terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Cúmplices

Gosto por não haver vilipêndio
E nada é tão comedido
Em nós dois reside um incêndio
Não existe impulso contido.

Ora, me odeia, destesta
Ora pra esquecer-se de mim
Ora, diz-me não presta!
Ora, que quer então de mim?

E qualquer lugar é um bom lugar
Existe disposição e ânimos comuns
O espião secreto é o luar
A desvendar nossos corpos nus.

Somos cúmplices leais, criminosos
No nosso afã desvairado, secreto
Planos pecaminosos
Executar sempre muito discreto.

Muitos nos julgam, vis
Ela louca, ele insano, ardiloso
Nossos atos sempre muito sutis
Mas o resultado para nós vantajoso.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Imutável


Sem um pesar para trás
A paz transborda de forma suave
A alegria é a gente que faz
E a minha voa como uma ave.

O ano vem com conquistas reais
O dia começa reluzente infinito
Os dias há tempos não são iguais
Os dias há tempos me nascem bonitos.

Sinto a alma inundada por cachoeiras renovadoras
Nada mais muda o imutável de mim
Estou consciente das alegrias vindouras
Feliz do que fiz e sou bem assim.

Não é nem o início do que me propus a ser
Totalmente satisfeito com minha biografia
Feliz por saber o que é vencer
Mais feliz por não viver em apatia.

Mil conquistas, amores, batalhas
As mãos firmes para dardos certeiros
Enquanto venço uns comem migalhas
Tenho a vida dos grandes guerreiros!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Minimalismos

Não precisa gastar vocabulário pra ficar à minha altura,
Não precisa revelar-te, mostrar descompostura,
Sei que sou combativo, entendo suas agruras
Mas saiba que é ilusão, mentira nua e crua.

Olha, intimidei-me tanto que até fui à sua cidade
O boi de segunda importância se incomoda ainda, verdade
Detentor do poder? Não sabia, agora o sei, rei, majestade
Prometo subjulgar-me e submeter-me à sua potestade.

Gastou um texto considerável com um rival já vencido?
Não entendo esse minimalismo, não sei como pode ser isso
Há tempos não ri desse jeito, há tempos, meu inimigo
Gostei, oh, bobo da corte! Adorei, oh ser submisso!

E uma coisa é certa isso ninguém discorda,
Ninguém tem só a cara, o jeito de ser idiota,
Um nerd como você, tapado como uma porta,
Não creio chegar mais longe que a segunda, mas a mim não importa.

Imagino como deve ser triste saber da minha armadura
Quero que use seus artifícios, use sua força, gordura
Já que és acostumado com as estantes mofadas e escuras
Já que no fundo sabes não ser o que ela procura.

Mas subestimei meus próprios talentos e conquistas e vivo
Vivo tanto que às vezes perigo
Espero que dure pra sempre meu "amigo"
Pra que sintas futuramente o inferno contigo.

Acho que tens o dom, tens o poder, é adivinho
Posso chegar a oficial, se esse for o caminho
Não tenho medo de nada, tampouco de ti, nem um pouquinho
Mas quanto a você tenho minhas dúvidas, nobre proletário boizinho.

Sinto alegria ao acordar a cada dia
Pois vejo ataques como razões de só ser mais eu
Sinto alegria ao conquistar o que eu bem queria
E goze o presente usado que o amigo um dia te deu.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Ave da Mente


Quando olhas para mim vê uma figura deprimente?
Solta gritos por aí que sou um fraco, inconsequente?
Mas acredite que sou mais que uma postura surpreendente
Sou aquilo que procuras de uma forma complacente.

Viajo dia e noite nas loucuras mais dementes
As pessoas mais sadias são aquelas tidas doentes
Sigo a trilha da vida e a persigo avidamente
Pra fazer voar de repente e cantar a ave da mente.

Consigo tudo que quero e o faço arduamente
Habito seu pensamento, resido sua alma, sua mente
Revisitei nossos lugares, passado, futuro e presente
Hoje controlo minha calma, pois tenho vitórias à frente.

Assumi meu posto e não vi empecilhos na minha frente
Achei que haveria barreiras que quebraria com minha torrente
Achei que seria mais firme, mais viva, combativa, mais quente
Nem ao menos prendeu em correntes a ave da minha mente.

Você já me sabia astuto e inteligente
Conseguia o que não podia resoluto e intransigente
Fiz por merecer e o fiz avidamente
Mas acho que não conhecia, apresento-te a ave da mente.

Saiba que o ser combativo e bélico é inerente
Perguntei-te mil e cem vezes mesmo assim você não entende
Se achavas que um dia seria só calmaria, condescendente
Perdeu o fio da meada, perdeu-se avidamente.

E jamais quis seu presente, processos, papéis. Deprimente.
Não entendo seu riso forçado, viveria amargamente
Sou mais que um dia trancado, sou o pôr do sol, se me entende
Jamais sentirás o que sinto pois não tens uma ávida mente.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Rotundo...

Tela: O nascimento do mundo - Salvador Dali - 1943

Às vezes sou complacente
Às vezes condescendente
Às vezes um cara decente
Mas só às vezes, entende?

Um dia implico com o mundo
Um dia de ser vagabundo
Um dia de ir lá no fundo
Um dia dou a volta por tudo.

E quase insano e vilão
E quase quebrei o violão
E quase voei de avião
E quase ganhei um coração.

Às vezes ganho a partida
Às vezes choro a partida
Às vezes a vida é partida
Às vezes a vida não é vida.

A vida é uma corrida intransigente
A vida é uma partida indecente
A vida é entupida de gente
A vida é insana e demente.

Lúgubre e lamaçal
Fúnebre e nada mal
Profundo e tudo igual
Rotundo e mal e mal...

domingo, 6 de dezembro de 2009

Constatações

O que houve amigo?
Onde está a soberba em mostrar-me seu retorno triunfante?
Parece que perdeu-se no caminho
Outra vez a mesquinharia, o vínculo, amante?

Parece que temos mais em comum que pensamos
Perdemos o que não tínhamos e erramos
Corremos, esperamos e alcançamos
Mais virá que não sabe sem engano.

É o preço de se tentar tirar da cabeça o que não sai do coração
Os tempos mudam, as venturas são outras
O outrora é por fora, conheça novas garotas!

Mas parece em vão...
Parece em vão.

E tudo vejo que constatações numa tarde fosca
Acha que me entristeço ao ver suas imagens felizes, belas?
Melhor é vê-la mesmo contigo pois felicito-me da sáude dela
Ver sua pele, seu sorriso, sua alegria tosca.

O que houve amigo?
Parou de exibir seu falso status, seu enlace bobo?
Até admiro sua vitória calcada em minha burrice, meu estardalhaço...
Mas parece um jogo, apesar de vitoriosos ficamos aqui com cara de palhaço.

Que pele tem ela né?
Engendrou uma trama ou te jogou da teia por não tratá-la como uma "dama"?
Siga com fé...
Apesar que esperanças nunca são muitas pra quem esperou e viveu tanto drama.

sábado, 28 de novembro de 2009

A Fonte (Metade de Mim)


O amor é clichê
Quem pintou os lábios teus?
Quem desenhou as tuas curvas?
Será obra de algum Deus?

Como são quentes suas coxas
Que me envolvem em noites frias
E são decentes essas moças
Na minha mente fantasias.

Sei do amor suave e intempestivo
Por isso vivo tenro e inflamado
Se penso em ti sinto lascivo
Se vivo em ti sei que amado.

Quero habitar a sua boca
Residir na sua carne
Desvendar a pele louca
Roubar-te até mais tarde.

Alimentar-te, seduzir
Engravidar-te de desejos
Sublimar, abduzir
Suforcar-te nos meus beijos.

Venha à minha fonte e beba
Sacie a vontade enfim
Peça, implore e receba
Quem sabe a metade de mim.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Agruras


O que foi feito das reminiscências?
Agora só restam excrescências
Todos já sabem nas adjacências
De todas as suas incongruências.

Lamentável, ponto final.
Segue-se sem reticências
Mas reticente afinal.

Adiantou toda mácula dirigida?
Que virtude logrou de fato?
Teve êxito no intento fraco?
Agora fica aí corrompida...

Órfã da bondade irmã,
Sem julgo, sem crime, nada.
Desejo de uma dor pagã;
Sem rumo, sem tino, estrada.

Fim das lamúrias de outrora e venturas
Finalizo aqui sem consciência de ti
Sorri ao me aperceber das agruras
E só agora finalmente me vi.

Aos arredores percorre
No meu encalço, desatinada
Por pormenores já morre
Mas não adianta de nada.

Cavou fundo seu poço, imatura,
Talvez a procura de água;
Seu esforço se tornou sepultura
Meu amor por ti virou mágoa.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Carta de Amor (...)



Os olhos distantes e intensos,
O aspecto infante de antes,
Os momentos parecem tão tensos,
O peito em chamas, arfante.

Vejo desejo nos olhos seus,
Um porto seguro na sua inconstância,
Você é perfeita, um presente de Deus,
Um brinde a doçura, ao amor, à infância.

Uma pureza que fiz votos de abolir,
Mesmo assim fico perdido se a encontro,
Um fascínio que me dá ao ver sorrir,
E ao lembrar da sua beleza fico tonto.

Mais feliz é saber do seu amor,
E quando diz que ainda me ama e quer amar,
E sem dormir enche meu peito de um calor,
E fico a noite toda em claro a delirar.

E quem viveu um amor que nos vivemos
Sabe bem o que é viver em sonhos lindos,
E se promessas um ao outro nós fizemos
Agora resta finalmente nos cumprirmos.

