quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Lodo
















Não mais mergulho naquele engodo todo
Enlameado, de medo e lodo
Sinto respirar com esforço improbo
E acordo afoito com desgosto e bobo.

Não mais pertenço a esses ares outros
Já faz-me mal tanto inútil povo
Já não é mal acordar-se morto
Pelo menos isso faço crer que é novo.

Sinto falta do som do seu choro tolo
E sem decoro me preparo todo
E quando lembro desse desaforo
Vejo-me todo enlameado em lodo...

Uma noite afoita como a de um vil cachorro
Faz-me falta tanto aquele som de choro
Que era a trilha de um romance improbo
Que hoje vejo como um tremendo engodo.

Cães violentos ladram o dia todo
E o meu dia mal começa um novo
E se tardia já me sinto bobo
Melhor que antes todo envolto em lodo.


segunda-feira, 19 de abril de 2010

O bobo da corte


E então como vai você?
Batendo sempre na mesma tecla
Andando sempre na mesma vereda
Dá até pena de ver.

E bate na mesma tecla
Parece o bobo da corte
Parece um lobo na flecha
Periga ser o noivo da morte.

Ele corre por aí com alarde
Ela sempre chega mais tarde
O amor já não queima nem arde
Ela é fria, vilã e covarde.

Mergulhou-se na mais fria quimera
E o amor servidor, enfim, já era
Batendo sempre na mesma tecla
valeu a pena o esforço, a espera?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Um Doce Dia para Ananda - Parte IV - "Ananda, A flor da Vida"

Ela havia desistido da vida. Por quê? Em breve explicarei, mas sem delongas por agora, ou melhor por ora.

Ele consentia do fato de que nada era mais impossível que Dom e Ananda, unidos.

Naquela tarde sombria, mesquinha, para ela vazia, era somente ela, tão-somente-ela, e quatro caixas de comprimidos coloridos na estante. E nada mais seria como antes. A dor pungente, o seio arfante, aquele mesmo que Dom amante, tanto ousara em seus sonhos, na verdade infante.

O brilho do sol se dissipara de tanta mágoa estampada na cara, o rosto sobreposto em lágrimas salínicas, demasiadas salgadas. Ninguém dissera que a fuga nada mais era que o suicídio lento que em breve achegaria.

Mas suicídio não lhe convinha, tinha aquilo como um refúgio daquilo que o mundo todo a expunha sobremaneira e que lhe oferecera com gosto de mel, e na verdade era mistura de fel e sangue coagulado.

Jogou de lado o travesseiro molhado, e o sentimento exposto, lembrou do gosto da noite de ontem, "quem a seguira?" "quem a espreitava?"...


(...)