sábado, 26 de março de 2011

O que move moinhos


Não são mágoas que movem moinhos
E as amizades são temporárias
O que fica é o que foi carinho
E as noites são solitárias.

A diversão é um milésimo de segundo
Depois como fica o mundo?
Quando se apagam as luzes ao fundo
E o telefone também fica mudo.

Felicidade não se disfarça
O que dirá então a tristeza
Não importa enfim o que faça
Sobrevirá do amor a beleza.

Porque mágoas não movem o que sinto
Nem o lamento toma conta de mim
Também não acredito em destino
Mas acredito na força de um sim.


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segunda-feira, 21 de março de 2011

Amores Usados

É a mesma história de novo
Tentando vivenciar um outro
Criando expectativas de ouro
Mas cairá por terra seu jogo.

Vou me afastar como fiz outrora
Vou viver como antes e agora
Enamorar-se quem não enamora?
Mas vai chorar, afinal quem não chora.

Cairás de joelhos ao chão
Leva tempo afinal é ilusão
Mas aproveite não veja a razão
Um momento vale mais que um perdão.

Como sempre não assume o que faz
Mas dessa vez não há volta jamais
Só espero que assim tenha paz
Da minha parte o passado aqui jaz.

Sem lágrima nenhuma a escorrer
Sem sentimento nenhum de perder
O tempo ainda vai transcorrer
Mas o futuro já não posso prever.

Não sou de testes ou amores usados
Ou é pra mim ou fica de lado
Mas não vou ficar seguindo seus passos
O que é meu é meu, o que é seu está guardado.


***

sexta-feira, 18 de março de 2011

Delírio

Sou da pele, do prazer
O lazer alucinado
Vamos nos satisfazer
Com o poder que nos foi dado.

Quero a língua nos seus seios
Sua pele junto a minha
Entorpecer em devaneios
Enquanto existe ainda.

Preciso ardentemente
Encaixar-me em suas coxas
Desligar então a mente
Agarrar-me em suas costas.

Sentir o delírio acordado
Em seu movimento suave
Aos poucos alucinado
Num ritmo íntimo e grave.

Totalmente inserido em seu meio
Num sentimento de entrega total
Bebê-la sem perigo ou receio
Ser bebido como alimento vital.

Acariciar-te como a última vez
Devorá-la como fruta escolhida
Repetiremos isso? Talvez
Mas melhor não pensar nisso ainda.




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quinta-feira, 17 de março de 2011

Ciprestes


Lembra da noite em que eu te sepultei?
Aquela noite em que a chuva espalhava barro pelos canteiros
Aquela noite em que a deitei debaixo dos ciprestes negros?
Quando te dei um beijo de desterro antes mesmo do próprio enterro?

E deitada na relva sentia os pingos grossos de chuva
E mesmo morta há muito não se sentia tão viva...
E dessa forma a gente chora ainda mais a perda da vida
Será que era mesmo ela tão rude e sofrida?

E na sua última noite nem estrelas nem lua
Só o barulho da escavação no lamaçal ao seu lado
Uma música aparece ao longe a relembrar seu passado
Mas nesse momento só pensa que logo tudo terá terminado.

E de cima pra baixo tudo é mais encantado
O vento balança os galhos de eucaliptos no alto
Um aroma gostoso vem com a brisa e um frio em seus pés descalços
E agora lembra como podia pensar em percalços.

O corpo mole sobre os ombros de um outro forte
E lança-te na profundeza aconchegante da cova
Em breve haverá vida nova
Em breve haverá vida nova.



(***)

terça-feira, 15 de março de 2011

Denso

Estou precisando de um beijo intenso
Desses que envolve o queixo
Para livrar-me desse momento tenso
Inebriar-me de encanto e desejo.

Um beijo como aqueles de outrora
Para livrar-me da angústia de agora
E sei que se chamar não tem hora
E preciso antes que vá embora.

Com gosto de pecado, ilicitude, paixão
Um gosto que não sai da minha boca
Sempre teve, atitude, tesão...
Essa é a razão da atração densa e louca.

E quando no passado tirava sua roupa
E zombavas dos meus desejos expostos
Eu passava gelo em suas costas
E havia infância nos rostos.

E pulava em meu peito com vigor
Entrelaçando as pernas em meu corpo
Girávamos sem preocupação ou temor
Até porque nosso mundo era outro.




(***)

segunda-feira, 14 de março de 2011

(***)

Amei meu passado com vivacidade
Como flores na janela de um violeta vivo
Enfrentei os temores com virilidade
Mesmo assim veio a vida com violentas verdades.

É difícil porque já perdeu-se a decência e o tino
E mentem até porque não sabem encarar um olhar
Mas não sentem que aqui já não há um menino
Infelizmente nada vai perdurar.

Há mais fortaleza em mim que insensatez aparente
Não tente desvirtuar o que criei em aço forjado
Nunca vai descobrir o que se passa em minha mente
Mas não é assim que se dispensa o passado.



(***)

sexta-feira, 11 de março de 2011

Emblemas

No fio da navalha da barba de Nietzsche
Em cada sílaba dita por Marx
Era ela mesmo meu calcanhar de Aquiles
E mesmo assim angariando uma paz.

O suspiro da fuga de Judas
O fundo onde encontra-se Atlântis
O Triângulo das Bermudas
O momento perdido de antes...

O mais indispensável pra ele
Aquilo que é estupendo
Como o encontro de Jean-Paul e Simone
Tal e qual Ruth encobriu Fernando.

No fio de baba da raiva do cão
Sou bem mais que este bem mais feroz
Lá do seu inferno já grita perdão
Mas esta é a saga e é sagaz o algoz.

Sou o tiro que circunda Vargas
Sou o meio do cerne do seu coração
Espatifado antes mesmo das armas
Antes do verme a decomposição.

O emblema na farda verde-oliva
O problema de carregar essa cruz
Um dilema que ninguém mais se livra
Um assunto para mil anos-luz.


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quinta-feira, 3 de março de 2011

Razões

Às vezes a razão diz que não
Mas o coração é teimoso feito um cão
Afungenta as expectativas como galinhas pelo chão
Trata as pantomimas como pura e desmedida diversão.

Um dia ele se aquieta, ah, se não...
Lembra daquelas festas e folias, São João?
Pegar na mão das menininhas, que emoção...
E quantos beijos sob a lua e quantos rostos, por que não?

E vai sumindo a candura e a ternura da feição
Onde estão as jovens tardes, aquelas ditas na canção?
Aquelas tardes de domingo, os meus amigos, violão...
Penso já não haver motivo e ainda vivo sem razão.

Nos meus planos estava a vida, mas a vida com emoção
E não tão decadente, deprimente, que ilusão
Mas a gente enfim nem sente, e passa rente à depressão
E se não for assim mais quente melhor que viva em solidão.



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