Viajo nos seus olhos, seus cabelos
Da sua pele, a maciez, uma delícia,
Seus encantos sei que em breve posso tê-los
Enfim te dar o meu amor, a ti, Patrícia.

Esse poema é dedicado ao seu sorriso,
É uma canção a sua beleza, sua ternura,
Pra que saibas o quanto amo e te preciso,
É uma carta de amor sincera e pura.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Expectativas distantes


Às vezes me detenho
Em expectativas distantes
Num promissor presente
Em algo como antes.

Vivenciar algo novo
Com pessoas do passado
Mas eu vejo é só um jogo
Um mosaico ultrapassado.

Tem rostos que não vejo
Desde quinze ou treze anos
Que sabores tem os beijos?
Quando foi que nos falamos?

E mesmo que já saiba
Que quero alguém pra mim
Talvez já não mais caiba
O amor que sinto enfim.

Sinto tanto amor no peito
São tantas elas e caminhos
Minha vida é desse jeito
Muitas flores muito espinho.

Um dia em minha vida decerto
E entenderia meu desatino
Sentiria no peito um deserto
Sentiria enfim o que sinto.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Vivacidade


Com as energias recarregadas
Não quero nada que venha de graça
Não quero nada que eu não conquistara
Sou o cara mais feliz da praça.

Um sorriso aberto de fotografia
Ela me dizia "dá um sorrisão!"
Havia tempos que eu já não sorria
"Ah, vida boa, mundão!"

E por mais que eu pulasse as etapas
Tem gosto melhor que a vitória tardia?
Dar cara ao embate dar cara aos tapas
Agora a luz em minha face irradia.

Eita amorzão que trago no peito
Uma paixão desenfreada pela vida sem freio
Mesmo mudado mas do mesmo jeito
O coração inundado e de amor todo cheio.

Sente a vivacidade em meu sorriso, meu rosto?
Trago o velho sorrisão armado e real
Acabaram-se as rusgas, o mal e o desgosto
Agora só resta o que vir afinal.

Pronto pra amores, sem dor, nem revolta
Sinto o calor do afeto e desejo
Sinto amores explodindo a minha volta
Antes não via mas agora já vejo.

Estou andando só mas comigo mesmo
Escolhendo como outrora quem segue meus passos
Continuo colhendo flores a esmo
Mas agora não deixo mas saberem o que faço.

Sinto-me vivo e vivo a cantar
Espalhando vivacidade por todo a parte
Prossigo andando e não me fazem parar
Com um sorriso estampado no rosto de tarde.

No auge de mim mesmo e vou mais além
Caminhando sempre com a alegria notória
Essa mesmo eu que não precisa de alguém
Pois sozinho comigo vou de encontro à vitória.

Mil perdões


O tempo vem como bom amigo
Hoje nada posso dizer-lhe que mil perdões
Aprendi sim muito contigo
De nada vale o jogo e vivendo vi mil lições.

Revejo hoje sorrisos sinceros
Estampados em fotografias digitalizadas
Relembro momentos eternos
Em algum lugar da memória datas gravadas.

Não posso reviver e creia fico feliz
Os dias melhores mesmo que antagônimos vieram
Não tem como se viver por um triz
E os sentimentos em suma não morrem
Esperam.

Quero que vivas mil venturas
Com quem quer que seja em qualquer lugar
Mesmo que a minha alma sempre à sua procura
Mesmo que a minha alma viva sempre a rodar.

Perdoe-me os desatinos e a desatenção
Perdoar não enseja um recomeço o amor
Só livre-me da detenção
Que causei a minha alma com tanto desamor.

Desculpe-me a dor e o flagelo tão intenso
Que causei à tua pele que eu tanto amei
Sei que o estrago que fiz foi imenso
Mas um dia ao matar nosso amor me matei.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A rua não é um bom lugar


Preciso um novo porto seguro
Até porque você não é o que procuro
Os momentos com você são doentes, doentios
E os caminhos que fazemos são oblíquos, obscuros.

E definitivamente a rua não é um bom lugar
E o amor que tem na mente logo vai se dissipar
E o ardor que tem na carne é como brasa a se acabar
Mas as cinzas que sobraram ainda queimam sem parar.

Os ventos sopram suaves mas os ares são estranhos
Faz anos que venho tentando mas o outro está ganhando
Um carro desgovernado por pouco não acerta meus planos
E o tempo mal acabado mostrando-se cruel e vilão.

Cansado de palavras nefastas e aturdidas e massantes
Os problemas passageiros as nostalgias são passantes
À mercê de corações alheios à mercê de uns bons calmantes
Essa é a vida de nós humanos transeuntes, incautos, infantes.

Na beira da estrada, uns com namoradas, ficantes
Na margem, na calçada, nós vagabundos e amantes
Uma fuga tresloucada na madrugada e em instantes
Um carro desgovernado amassado pelos corpos de antes.

Tiram cacos de vidro da boca da menina arrumadinha
Respiração boca a boca tirando sangue à reviria
Os cortes à mostra nos rostos da juventude insandecida
Mal sabiam o que viria, quem sabia o que viria?

Nem testemunha, nem nada, nem lua cheia, tumulto
Nem alma viva, fantasma, só correria e insulto
Por uma unha não estava estirado na rua de bruços
Com os cacos de vidro e estilhaços de carro, de gente, de tudo.

sábado, 14 de novembro de 2009

Mais uma noite em que a levo pra casa



Mais uma noite em que a levo pra casa,
No caminho conversas pausadas,
Fico sem graça, faltam palavras,
Sobra silêncio, faltam risadas.

Gosto de rir da sua fala engraçada,
Mas meu desejo era estar bem mais perto,
E bem mais longe desta calçada,
Com você um dia, decerto...

Consiga falar-te, inquietar-te na cama,
Quebrar todos os seus preconceitos,
Acabar de vez com meu drama,
Entender seu modo, seu rosto, trejeitos.

Mais uma noite em que a levo pra casa,
Sem carro, sem muita coisa a dizer,
Apesar de sentir o peito em brasa,
Sinto agonia, paixão e amor por você.

Mas de qualquer forma fi-la parar,
Para não deixar nenhum mal-entendido,
Não quero que saibas assim pelo ar,
De um amor platônico correspondido.

Quero que durmas suavemente
Com minhas palavras invadindo seus sonhos,
Meu rosto completando sua mente,
Mas infelizmente só sonhos.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Imperfeições


Não sou perfeito
Talvez um defeito que muitos queiram ser
Não sou um sujeito
Mas estou sujeito aos seus trejeitos que insiste em ter.

Não fui eleito
Nem homem feito pra ser do jeito que quer que eu seja
Mas tá desfeito todo encanto que um dia atribuí a ti, sua beleza.

Guardei suas afeições em odres de perfume e todas as suas imperfeições
Vibrei de emoções
E restaurei o que havia de podre e negrume nos dois corações.

Ganharia mil almas
Se restaurasse de todo os complexos, a vida, os sonhos e a calma
Uma salva de palmas
Se lavasse seus pés e regasse de flores, refrigerasse sua alma.

Mas já foi superado
O novo é sempre torpe e o que lhe trago é muito vago
Todo o resto é ultrapassado
Sei que tens um novo e meu lugar hoje é a gaveta lá do passado.

Sem conjeturações
Pois minha aparência é a de espectros noturnos e nauseabundos
Cem especulações
Do que é decadência, e aspectos soturnos que assombram seus mundos.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Só por você


Hoje o vento toca cuidadosamente seus cabelos,
Não há mais percepções de antigas maledicências,
Não é preciso ouvir mais as canções de romances perdidos,
Todos já sabem do amor no seu peito nas adjacências.

Uma orquestra reverberando a canção da sua vida,
Nossas vozes tornam uníssonos nossos desejos,
Ah, faz tanto tempo que foi reconstruída
A coisa mais linda que é nossa união consagrada por beijos.

E ouço violinos quando estamos juntos, sozinhos;
Construímos um ninho de confiança plena e perpétua,
Os caminhos que são trilhados já sem espinhos,
E as ruas em que nos amamos estão desertas.

Fizemos promessas de você ser minha por já ser seu,
Eu vi meu Deus ao olhar dentro de ti,
Vi que Deus existia nos olhos seus,
E por crer que era um anjo logo morri.

Guardo acordes de violão melódico em composições suas,
Passei a vida escrevendo um reencontro nosso,
Se lembro de ti vem recordações de duas almas nuas,
Só por você escrevo canções e faço o que posso.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Não é reviver


Os mesmos locais
Outras circunstâncias
Os dias anormais
As mesmas inconstâncias.

Creio que os mesmos lençóis
Outras cores de cabelo
Os dias talvez iguais
Na alma um frio, um gelo.

O mesmo número do quarto antigo
As mãos enlaçadas são outras
Parece um crime, um cinismo, um castigo
Nas calçadas estranhas pessoas.

As mesmas ações desencontradas
Os mesmos locais sem propósito de propósito
Talvez não mesmo as mesmas palavras
Talvez fosse notório demais o óbvio.

E o fogo talvez ameno e normal
Antes queimava o peito e o corpo todo
Mesmo assim há o pecado e capital
E ainda sinto vivo o extinto antigo jogo.

Não é isso que pensas, não é reviver
É reinventar o impossível, o morto
É tentar enxergar o que não soube ver
É tentar ser feliz usando um corpo outro.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Começar de novo


Reinventando o presente
Cultivando alegrias
Semeando as sementes
De bons novos dias.

Afinando a vida
Diapasões de cristal
Reconstruída
De sorrisos e tal.

Planto flores no seu caminho
Pois és vencedora e merece
De cada rosa tirei o espinho
E sei que agora as me oferece.

