sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Pessoa Comum

Em itálico (*) trecho de Fernando Pessoa - Autopsicografia

Não sei o que é isto, não sei quem é este,
Não sei se o que falo tem fundamento,
Não passo um momento pensando nos outros
Porque para esses outros não importa o que eu penso.

Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto com a imaginação.
Não uso o coração. *


Não sei quantos dias fomos nós dois,
A dois dias atrás nem sei quem eu fui,
O tempo passou, o dia se foi,
O sol já se pôs, se foi nossa luz.

Se foi só carinho que exalava perfume,
Não sei dizer com as palavras corretas,
Não havia pecado, não havia ciúme,
Mas as ruas da alma estavam desertas.

Sou sim um fingidor,
Melhor ser alguém que finge a for
Do que sofrer por revelar a dor que deveras sinto.

E ainda dizem que minto.

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