segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Flebotomia


















Nas suas veias
Corre o mal
Envolto em teias
Abissal.

Lacera e corta
Flor de cactus
É natimorta
Como num pacto.

Veias azuis
Fez-se a sangria
Feixes  de luz
Flebotomia.

O cataclismo
A catacrese
Seu aforismo
Sua catequese.

Como uma aranha
Em suas teias
Garganta arranha
Barganha feita.

Na sua lápide
Nenhuma lágrima
Frio de mármore
Póstumas lástimas.

Nas suas veias
Sangria desatada
Esvaindo em gretas
Alma ensanguentada
Nas suas gavetas
Sortes não lançadas
Foi como um cometa
Passou, brilhou, mais nada.


***

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Coisas Suas


















Suas coxas são como colchas
De ternura, carinho e afago
Suas pernas são sempre ternas
E em meio a elas me sinto abrigado.

Seus cabelos são sempre belos
Mesmo quando não os tenho por perto
Seus braços são mais que abraços
São o aconchego do mundo decerto.

Sua face é sempre tão afável
E sempre branca como a lua rainha
Seu amor é sempre tão amável
Mesmo que não meu, e tu não mais minha.

Saudade sua é sempre saudável
Pois vejo que um dia fui feliz e agradeço
Sua graça é sempre muito agradável
E sei que me amas mesmo se não mereço.

Seu corpo é da cor do desejo
E envolvo meus beijos por ele todo
Nossos lábios estão por todos os lados
Tem nossos segredos nossos sonhos e medos.

Suas costas nuas; são só coisas suas
E nada se muda, no fundo, não mesmo
Tem nossos beijos no clarão da lua
E vejo por dentro ainda aceso o desejo.

O que não é banal nunca é igual
E o que é tosco cansa, enjoa, perde a graça
Um amor só existe se for descomunal
E um amor não morre não importa o que faça.

...


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Gosto de Ti

Gosto da forma como me olha
Gosto da maneira como se porta
Gosto da forma como me toca
Gosto da maneira com que se importa.

Gosto quando parece desinteressada
Gosto da forma como diz nada
Gosto por ser fiel, dedicada
Gosto da sua fala sempre pausada.

Gosto da nossa total discrição
Gosto de ti, mesmo parecendo que não.
Gosto da sua ternura sem fim...
Gosto da forma como gosta de mim.

Gosto do gosto quando me beija com gosto
Gosto do torpor que causa em meu corpo
Gosto da maneira que diz que me adora
Gosto por esperar por mim toda hora.





(...)

"You're not right in the head, and nor am I, and this why...
This is why I like you... I like you... I like you..."

(Morrissey)



Um ou Outro Dia...

Um dia está na festa
Outro dia nada resta.
Um dia de conquista
Outro dia sai da pista.
Um dia tu socorres
Outro dia tu quem morres.

Tem noites de consolo
Tem noites só de choro.
Tem noites de abandono
Tem noites só de sono.
Tem noites de prazer
Tem noites de morrer.

Vou levar pra ti as flores
Mesmo quando tu te fores
Vou guardar por ti o amor
Não importa aonde for
Passe o tempo que passar
Por ti sempre vou esperar.



***

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Arquivado




















Contra todos e contra ninguém...
Um por todos e todos contra mim.
Correndo e vivendo a bem mais de cem.
Mas não vão me alcançar. Não verão o meu fim.

Meu crime é perfeito, meu plano infalível
Tente achar um defeito no meu jeito incomum
Tenho cartas na manga, e uma astúcia incrível
Não sou nenhum apedeuta, não sou lugar-comum.

Sempre terei a carta do jogo.
Tenho um cheque-mate, muito bem engendrado.
Tenho mais que artimanhas, em minhas mãos tenho fogo.
E tudo ao final, sempre morto e arquivado.

Tenho minha biografia ao alcance das mãos
Sem mancha, sem mácula, e os dias normais
Vou caminhando com minha sombra e a razão
Sou blindado a perseguição e lides judiciais.

Estou no encalço do topo e já falta tão pouco
E lá de cima minha mira é certeira
Qualquer um temeria um cão louco e solto
Que não pouparia suas balas pra uma presa ligeira.

E vou te caçar como animal leviano
Que leve mil anos mas esse é meu plano
Seu tempo é bem curto, e o tempo passando
E vai se aperceber o quanto isso é insano.

Um inferno achegando
Um inferno achegando
Tudo preparado como sempre mereceu
Tem carruagem de fogo já te esperando
Mas dessa vez não vai levá-la pro céu.


<<>>



"...alguém sempre levanta e me faz essa pergunta: Por que você escolheu escrever sobre assuntos tão medonhos? Eu geralmente respondo essa com uma outra pergunta: Por que você acha que eu tenho escolha?"


(Stephen King)


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Ossos do Ofício

Você está caminhando
Na linha do precipício
No início parece difícil
Mas não há saída pra isso.
Basta esperar. Ossos do ofício.

Você desmontou aquele jogo todo
Alguém acreditou no seu engodo?
Alguém engoliu o seu choro?

Por vezes pareceu tão menina
Mas na verdade é apenas cretina
Quando foi que a puseram lá em cima?
Seu lugar não é lá em cima.

A qual casta acha que pertences?
Mistura-se aos bichos mais peçonhentos
Qual seu nicho que não um covil fedorento
És um animal vil e violento.

Sei que há criaturas das trevas
Que se encarregam das almas malévolas
Estão no seu encalço por mágoas decrépitas
Mesmo que em seu mundo são todas indébitas.

Acha que tens o posto de elite
Enquanto caminha sobre dinamites
Com salto agulha e passos de fogo
Não sabe mesmo jogar esse jogo.

Acha mesmo que no fim teve sorte?
De que adiante essa pose, esse porte.
Deixa de ser idiota.
No fim para todos é morte.
No fim é só ossos e morte.