Já destituída
De ressentimentos remotos
Reconstroi-se a vida
Sem velhos remorsos.

Erforço-me todo
Pra sem turbilhões
Pra sem mais engodo
Que tem aos milhões.

Retumba como águas incontroláveis
De devaneios velhos e quimeras tolas
As emoções se fizeram estáveis
E as perturbações se acabaram todas.

Começar de novo
Porque começar é para os fortes, os bons
Te desejo o dobro
Pois das canções de amor tu me deste os tons.

domingo, 1 de novembro de 2009

Respiração

Conte até dez, respire...
Se soubesse antes
Tudo diferente.

A pressão sanguínea insandecida
Só de saber da sua vida
Tudo fora de medida
Sem saber da sua vinda.

Conto até oito e suspiro...
Falta você e onde procuro
Não acho e me viro
De encontro com o muro.

Conto até cinco e prossigo...
Não consigo parar de sonhar
Sei que contigo é perigo
Mas por que divagar, divagar?

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O último ato


Preparado pra batalha
De espada e navalha
Um sorriso na cara
A idéia não falha.

Um escudo içado
O braço maior que o seu
Enfim restaurado
O fim será seu.

Soldado do meu ego
Luto com armas descomunais
Luto com armas de ferro
E com garras de animais.

Fujo tão rapidamente
Que você nem se apercebeu
Que controlo sua mente
E o jogo perdeu.

Ainda vou no seu encalço
Aguarde sem pressa e sem medo
Cuidado o passo em falso
Que sua cena termina mais cedo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Um doce dia para Ananda - O Dom de Ananda (Parte 3)


Enquanto Dom cada vez mais se enternecia da figura quase angelical de Ananda, e já quase superado o trauma daquele encontro mal sucedido, esta por sua vez lutava para controlar as sensações que seu corpo experimentava, queria compartilhar com ele, ela carrregava o desejo no olhar, como ele não percebia? E não percebia. Dom só vislumbrava aquele estar junto, saborear os beijos de Ananda, passear de mãos dadas, observar o pôr-do-sol irradiar-se sobre os cabelos da bela em um banco de uma praça qualquer. Hoje sabia que a palavra Ananda é um termo sânscrito que significa felicidade suprema, e a Ananda que ele amava, já na época, lhe proporcionava exatamente o que o nome sugeria. O dom de Ananda era dar felicidade suprema ao próprio Dom. Mas para ela esse estado de consciência ainda não era pleno, pois o que seria da felicidade da alma se o corpo estava insatisfeito?
Lembrou-se Dom de que certa noite estivera com Ananda na velha praça da cidade e a beijava carinhosamente em meio aos transeuntes e recostado a um banco, a tenra idade o impedia de lances maiores, mas num instinto que surgiu como um feiche de luz numa floresta fechada, este beijou calorosa e umidamente o pescoço da jovem e ainda mordiscou-lhe o lóbulo da orelha, pôde sentir os arrepios, os pêlos se eriçavam e era possível percebê-los, com os olhos entreabertos pôde ver Ananda de olhos fechados e lábios entreabertos como que sussurrando algo a si mesma, mas de súbito Dom interrompeu aquilo, não sei, sentiu-se incomodado, parecia estar violando um segredo que não podia, ou ao menos não estaria preparado para descobrir. Ela abriu os olhos lentamente como que despertada de um encanto feito fogo que mal começara a queimar-se de todo.

Havia duas coisas em Dom que realmente encantavam Ananda: O sorriso e os beijos. Ah, o sorriso de Dom, para ela era como se o mundo mudasse de todo quando ele abria o sorriso, parecia que todos apreciavam, pois era tão puro, verdadeiro e encantador. Ele poderia armar as maiores travessuras no colégio, mas para Ananda era impossível alguém irritar-se com aquele Dom de sorriso largo, sempre. Quanto aos beijos? As noites eram quentes naquela cidade em que um dia estaria a milhares de quilômetros de distância, aquela pequena cidade; nessas noites ao lembrar dos beijos úmidos, intensos e demorados de Dom, se revirava no lençol da cama, abraçava o travesseiro com força, o colocava entre as pernas, e os beijos de Dom, as mordidinhas nos lábios, suava o seio pequeno e perfeito, mordia os dedos dentro da boca, umedecia-os, ora ousava um toque mais íntimo quando ainda molhados, ora agia com mais vivacidade. O frenesi era intenso.
Não que não houvesse o mesmo desejo no rapaz, de modo algum, ela a tinha como uma peça rara, uma relíquia que conquistara, afinal foi nada fácil convencer as irmãs de Ananda a permitirem aquele romance. Ia arriscar uma ousadia e perder aquilo que lutou por três anos para conseguir? Jamais.

Aquilo da alça fora premeditadamente arquitetado por Ananda, não era possível que não. Tínhamos combinado nos ver segunda, quarta e sexta e nos fins de semana ficava a combinar, e assim ocorreu. Naquela semana, Ananda foi todos os dias da semana na casa de Dom e na sexta ocorreria o fato. Geralmente ela chegava, ouvíamos música, às vezes comíamos alguns petiscos, conversávamos, nos beijávamos e pronto, logo ela ia-se embora e eu ficava a observá-la a caminhar. Os quadris largos, o belo sorriso, e de quando em vez ela se virava apenas para mandar um beijinho. Ele sorria, sorria e retribuía. Felicidade suprema.

Na sexta, por algum motivo, já estava tenso, algo me dizia que o romance caminhava para um ponto crucial, o fogo de Ananda já lançava faíscas sobre o meu rosto; seu corpo era um vulcão prester a explodir, melhor, era uma granada pronta para querer detonar, mas o estopim estava em minhas mãos.
Alguém que estivesse na sala, naquele momento veria, que, quando Dom estava beijando Ananda, de olhos fechados, compenetrado, esta remexeu um dos ombros para frente e para trás com delicadeza, e, sutilmente, a fina alça da blusinha cor-de-rosa sedosa deslizou pelo braço, Dom já estava beijando seu pescoço, e, ao abrir os olhos, pôde ver com perfeição um dos seios de Ananda quase que completamente exposto. O que fazer? O que fazer? Tinha que dar uma resposta, melhor, tinha que agir como resposta àquele fatídico e maravilhoso acontecimento. O tempo urrava exigindo a resposta e, mais inconveniente seria aquela situação perdurar sem qualquer reação de Dom. Mas a resposta não vinha. Creio que mordi os lábios, umedeci-os, a vontade mais lógica e intensa era acolher aquele seio pequeno e perfeitamente rijo nos meus lábios, ia brincar com ele, deslizar a língua por aquele bico róseo e tentador, provavelmente desceria a outra alça teimosa, faria de Ananda o doce mais saboroso da face da terra, e deveria ser provado com suavidade e sem pressa nenhuma. Contudo, a moça parece que percebia essa vontade e, creio hoje, até ansiava por isso. Ela já parecia deitar-se sobre o sofá esperando algo que não fosse o que foi feito, ou seja, nada.
Com a cara mais desapontada e infantil possível, Dom, com muito carinho, fez a alça voltar ao lugar de onde caíra. Sentiu-se tonto, mais tonto ainda, quando da afeição nada satisfeita de Ananda com sua atitude, ou sua falta de atitude. Mas era tarde, o destino, só age uma vez, pelo menos cria ser o destino. Não era.

Não consegui levar Ananda ao seu estado de ananda, e o dom de Ananda era fazer-me sentir cada vez mais apaixonado, e ao mesmo tempo, cada vez mais sem noção do que era realmente o certo a se fazer. Hoje sei que o certo nunca agradou muito a Ananda, nem tampouco a Lascívia, ou a Virgínia ou a quem quer que eu tenha conhecido. Contudo, o que de fato sei é que ainda hoje ela pode se vangloriar em dizer que eu sou o Dom de Ananda. E ela a felicidade, minha e suprema.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Um doce dia para Ananda - Lascívia (Parte 2)


Lascívia era amiga de Ananda, e ela a influenciava de certo modo; e para muitos, Lascívia era algo mais que um encanto de menina. Não que esta fosse desatinada, não, de modo algum, apenas se levava pelos afãs de sua alma. Deixava galopar os cavalos da sua vontade própria sem as interferências do mundão rude lá fora. Ananda sonhava ser aquilo tudo, talvez fosse demais, talvez fosse muito pra sua alma ainda vazia, mal sabia o que se achegaria.

Lascívia enamorava-se de um rapaz, e quando do início do romance de Ananda com, vamos dar um nome ao outro, ou melhor, a mim mesmo... Não sei. Acho que "Dom" é um bom nome e eis que surge o nome, o meu nome. Pois bem, quando Lascívia teve envolvimento com um tal rapaz, e Ananda mal começara seu romance com Dom, a amiga sugeriu que fossem os quatro, a um campo de futebol, jogar bola? Errado. O campo era antigo e, de certo modo, até assustador; haviam eucaliptos que guarneciam a longa entrada que fazia chegar ao reles estádio, sem antes ter que passar por um terreno baldio, coberto de mato, com exceção do estreito trieiro que fazia a conexão ao recinto. A idéia, a princípio, era que nos conhecessemos melhor, até por que, segundo Ananda, Lascívia e o outro eram assíduos frequentadores desse bizarro local, contudo me privaram dos detalhes mais imprescindíveis.

