domingo, 12 de agosto de 2012

O Suicídio

(A imagem é obra do pintor teuto-francês Hans Hartung)


Cinquenta palavras devia ter dito
Antes do estampido do tiro no ouvido
Ou uma chamada pra um velho amigo
Que talvez tivesse me ouvido.

Algumas ações devia ter feito
Antes de puxar o gatilho no peito
Paixões, ilusões sem proveito
Tempo ao tempo. Momento. Defeito.

Se tivesse lembrado do seu riso, sua boca
Talvez não amarrado aquela corda com força
E assim pudesse falar com a voz rouca
Que toda a dedicação por ti ainda é pouca.

Acha covardia da minha parte comigo
E se pulasse de um prédio comigo?
Acha uma prova de amor, de um amigo
Ou pra você não lhe agrada o perigo?



Talvez desmoronasse sobre seus joelhos
Ao ver todo o sangue respingado no espelho
Ao ver a alma estilhaçada ao banheiro
E os dois pulsos cortados ao meio.

E todos os antibióticos não param a dor
A alma é gélida e o chão sem calor
O mundo é frio cheio de vil dissabor
E a morte tem um cheiro, um sabor.

E é sem sentido a falta de medo
E com a morte se encerra um segredo
E a vida sai de cena mais cedo
E num segundo o mundo escapa dos dedos.


* * *


"A partir do momento em que nada nos detém, deixamos de ser capazes de nos determos a nós próprios."


Émile Durkheim - Da obra homônima "O Suicídio"

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