceres poupou-me,
E das masmorras perturbadoras.

Quebrou os grilhões invisíveis da alma,
Curou as enfermidades do coração,
Apagou do passado o trauma,
Apacentou o cordeiro fujão (vilão).

Todas as noites fizeram-se dia,
Todas as lendas fizeram-se tolas,
Todas as contendas submergiram
Em águas purificadoras.

Outros provarão os desgostos
Do jugo impreciso, antecipado,
Mostrar-me-á o Senhor os seus rostos,
Como prova e presente ao passado.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Simbiose



E as pessoas dizem por aí:
_ Olha, ele ainda vive!
E botam seu nome no Google...
Um sonho que nunca tive.

E lembra-se de brincadeiras,
Entre praças e bem-me-quer,
Toques em dormideiras,
Esconde-esconde em canto qualquer.

Entre castelos andam ainda,
E dizem meu nome em vitupérios,
Mesmo que tarde da noite se finda,
Meus perjúrios são deletérios.

E há acromanias por toda a parte,
Nas retinas, em nós, simbiose,
Ignora-se a chama que arde,
E na válvula cardíaca, necrose.

Uns dizem dele hipérbole,
Outros o veem cataclisma,
Uns temem dele overdose,
Outros pra isso nem ligam.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Incógnitas


Até quando verei meu rosto no espelho?
Até quando serei pele, ossos, cabelo?
Sou mesmo feliz por tê-la visto em meu mundo
A vida só é bela por saber que vives ainda.

Mesmo sabendo que a senda é curta, imprevisível
Atalha pelos caminhos um perigo invisível
Nada que detenha-me, não enquanto ainda respiro
E paro, e detenho-me, dou uma olhado, prossigo e suspiro.

Todos conhecem-me, aqui e ali, nas adjacências,
Tudo que sobra e falam de mim, nada são que excrescências;
E tudo que sobra, se não incomoda é ardil e profanações,
Mas não vivo de cobras, nem de covis, ou escorpiões.

Até quando verei meu rosto íntegro no espelho?
Mesmo não sendo Dorian Gray possuo segredos,
Mesmo não sendo Narciso, preciso afogar-me em meus medos,
Pra poder descobrir-me e que sou mais que pele e cabelos.

E as incógnitas me boicotam todo o tempo,
Já não quero crer que viver é só uma perda de tempo,
E quando vejo que o tempo perdido é só um contratempo
Tento reviver e pensar que é só uma passagem, ou melhor, passatempo.