O combinado era que Dom fosse primeiro, às três da tarde, e aguardasse a chegada dos demais, e como este era completamente apaixonado por Ananda, aceitou a proposta. Fez o tortuoso caminho a pé pelo trieiro obscuro, sentiu-se só ao chegar no velho estádio, pensava em Ananda, nos seus olhos, tão verdes; olhou para o lado e vislumbrou um lago de água marrom onde jaziam galhos secos em seu meio. Andou mais um pouco, sentou-se na arquibancada a contemplar o velho campo, agora cheio de ervas daninhas, inclusive algumas bem altas já pela falta de uso. De repente algo avassalador atingiu sua memória; lembrou-se de uma história, e sabia verdadeira, que num passado não muito recente, alguns meninos jogavam futebol naquele campo e que, já no fim do jogo, um dos garotos caíra morto no gramado, fatalmente acometido por um ataque cardíaco fulminante. A cena era triste, de fato. Contudo, neste momento o que mais fazia lembrar na mente de Dom era que os outros garotos diziam que às vezes, no fim da tarde, era possível ouvir um barulho como se alguém estivesse chutando uma bola no tal campo e o barulho da rede ao receber a bola, por sua vez, e pra piorar, quando era possível ouvir esses barulhos não havia uma só pessoa dentro do dito campo; segundo os garotos era típico do jovem finado ficar chutando ao gol, sem goleiro, quando em vida.

A idéia era assustadora, Dom não sabia o que fazer, se remexia no lugar, tapava os ouvidos, olhava para o lago, o que sabia era que não queria ouvir os tais barulhos, e ainda mais que saberia teria que correr por mais da metade do campo até chegar ao velho trieiro que dava acesso à rua. Se não fosse por Lascívia não estaria ali, tinha que culpar alguém, como era burro, pensava, culpava a si mesmo, burro e ainda por cima medroso, terrivelmente medroso. Mas e Ananda? Teria ela um pouco de culpa porque assentiu com a idéia de Lascívia? Jamais, Ananda jamais teria culpa. O pior era que a hora não passava, talvez porque viera sem relógio, mas não passava, e eles não chegavam. Será que me dariam o bolo? Estariam rindo de mim agora? Talvez me vendo de loge... E o fantasma, será que ia bater uma bola logo hoje que estou só aqui? E agora?

Não cairia mais em ciladas de mulher, estratagemas nefastos, aos quatorze anos e já sofrera uma enorme decepção, será que era preciso mais uma? Havia composto canções para Ananda ainda na escola, a vigiava na educação física desde uns três anos atrás, e à primeira vista choquei-me com seu encanto inexprimível. Colocava a mão nos ouvidos, não quero ouvir os sons, mas ainda ouvia os passarinhos e o vento nas folhas das árvores. Onde eles estão? Nas festas da cidade, eu corria atrás das irmãs de Ananda e sempre perguntava por ela, mas sempre diziam "Ananda é nova demais, espere mais um ano." E agora que consigo uma chance estou aqui sozinho, aflito, tenso, com medo... Traído? Num momento dissipou-se de todo o mal estar, ao longe vi três figuras conhecidas seguirem pelo estreito caminho; a silhueta de Ananda era inconfundível, possuía quadris superiores aos das meninas de sua idade e até mais velhas que ela, e cabelos cacheados e pele alva como uma atriz de uma minissérie que estava no ar. Perfeita!
O temor passara de todo, creio que nem lembrava mais da tal história assombrada. Mas mais tarde outro temor se achegaria, e se achegaria outras vezes, e por conseguinte o mataria, não a Dom, mas o romance que mal e mal começara.

Tão logo chegaram os três, após um breve cumprimento Lascívia e seu par saíram rapidamente e de mãos dadas para um canto do estádio, onde em breve, não pude mais vê-los; é, deviam conhecer mesmo o local, e deixaram-me a sós com Ananda. Era nosso primeiro encontro em um local assim. Não sabia como proceder, sentamo-nos na velha arquibancada. Após minutos angustiantes de silêncio começamos a conversar, as conversas eram vagas e desencontradas, às vezes sorríamos. Dom não conhecia o âmago de Ananda, seus interesses ou desejos mais íntimos, nem sabia que os tinha!Por Deus! Se soubesse, quantas e quantas vezes as duas amigas dormiam juntas na casa de Lascívia e passavam a noite a dividir segredos e fantasias a respeito dos homens. Mesmo que virginal, Lascívia nutria uma admiração por Dom, uma vontade de tê-lo em sua cama, aconchegá-lo em suas pernas fartas, experimentar o que até então eram só palavras da experiente Lascívia. E a conversa transcorria monótona quanto o momento, a falta de movimento, as mãos atadas. Dom tinha uns cd's em mãos que pretendia emprestá-los a sua amada e assim o fez. Após algumas horas de inércia quase total, o desfecho. Uns beijos e já era dada a hora de ir-se embora.

Nunca mais vi meus cd's e tampouco Ananda, não nessa mesma ordem, ainda tive um ultimo encontro com ela, não tão menos cretino, aquele da alça traiçoeira. Ainda não acabou. Um dos artistas do cd cantava assim "Remember today, i've no respect for you... and I miss you love...", mas no meu caso foi exatamente o contrário. O respeito acabou comigo. Mas a música era boa, doída, mas boa.
Fico só pensando no desapontamento de Ananda naquela tarde. E o meu comigo mesmo? Esquece.

sábado, 24 de outubro de 2009

Um doce dia para Ananda - Pálida (Parte I)


A manhã feito um quadro da monotonia pintado a óleo e insensatez lúcida. Queria armar jogos de montar dos obstáculos adiante. Sempre adiante. Para entender é necessário saber que eu estou para a poesia como as folhas estão para uma árvore, bem como Ferreira Gullar para o poema sujo; apesar de haver árvores secas, mas estas são poucas.


A chuva grita sobre os telhados fazendo jorrar os pensamentos daqueles que a escutam em seus quartos, se imaginando sob a película úmida e tenra que a mesma proporciona a algum corpo cansado das letras nefastas. E o dia claro aqui.
Ainda é ainda. Daí o tempo não anda. Chora-se por que fui parar aqui, por que ir pra mais longe, buscar o horizonte. Caminhada tola sem nexo, busca-se a distância freneticamente para refugiar-se de si. Ainda está por vir, ainda está por vir. Queria vê-lo uma hora dessas, seria uma honra; pode fumar seu cigarro do tempo, que o deixa lento, lento... E você cansado. Eu deixo.


Ela não é mais ela, deixou de sê-la desde que parti. Traz consigo uma bolsa a tiracolo contendo batons e outros desmazelos. Em seus olhos leio a carta destinada a mim, o causador da sua intemperança. Tem expressões hostis. Uma música soa ao fundo em um quarto escuro contendo outras personificações de várias faces, e ainda a leio, e as faces se misturam, emaranham-se, se engolem todas, várias. Agora resta ler o resto. Sempre que pude tentei entendê-la, mas não de todo, não quero ficar louco. Ela é pálida feito as manhãs as quais teço, feito feixes de lua por entre galhos de árvores também soníferas, causam tanto frenesi quanto. Ela é, a propósito, o frenesi. Tem noites em que sai, desvairada, à procura daquilo que nem mesmo sabe. O vigor que torna rija suas carnes proporciona erupções de sentimentos sulfurosos e cálidos e passantes. Não se deixa de toda dominar apesar de ser presa fácil e saber disso. Não sei bem o que se passa no âmago das suas emoções, afinal, sou homem e só as mulheres o poderão saber e creio já o sabem ou imaginam ao menos.


Ele frente a ela sente-se um ser inerte como aquele que outrora fora subitamente acordado logo pela manhã e se deparara com aquela imensidão verde que o assaltou, aquele lago retínico e profundo e cheio de folhas secas subentendendo águas rasas. Geralmente águas assim matam aqueles que ousam mergulhar. Eu mergulhei. Não é que era vil ou vilã ou algo do tipo, creio agora que era uma mistura de tantas outras meninas da sua idade querendo crescer por conta própria, ignorando a coerência natural deste mundo. Quatorze ou quinze, quem o diria? Hoje penso que será que teria acontecido se tivesse aceitado ir tomar banho de rio, não de lago; aliás, nem sei o motivo que a levou a me fazer tal proposta. Por mais que reviva aquele ontem, o hoje é muito severo e me priva de detalhes imprescindíveis. Incrível.


Agora penso já não ser tão incapaz de saber seus sentimentos, pelo menos as emoções. Cria ser imaturo para essas inclinações, mas bem que tremi quando do escape da alça de seus ombros alvos por um movimento tão sutil que pensei fosse acidente. A queda desta mostrou-me as maçãs dos seios tão brancos quanto a face lunar, quase desvendando os bicos novos, rígidos, róseos, creio saborosos. Pensava naquele rosto tão simetricamente delicado misturando nuances entre mimo e rebeldia bem tênue, inexistência de lascívia que... Existia? O momento foi tão premeditadamente desprovido de conjeturações descabidas até a hora final em que o destino, o universo, sabe lá o quê, armou todos os estratagemas para aquele encontro fatídico às minhas costas. Fui joguete do acaso, marionete imberbe e tolo de algum ator sarcástico e perverso, e pornô também. Sujo, sujo!


Quando a presa chegara-me a casa, por alguma força qualquer, após um ou dois beijos dados, inocentes, pequenos, meus pais deram de ir à igreja naquela hora. Nem o vi. Estava tão compenetrado na visão daquele corpo lindo, fragrante, abalsamado, aromal, os sinônimos são pertinentes, toda redundância em se tratando dela será perdoada. Mas quanto aos meus pais? Não os vi saírem, aliás, vi, mas não percebi. Não vi, ora. Se soubessem o que passei, não vou dizer para tê-la ali, naquele rompante do improvável, mas para falar-lhe. Desde que a vi pela primeira vez, a via, como que ilusões crescentes às esquinas, várias, todas muito belas, multiplicavam-se em meus caminhos tão plúmbeos, e como por uma tentação deliciosa retribuía aos meus olhares tímidos, mas com fixação. Destemida.
Imaginava-me o durão, o inabalável, cruel até no trato com as meninas da minha idade que me escrutavam, perseguiam sobremaneira. Não gostava, mas via-me inúmeras vezes como o responsável de muitas lágrimas desperdiçadas nos corredores, salas, e muros do meu colégio. Sacrilégio.


Já fui autor de inúmeras peças sem pé nem cabeça encenadas por atrizezinhas de igual maneira excrescentes em seus papéis úmidos, lacrimosos. Não raro, ainda atuo, sem querer, mas atuo. O teatro é fascinante. Havia uma delas que ainda admitia sua constante atuação, vangloriava-se com a vida levada na dissimulação. Criança. Éramos crianças, disse-me ela há dias, agora adulta. (?)
Voltemos à minha sala de estar. Eu ao lado dela; meus pais saíram, beijos e, de repente, a alça traiçoeira da blusa caída do ombro macio, mostrando-me quase por completo a protuberância mais linda que já vi nesses meus vinte e um anos e oito meses de intensa existência, e o tempo parado. Coração parado, segundos, muitos segundos, muitos segundos, muitos segundos... Olhos nos olhos, respiração ofegante... Meus pais saíram, olhos verdes, castanhos... Ofegantes.


Vamos dar um nome a ela. Pensei em um, mas confesso já o tinha há muito e só aguardava o momento exato, ainda não sei se o é. Ananda, eis o nome. A-nan-da. O nome não me causa nada, aliás, causa nada; nunca conheci alguma Ananda, mas é esse o nome e pronto! Não me prenderei a nomes nessa narrativa, se é que isto pode ser considerado uma; podem julgar os críticos, que lerem, e se lerem, como qualquer viagem de um lunático ou até mesmo de um fingido que roteiriza aquilo que, na verdade, não vivenciou, não experienciou. Quer saber? Estou andando. Eu e Ananda.


Ananda era amiga de Lascívia que era irmã de Lavínia e de Virgínia. Lascívia ao contrário do que o nome apregoava era meiga, pura, não se fazia. Assim se dizia. Seus pais desconheciam o significado quando batizaram a menina, mas o que seria o significado senão convenções humanas aplicadas. Gostaram do nome, do substantivo e pronto.

(...)

AVISO AOS LEITORES!


Amigos leitores, venho informar-lhes que a partir de hoje desviarei o meu foco das poesias, mas apenas por um instante, uma vez que elas me perseguem, e publicarei crônicas e contos novos e antigos que agonizam em uma gaveta qualquer do meu tumultuado quarto.

Para não ficar enfadonho talvez, publicarei em etapas.

Espero que gostem.

Abraços fraternos.

(...)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O Amanhã


Se não for pra mergulhar dentro do beijo
Melhor que deixe de ser feito
Gosto de sentir-me em sua boca o desejo
Só você me envolve de um jeito.

Beijar é entrar no outro através dos lábios
Mergulhar no lago opaco das sensações
Voar através de nuvens em sonhos plácidos
Sentir um ao outro nas mesmas respirações.

Sufocar-se na falta de ar dos beijos úmidos
Inebriar-se na lascívia do momento e o afã
Esquecer os preconceitos e trejeitos tímidos
E viver um sonho vívido esquecendo o amanhã.

Sugar sua língua sentindo seus movimentos
Provar cada milímetro da sua pele tão meiga
Os momentos contigo pressinto serão tão intensos
E ao mesmo tempo sinto derreterem como manteiga.

Mas o acaso e o destino me levarão para ti
Consumarei de todo meu plano minha meta e intento
Farei muito mais além do que prometi
E se faltar algo que queira pode crer que eu invento.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Meu Cais


Solidão já não me adianta
Procuro um porto seguro
Cada panela tem sua tampa
Agora é isso que procuro.

Vivi dias de tribulações
E não tinha o leme à mão
Naufraguei nas emoções
Afoguei meu coração.

Mas são comuns as turbulêncas
Águas turvas e selvagens da alma
As ondas vem com violência
Destruir os rochedos da calma.

Foi-se o tempo dos mergulhos
Nos seus beijos confortadores
Hoje à volta vejo entulhos
Do que sobrou dos meus amores.

Procuro um cais pra não cair
Pra ancorar enfim ancorar
Um lugar, não mais sumir
fazer meu lar, contigo um par.

E há razão de achar meu cais
Quero um amor pra vida toda
Que não sofra nunca mais
Que habite a minha boca.

Não mais o náufrago de antes
Mas aguardo ancioso minha flor
Viveremos amando e amantes
Carregando a verdade e o amor.

Sem mais resquícios de tristeza
Só a beleza despontando à volta
Deixar levar-se com a correnteza
Dissipar trauma e revolta.

Quero levar-te pro mar aberto
E viver como se fosse acabar
Inundar de ti o meu deserto
E viver só pra te amar.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Notas

Algazarras se seguiriam
Almofadas entre nós
Algo mais que não sabiam
Alguém cala a nossa voz.

O que se sabia era bem pouco
O que se disse não o bastante
O que se via era bem louco
O que se lia era inconstante.

Truques


Ela se faz de menos inteligente
Só pra ver se me surpreende
Ela gosta dessas coisas
Será que você entende?

Ela é vitoriosa é um vulcão
Perto de mim deixa-me aceso
Mas sou tornado sou tufão
E nos seus braços sempre preso.

Tem conhecimento é culta e bela
Ela está sempre me espreitando
Quero sentir a língua dela
Quero sentir você me amando.

Dentro dela sou mais eu
Fora dela inexistência
O passado se perdeu
Mas já era decadência.

Tenho truques novos de amor
Preparados só pra ti
Ela é fogo é o meu calor
Foi por ela que caí.

Não conhecia nem metade
Do que você podia ser
Hoje em dia só saudade
Sem você nem sei viver.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Nosso amor


Na repartição tudo calmo
Um café pra pensar de soslaio
O coração partido ao meio
Foi o tempo do esperar desvairado.

Ele não voltará nunca mais
A certeza é gélida e pungente
Mas agora também tanto faz
O dia todo mexendo com gente.

Nem aquele dar saudade por estar longe
Nem ponte futura para aproximações
Seu coração sempre me esconde
Você não vive de passado e ilusões.

Mas lembro de na dor ter-me dito
Se for-se embora me ligue me avise
Mas como procederia se nem acredito?
É preciso que viva mas um dia analise.

Enquanto eu andei corri desnorteado
Sem o gozo das festas e ágapes de antes
Ao contrário fui oprimido e testado
Carrego o fardo pesado dos amantes.

Em frente aos prédios sentados falávamos
De um futuro juntos de planos
Não sei em que plano estávamos
Mas será que nos enganamos?

Sei de um que só espreitava à distância
Talvez esperando o desfecho final
Não importa é-me insignificância
Mesmo que hoje contigo afinal.

Nosso amor teve cheiro de presente novo
Aroma de festas, passeios e amor
Cheiro de carros, paixão, muito fogo
Lençóis bagunçados, hotéis e calor...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Aquele Tempo


Acredita que tinha um aroma?
Vê-la era uma expectativa tão boa
A viagem toda se passava num coma
Como num passeio de barco ou canoa.

E preparava-me no quarto marcado
Geralmente no mesmo hotel simples
Esperava ancioso estar logo do seu lado
Nada importava se temos mais que vinte.

Lembro-me da noite quente a primeira visita
E saímos afoitos atrás de um lar um leito
Você feliz como quem não acredita
E lembro tudo quando à noite deito.

Lembro do banho aguardando a ti
Pensava nos meios de você sentir-se amada
Você falava dormindo, ao lembrar sorri
E as mãos nas minhas sempre entrelaçadas.

Suas mãos brancas destoando as minhas
Minhas lembranças recocheteando todas
O medo e a dor sempre me avizinha
Quando aquele tempo insiste vir à tona.

Hoje guardo luminosidades e sombras
Naquele tempo estava estranho e confuso
Hoje sei bem que sua falta me assombra
Mas recomeço esquecendo esse passado obtuso.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Vodca, Diazepam e Nietzsche


Meu jogo é insólito
Mas não insosso
Sinto seu hálito
De menta em meu rosto.

O fogo é hiperbólico
E faço o que posso
Não me sinto bucólico
Do resto destroço.

E a posso em minhas mãos
E contenho segredos
Compus a canção
Quando a tive em meus dedos.

Desejo contido num átimo
Sinto-me ótimo e realizado
Ao te ouvir senti-me estático
Mas o corpo sabe o seu fardo.

E responde ao que faria de pronto
Consumo-te os fluidos todos
Não deixa-se fora de ponto
Consumo-te de todos os modos.

Até sua respiração aspiro forte
Pra captar e sufocar-te do jogo
A fé e a sensação conspira a sorte
Mas não vai desvendar-me de novo.

O sexo é desconexo mas não desconsertado
O resto é sempre o resto mas não desconcentrado.

O corpo é imune a moral e aos bons costumes
Sou amoral de todo e assumo
Mas vou ser sempre mal pra que não acostumes
Do resto me viro me garanto e me arrumo.

Do corpo é o sal e o doce do desejo
O frenesi o tremor é normal
Ao toque o sabor e o seu beijo.

Antes que acabe por inacabado
Um copo com vodca diazepam e um bom Nietzsche
O cansaço do corpo acabado
E faria de novo acredite.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O Precursor


O que ouvem ouvem por que ouvi
O que cantam cantam por que cantei
O que sentem o fazem por que senti
O que doam somente dão por que eu dei.

O que vestem vestirão por que eu vesti
O que penso pensarão por que existi
A alegria deles só há por que eu sorri
E morreram todos logo que eu morri.

Sim são mentiras por que a verdade eu omiti
O que era puro bom e sério guardei pra mim
Em meio a guerras e estilhaços sobrevivi
Agora não vem você falar que é o fim.

O que inventam acham que fazem por que eu fiz
As artimanhas e os trejeitos me viram fazer
E quando faz justo o que eu faço aí é feliz
Mas as façanhas e o meu espaço nunca vais ter.

O transgressor o disjuntor e o precursor claro sou eu
Não sinto dor não sinto amor não percebeu?
Aquela flor que um dia nasceu por ti já morreu.

O gerador das transgressões e o transgressor das gerações
Repetidor como uma dor tamanha nos corações
Um fardo pra ti obcecado por emoções.
Mando mais um dardo envenenado de ilusões.

sábado, 3 de outubro de 2009

Imagino


Imagino como tenha sofrido
As mãos brancas sobre o rosto molhado
Talvez tenha emagrecido
O quadro, as fotos, a ilusão, pálida.

Quem me dera ter crescido
Junto a ti os olhares sobre nossa casa
Hoje vejo destruído
Os pilares, os frutos, o coração dispara.

Não para o pensamento
Em ti cada momento, os segundos parecem horas
Não cessa o sofrimento
Lamento cada momento e sei que você chora.

As amigas, o deboche, as fantasias
O ultimo dia, a paixão e a histeria?
Onde foi parar tanto amor perdido em passagens
Hoje vejo que nada mais era da minha parte que meras viagens.

Sim, eu chorei e lastimei encostado num canto
Meu pranto foi mudo, nem um sussuro aliado ao fracasso
Eu viajei sim por você fui fraco fui tolo
E hoje eu sonhei que tinha você aninhada em meus braços.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Lágrimas


Um sonho atípico numa noite morna
Via-se de tudo mulheres estranhas e intenções duvidosas
Sonhava com correria, arbustos e demais estranhezas.

Acordei às onze até porque dormi cedo.

O medo envolvia sim, de forma inocente, incoerente, mas entendo.

Corria ora no seu encalço, ora descalço afastando-me de ti. Lamaçal... Sujeira.

Era tal e qual como nunca quisera ter visto, uma loira, outra morena, um terceiro à espreita o olho firme.

Entre penumbras e brumas que me envolviam havia muito de ti que se apercebia.
Parecia haver um pacto de finalizar com a obra minha.
A obra da minha vida.

Era como se o ódio e o amor estivessem abraçados numa amizade conveniente e conivente com o fato.

Por fim a vi se esgueirar dentro de um ônibus lotado, e uma lágrima sua caiu de soslaio, e você, forte, disfarçava e de lado pude ler em seus lábios:

_"Bichinhu..."

Lágrimas rolaram das duas faces.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Canções


Um soneto de cordas matinal
Um passaredo solene musical
É assim que soa orquestral
É o fim que sobrevoa e tal.

E antes que acabe uns beijos cedo
Infantes no vale que vale um medo
Instantes que sabe não caber no dedo
Amantes de ares que não há passaredo.

Foi logo cedo que te amei e vi
Fui bobo e o medo de amar perdi
Um lobo cego pra caçar morri
Esnobo e nego de dizer de ti.

Outrora era como é aqui
Agora é brega mas sobrevivi
Afora a regra de já me esqueci
Lá fora emprega o que sequer vivi.

Contudo se toca muito o soneto da sorte
Fortuito e gratuito é o sorteio da morte
O intuito é estúpido mas se sabe o corte
Por tudo que é volúvel não se mede o porte.

Volta-se ao soneto do passaredo
Corta-se ao meio a dor bem cedo
Importa-se o medo do amor do credo
Pergunte-se ao feio qual é o seu segredo.

Sem mais infantes ou vale ou nós
Em mais instantes estaremos sós
Mas os barbantes estão feito nós
E as estantes não são mais que pó.

Guardo um céu azul de tarde pra ti
Armo um sol que arde canto "let it be"
O fardo é bem pesado mas levarei daqui
Desarmo as armadilhas que ao ver sorri.

É a natureza olha meiga e bela
É a lei da presa agarre e mate ela
É uma beleza a chama o fogo a fera
É a canção perfeita é a canção da Terra.

domingo, 20 de setembro de 2009

Metas

Eu vou galgar
Pode esperar
Meu nome vais ler
Pode apostar.

Serei mais que a quimera
Que um dia tu pensaste
O passado enfim já era
O que foi que tu arrumaste?

Eu vou chegar
Sem seu apoio
Sem nem esperar
Como um comboio.

As metas estão traçadas
E você a mesma lide?
As retas estão trancadas
Quer que eu decide?

O gosto do seu céu na minha boca
Renovo-me a cada embate da vida
O rosto seu é véu da noite toda
Ainda nem deu-se a partida.

O tiro de largada, o sinal
Pare-me se puder então
Acredite não sou mais igual
Fica assim por mim, por que não?

sábado, 12 de setembro de 2009

A Resposta


Hoje olho os horizontes
A encruzilhada decisiva
De longe vejo pontes
Mas são ciladas, carne viva.

O dia exato, o fim do ano
Um amigo que falece
Não estava no meu plano
Quem apanha nunca esquece.

A rispidez, a insensatez
A grosseria ao telefone
Ainda chega a minha vez
Atina bem para esse nome.

O que tenho guardado no peito
É tudo aquilo que construímos
Sei que um dia faltou o respeito
Mas será o motivo por que caímos?

Alinhavado na alma lacerada
Está seu nome pra todo sempre
Sei que achas que não, está errada
Sei que alguém nesse mundo me entende.

Foram forjadas as provas, são falsas
Como foram as amigas que tens
Mas minhas palavras flutuam esparsas
Se puder entender parabéns.

Até sua família tudo corrompe
Faz sucumbir o amor que aqui zelo
O concreto do ódio se rompe
O amor renasce como ti, meigo e belo.

No seu nome tens a resposta
Por que não dá uma chance pra ti?
Renasça, redobre a aposta
Pois hoje sei amar, aprendi.

Só os fortes tem o dom do perdão
Eu não guardo mágoas, ressentimentos
Mas estou fraco, sem tom, nem canção
Sem você, só palavras aos ventos.

Não vou te esquecer, mas posso omitir
Infelizmente esquecer eu não posso
Os caminhos pelos quais vou seguir
Serão diferentes de um dia, eu aposto.

Guardo horizontes utópicos pra nós
Tentei te achegar fui pra ti deprimente
Não só queria escutar a sua voz
Queria te amar, te sentir novamente.

Vou seguir a trajetória convicto
Abri mão das guerras lacerantes
Estou aqui ileso e invicto
Nada mais como era, ou foi antes...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sinceridades


O amor parece-me oportunista
Os romances no início se mostram eternos
Mas é só um deslize na molhada pista
Acabam-se de todo como acaba o inverno.

Os eu te amo soam tão fracos
Mesmo assim guardo cada minuto
Ainda lembro do sono em seus braços
Ainda hoje eu me pergunto.

Quando soou o sino da separação?
Alessandro vive mesmo a inconstância
Eu te amo, sim, por que não?
Pra você já não tem mais tanta importância.

Eu destruí a pedra do sacrifício
Eu fui o algoz da minha alma guardada
Eu não sorri, foi muito difícil
Sei bem que após, sou uma alma penada.

Como pude, se velei o sono da minha linda?
Como posso seguir amando ainda?
Não posso mais fingir que vivo a vida
Nem tampouco posso não permitir que vivas.

Omiti pra ti mil sinceridades
Hoje estou longe até de mim, dos outros
Sozinho vejo que escondi verdades
Meus sentimentos ladram como que cães loucos.

Me sinto perdido na tempestade turva
Sinto falta das ruas, viadutos e prédios
Queria perder-me nas suas curvas
Só você amortece e alivia esses tédios.

Expresso aqui as emoções latentes
Deixo fugirem os cães raivosos
Afastei de mim os afiados dentes
As sinceridades e dias chuvosos.

sábado, 5 de setembro de 2009

Em ti...


Hoje o canto é diferente
Sua visita muda a rotina
O encanto é permanente
O sol se abre atrás da cortina.

Um cavaleiro e sua donzela
Sem mazelas, virginal
Uma moça pura e bela
Um momento feliz, crucial.

Muda-se a cor do dia, do amor
O ato concluído, consumado
O desabrochar da linda flor
Por entre os dedos de seu amado.

O seio suado arfante
O peito vibrante emotivo
No meio do amor escaldante
O enlace, o romance, o perigo.

Meu corpo todo sob seu comando
Como se eu fosse o escravo de seu desejo
Absorto e inerte seguindo seu plano
Dentro de ti sufocando-se em beijos.

E sinto cada parte sua vibrando
Enrijecendo-se em sensações de delírio
Sinto os corpos se roçagando
Num movimento mágico e lírico.

O cansaço pelo movimento contínuo
Repetitivo e não enfadonho
Às vezes penso que perdi meu tino
Mas revivo aquilo que vivi em sonho.

O sol arde no telhado do quarto obscuro
Na tarde o amor faz jorrar suas centelhas
Em ti a luz solar tira o muro
Do pudor e revela as belezas.

Pela fresta um filete obceno
De luz pra mostrar o pecado
Mas não para nem para um aceno
O mundo está todo mudado.

No fim a certeza do início
Mesmo assim desse fim eu sorri
Atiramo-nos no precipício
No abismo e luxúria que acho em ti.

Não há mais resquícios ou quimeras longínquas
Somente o mundo do nosso quarto alheio
Arrependimento não há em minha língua
Somente o sal do suor de teu seio.

Anjos (Ode a Nero)


Sou o escudeiro armado
A armada em front de guerra
Estou voltando renovado
Não sei quem me espera.

O vilão o instinto cruel
O fogo nos olhos e mãos
O poder o embate o meu mel
O destruidor de corações.

Lembro-me clara e nitidamente
Do ardor e clareira armada
Venha se quiser tente
Esperam-te na retaguarda.

Tenho ojeriza e asco de ti
Sei onde andas e aonde vais
Pode crer que na hora sorri
Ao ver os castelos caírem de sais.

Mas volto com reforço armado
Com chamas nos olhos e mãos
Sou o guardião de escudo içado
E você a lama a corja o chão.

Tenho emboscadas e estratagemas
Tenho planos que sempre esmero
Tenho você em invisíveis algemas
Tenho medo como teve Nero.

Tão admirável quanto Narciso*
E impreciso quanto Goldmund*
Sei muito bem o que agora preciso
Tenho meu barco antes que afunde.

O poder tenho a hora que quero
Tenho a mídia as atenções
Pra você um pedaço de ferro
Isso soa-me como lindas canções.

Seu anjo não vai te proteger
Aliás meu arpão sabe bem como lidar
Com seres que me querem deter
Com seres que se dizem voar.

Somos amigos somos anjos
Mas sou seu anjo exterminador
A ode final tocada com banjos
Aos gritos de desespero e dor.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Amor Proibido


Se fico sensível fica visível minha franqueza
Se fico insensível fica visível minha fraqueza
Se me preparo fica tão claro que desmorono
Se me reparo outro vem de soslaio e tira meu trono.

O olho não olha mais os resquícios e estardalhaços
Os momentos passados são todos nítidos e eu sou opaco
O passado me mostra como eu vivia em meio a palhaços
Os sentimentos reforçam e me abraçam de noite quando eu sou tão fraco.

E se bem que me proibem o amor que sei proibido
Mas o proibitivo sempre foi meu bel prazer
Contigo contido sinto bem vivo o amor a libido
E sem o perigo infelizmente não sei mais viver.

Sei bem que contigo pego hoje seria preso
Se bem que o sossego já não faz parte do meu dia a dia
Já faz alguns dias que em ti permaneço indefeso
Já fui tão surpreso por ti que enfim isso já me alivia.

E se assim queres vamos encontrar-nos mais uma vez
Para deliciar-me no ágape mundano sua pele sua tez
Para unirmos e sentirmos o que é bom e nos refaz
E mostrar que unidos somos bem mais do que a gente já fez.

domingo, 9 de agosto de 2009

Insensatez


O sofrimento nunca foi uma constante
Acredito nos pormenores e momentos
O lamento é quando torna-se pungente
E fica-se a remoer tudo por dentro.

E sem a lascívia que acomete de quando em vez
Dessa maneira fica mais fácil a completude
Sem mais torturas na internet estupidez
Não deixo as agruras obliterarem a juventude.

Fico pensando nela e o elo rompido
Como se se quebrasse de todo todo o encanto
Acordo e espanto-me sem saber que havia dormido
E fico sentido sentindo o amargo sabor do meu pranto.

Queria invadir e postar uma rosa ao lado dela
Alinhavada à janela na madrugada que insensatez
O quarto bem sei de detalhes rosa e parede amarela
Poder espiá-la enquanto dorme e sonhar com sua tez.

Não sei ao certo agora se tudo teve sentido
O choro no ônibus no avião as viagens todas
Fico perplexo com tudo contudo permaneço contido
E contigo contido em ti as lembranças são todas tolas.

Se bem que já vivo inserido em outra alma outra carne
De ti só trago resquícios de sexo e sexo e sexo
Bem que diziam aquilo de ti não cri no seu cerne
Agora vejo as verdades já ditas um dia sofri um reflexo.

Sei bem da perfeição de todos meus atos malfeitos
Sei que jamais alcançarão meus planos minhas metas
Sei bem da qualidade dos meus lindos defeitos
Sei bem o que sobra pra ti já não interessa.

E hoje convocam-me a ceias e ágapes célebres
E entendo que nunca pudera ser d'outra maneira
Creio que a vida inunda de maneiras e jeitos céleres
E olhando pra trás nada mais vejo que estrada e poeira.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

14 anos

Agora entendo o que queria
Você só tinha quatorze anos
Agora sei o que eu faria
Faço com outra seus bons planos.

Minha cabeça não processava
Talvez nem madura estava
Não que esteja agora
Mas faço melhor por ora
O que deixei de fazer outrora.

E essa não é aquela
Mas é da mesma tenra idade
E não terminaria com ela
Com tanta facilidade.

Ela lembra sim aquela da mesma idade
Aquela que também se envolvia em minha cintura
Com as pernas como menina pequena,
Dá gosto de levá-la no colo...
Ela é sim minha flor amena...
Esta de quem tanto gosto.

E ela vibra com minha atenção
E atende aos meus sentidos
Dá vida de novo a libido
Traz à tona desejos oblíquos
Mas eu sou menino faminto...

Fazia bem quatorze anos que já não me sentia
Que não me aflorava aquela ventura de antes
Aquela que se tem um dia
Aquela que só é vivida em instantes.

domingo, 2 de agosto de 2009

Nova

Ela tem olhos de incertezas
Uma ninfeta de sonhos vorazes
Uma noite de frases perfeitas
Uma moça de desejos quases.

Um sentimento maravilhoso
De quem nunca foi ousado
Um deslumbramento curioso
Usar algo que nunca usado.

Ela é toda pra mim
É simples assim, perfeito.
Tão longe do fim,
Um romance muito bem feito.

Uma situação bem tecida
Uma vida em prol de outra
Em prol da descoberta da vida
E muito bem resolvida.

Sabe, sem pormenores ou melindres, dissabores
Faz-se como bem gosta
Sem mágoas, máculas, dores.

Tudo é novo, o amor, eu, o romance...
Ela é nova, o ardor, o frescor, a fragrância...
Sinto pronto, as mudanças de tons e nuances...
É como se me satisfizesse com toda essa inconstância.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Viva!


Viva Gilmar mendes, viva a política!
Viva quem não se rende, viva os que mentem, viva a crítica!

Viva a celeridade processual...
Viva a correria...
Viva ser anormal...
Viva a anarquia!

Viva a dilação de prazo,
Viva a morosidade,
Viva o Habeas Corpus preventivo,
Viva o lobby, a boa vontade.

Viva as pessoas honestas,
Marcos Valério, Roberto Jefferson, Fernando Collor,
Viva Sarney, as coisas funestas, o petróleo nosso!

Uma salva de palmas a mim, aos Tribunais de justiça, aos Magistrados!
Viva a carniça, o começo do fim, os concursos burlados!

Viva o Lula, o Fernando Henrique e nós corruptos...
Viva o Ministério Público, os funcionários públicos todos ineptos!

Um salve a majestade, as potestades, a nós merecedores...
Uma banana à plebe covarde, aos aposentados e aos sofredores.

Viva a Maria da Penha e outras tantas que fazem por onde,
Viva os maridos que batem, e uma salva de palmas aos que bem se escondem.

Viva a corte, o clero, a nobreza e as prostitutas...
Viva os pobres mortais, enfim lutadores, pobres filhos da puta.

domingo, 26 de julho de 2009

Completude

Não mais convites a nostalgias pobres
Lutando contra pensamentos ínfimos
Pisando de sobressalto soleiras nobres
Vivendo intensamente momentos íntimos.

No afã da conquista da riqueza da fama
Esquecendo-se mazelas e funcionários
Quem acha-se muito mesmo na lama
Melhor conviver com seus reles salários.

Tripudiava até ontem o passado sem esperança
Tente me tripudiar agora então se puder
Se nem aos meus pés agora tu alcanças
E se alcançares mostra-me mesmo se é mulher.

Vejo de longe a nostalgia que tu vives
Rodeada de moribundos de armários indefesos
Eu estou no auge da vida sublime
E você rodeada de itens acima do peso.

Vejo a minha completude e me regozijo
Como sempre gozando a ventura o crime a sensação
Vivendo intensamente como só eu consigo
Exalando perigo, torpor e tesão.

Mas a plebe é vulgar e se acostuma com muito pouco
Um emprego estável garante o amor e a convivência
Não quero falar pois senão me chamam de louco
Mas é isso que sou e continuo enfim reticências...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Teias


Ainda não cansei do seu rosto
Nem do seu gosto maravilhoso
Nem do seu jeito sempre ao oposto
Nem do seu seio quando está exposto.

O sorriso a face incendeia
O agosto vem vindo de lebre
A ventura dizendo até breve
E você envolta em minha teia.

Ainda não conheço de todo
Seu sexo o prazer o engodo
A lama o ardil e o lodo
Que existe atrás do amor tolo.

Ainda não disse que desacredito
Mas finjo bem quase sempre me omito
Segue o curso a tabela e o rito
É assim que te desmistifico.

Mas faz tempo que já não me rodeias
O calor a brasa incendeia
O ardor a presa à correia
Armadilha envolta em minhas teias.

Não mais rituais macabros por puro escárnio
Nem mais torturas quiçá espasmos
Não mais flagelos de irrelevantes brados
Não mais agruras graves como cães bravos.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Meiga


Um simples abraço apertado
Um beijo louco, tresloucado
O desejo vívido percebido
Um momento único revivido.

Uma sensação de insensatez
Mas em prol da ação, da rubra tez
É sem razão, como toda vez
É sem noção. Primeira vez.

Um ágape docemente fornecido
Quisera antes tê-la percebido
Não a teria maltratado, enfim traído
Mas o mundo continua colorido.

É sem razão dizer que o mundo está perdido
Nem o amor ainda nele contido
Os sentimentos mais profundos escondidos
O prazer, em suma, a paixão, o fogo, a libido.

Ela é tão meiga, pura e suave
Eu sempre intenso, frêmito, grave
Ela é manteiga, é a cura, é a chave
Eu sou tão denso, de rapina, uma ave.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ruiva


Um frio aconchegante
Um olhar que não diz tudo
Um perfume inebriante
De incenso lá no fundo.

Um aroma de mulher
Um perfume adocicado
Um sentimento qualquer
logo logo transformado.

Um vinho contra o frio
Um beijo muda tudo
Emoção vão como um rio
Lábios quentes, rubros.

A noite é fria e pungente
O vento sopra, uiva
Mas aqui dentro fica quente
Ao lado da moça ruiva.

Os cabelos, envolvente
Os lábios, aroma, tudo
Tudo envolto na gente
Como num mundo perfeito e rubro.

Um começo incandescente
Pra quem queria um cinema-mudo
Uma proposta inicial inocente
Uma mudança final em segundos.

Ainda lembro a pele macia
O rosto rubro, os lábios dela
Os cabelos da cor da magia
Uma ruiva meiga e bela.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Um dia...


É bem assim
De grão em grão
Um sim, um não
Melhor pra mim.

Foi sem querer
Foi sem saber
Foi escalando
Pra de cima ver.

Um dia sim
Um dia ali
Sem projeções
Nem me perdi.

O turbilhão
Ficou pra trás
Agora paz
Sem pretensão.

Com paciência
Com compreensão
Sem ilusão
Mas consciência
De pés no chão.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Porcos


A injúria
A calúnia
A difamação
Você é o centro do alvo
A perseguição
Quem manda usar salto?

Conviver com isso
É nada fácil
Mas a vida é do avesso
Não dá pra ser frágil.

O prego que se destaca
Certamente é martelado
Atiram-me estacas
De todos os lados.

O preço de quem com porcos anda
Respinga no nome
A sujeira é deles
Mas farelo se come.

Enojo-me da lei que os protege
Pois temos que ser como Jesus
Que a outra face oferece?

Mas não chafurdo a lama deles
Mesmo que me atentem
Ou até mesmo detestem
Não passam todos de reles
Já eu sigo em frente.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Irrisória


Fui no encalço de dias melhores
Vi que revivi dias maravilhosos
Sabe aqueles que se tem saudade
Aqueles de quinze anos de idade.

Não que se passasse todos os medos
Nem que se afugentasse todos os fantasmas
Mas a gente esconde num cofre os segredos
E aos outros a gente disfarça.

Enquanto isso uns disfarçam com o sexo
Sem amor, infiéis a si mesmos
Todo o trauma guardado no plexo
Prisioneiros cativos de si mesmo.

Não que eu não levante mais a bandeira da transgressão...
Contudo se voluntário é que é satisfatório
Se inconsciente, é ser usado, e de mão em mão
Não passa de um objeto descartável e irrisório.

terça-feira, 2 de junho de 2009

O instante


É
Não fui recíproco
Fui omisso em diversos aspectos
Admito.

Pois é
Poderia ter sido o começo
Apesar de estar tudo do avesso
Conflitos.

De pé
Segue o rito
Mantem-se a pose convicto
Saio invicto.

Com fé
Não poderia mentir
Fui infiel aos meus ideais
Poderia insistir?

A pé
Andei percalços lascados
Fiz alianças falsificadas
Por caminhos descalço.

Não é?
Não me sabia apaixonado
Acordei a tempo de um casamento
Certo ou errado?

Até!
Vivia cegamente mas me lembro
Cada momento ofegante e extasiante
Os dias radiantes e as noites frias
Num instante.


fotografia: Orla Bardot, estátua de Brigitte Bardot (Búzios/RJ)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Sexdigital


Na internet era o tal,
Até falso nome usava;
Seria um puto em Portugal,
Mas ninguém ligava.

Do que lhe adiantava a avidez dos dedos
Se não metia a cara?
Escondia segredos e medos,
Nem câmera ousava.

Era um descarado, um desavergonhado;
Ora rico, político, esnobe;
Tinha um intelecto privilegiado,
Um virgem ridículo aos dezenove.

Nas madrugadas trabalhava,
Mas não fazia mal,
No teclado se virava,
Era um sexdigital.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Rochedos

[foto por: Alessandro Vargas, praia de Caiobá/PR]


Já havia tempos que não prestava tributos à donzela antiga,
Andava por aí mendigando sentimentos fracos,
Sentiu o vento despertando-o a seguir sua trilha,
Pegou seu rumo, sua armadura, reforçou seus braços.

Não mais o mesmo que ostentava estandartes foscos,
Nem mais ou menos do que aquilo que antes fora,
Ao menos não vive mais reminiscências de sonhos toscos,
E tudo aquilo que eram excrescências deixou de fora.

Sem mais holofotes que só ofuscam o próprio brilho,
Tal qual a lua faz com suas estrelas,
Tal qual um trem que enfim percorreu seu trilho,
E como cometas muitas vias ei de sabê-las.

O castelo é longínquo e tem muitas ondas em meio a rochedos;
A minha nova donzela espera ofegante o desfecho tórrido,
Preciso livrar-me de alguns desafetos, seixos e medos,
Serás a minha noiva, meu sonhos que livram-me de dias tão sórdidos.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

O Embate ou Natasha

"Retrato de la Señora Natasha Gelman (Portrait of Mrs. Natasha Gelman)" por Diego Rivera


Cada dia um novo êxtase
Meu anjo tem olhos castanhos
O frenesi toma-me conta
Os dias já não são mais estranhos

Entrarei pela porta da frente
Não há como me barrarem
Quem pode, controla mentes
Quem não pode come migalhas

Tentativas vãs de insulto
Não afligem minhas armaduras
Intactas contra os estúpidos
Tem que ter muita bala na agulha

Sou muito mais que diplomacia
Tenho as palavras abençoadas
Venho acompanhado de magia
Não tenho medo de nada!

Nada que possa fazer
Vai impedir o que está por vir
Estou indo pegar o que meu
E não são imbecis que vão impedir

Mas é como diz o ditado
Tem que cohecer bem a trama
Respeitar a dama na mesa
Aproveitar a prostituta na cama

Amo o debate quem não o sabe
O embate é meu grande forte
Não aconselho ninguém a encarar-me
Mas se quiser tentar boa sorte.

domingo, 26 de abril de 2009

Feliz

Uma mentirinha bem sutil
Pra levantar o seu ego
Só com você eu sou feliz
Só com você eu faço sexo

Só com você eu sei sonhar
Só com você eu sei viver
Se não fosse eu me afastar
Não estaria com você

Um momento feliz de afago
Conheço por dentro e por fora
Conheço de todos os lados
Nada ficou de fora

Nada ficou por fazer
Nada restou acabado
Tudo por acontecer
Ainda não fui derrotado.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Um Olhar Ao Horizonte


Nesta vaga folha de papel branca
É tão difícil imaginar a vida
Esta de tijolos alaranjados construída
Como uma canção de amor bem franca.

Tive de dar uma volta no pátio
Tomar água, olhando pela porta de vidro
Lembrando os passos perdidos
E dos segredos mantidos, intactos.

É realmente o velho caminho de chão batido
Que do alto o verde se eleva
Que de entre as pedras que nasce a relva,
No alto da montanha espelhada ao vidro.

É a procura do inacessível contentamento
O mergulho na espessa onda de ar
Que entra leve pelas frestas a dissipar
A tristeza que é carona do vento.

Sentar dissimulando pensamentos
Que se nascem, nasceram do nada
Um nada que aguarda à beira da estrada
Estrada errada que confunde sentimentos.

Mas pela última vez quero meu nada
Pois esse espectro que se aproxima é a escuridão
Mas antes do entardecer a conclusão
Que a felicidade é como chuva na calçada.

E continuo sobrevoando bem com calma
Observando atentamente essa beleza
Em minha vida só encanto, só pureza
Para que viva muitos anos minha alma.

domingo, 19 de abril de 2009

Segue o Rito


Tudo volta ao normal
O sexo sadio habitual
O frenesi, o ritual
O suór do corpo do sal.

A priori ainda se resiste
Mas a gente supera em prol da ação
À razão a gente se omite
É assim que nasce a paixão.

O corpo enrijece afinal é humano
As ações são medidas faz parte do plano
O corpo se entrega o corpo é mundano
O corpo entregue por debaixo do pano

A boca encontra sua fonte da vida
E dá vida ao momento traz alento à carne
Outra boca de encontro à viva ferida
A língua de encontro à seiva no cerne

Sinta o licor por ti preparado
Elaborado no âmago dos seus lábios
Esse por ti tantas vezes provado
Que sugo seu néctar até restar acabado

A ação é torpe e a causa é vã
Beijo as maçãs dos seios à mostra
A paixão existe e agora é o afã
Traição, pecado como se gosta

O sabor das suas coxas e virilhas
O torpor da minha língua em sua pele
Suavemente sigo suas trilhas
Pra chegarmos ao prazer que revelas

Enfim se prosta ao chão pra mim de costas
Ajoelha-se como adorando o invisível
Te agarro pelos cabelos como sei que gosta
E lhe mostro um lado meu não tão sensível.

Os sussuros ficam altos viram gritos
Eu me coloco inteiramente em sua ferida
E bruscamente, velozmente segue o rito
E enfim tu bebes loucamente o mel da vida.