sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Aves, Naves e Naus


Desprovido daquela sanha lancinante
Mas a sagacidade constante
Tem coisa pungente na gente
Assanha o medo e a mente.

Tal e qual a ave adora as alturas
Aviadora sendo ela própria a nave
Uma nau no Triângulo das Bermudas
A ave nave navega em águas turvas.

Dentro das entranhas profundas criaturas
E estranhas aparições simulando conjecturações
Em meio a digressões de imagens às escuras
E as escunas afundado nas espumas.

E a afanar uma glória tépida mar adentro
Sem afogar nas águas gélidas tenebroso
É sentir-se tal qual a urze o rododendro
E degustar do próprio mel mau venenoso.

Segregar os elos pra elucidar os dias plúmbeos
Como furacões de destruições helicoidais
Não existem mais dias normais não existe paz
E tanto faz se o amor jogou-se do cais ao mar.

Foi defenestrado o que antes fora tão digladiado
E há muito soterrado e o vil soldado sofismado
E turvam fontes quebram pontes lama e barro
Naves e aves. Naus aos montes. Naufragado.

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terça-feira, 25 de outubro de 2011

É Por Ti

A arte abaixo é obra da pintora gaúcha Regina Schwingel (reginajschwingel.blogspot.com)

Você merece todas as poesias e poemas que ainda nem fiz
É por ti todos os sonetos odes e óperas da idade média
Todas as melhores orquestras do mundo tocariam pra te ver feliz
E se por nada você sorrisse eu comporia a melhor comédia.

E eu nasceria em todos os séculos e séculos até conquistá-la
E em todas as suas vidas eu gostaria de poder contemplar-te
Duelaria com seu prometido mesmo ferido pra poder levá-la
E fugiria à noite contigo no meu cavalo para qualquer parte.

E seria o criminoso mais destemido para protegê-la
Ou nas tabernas tocaria piano para vê-la dançando
Melhor seria morrer que viver sem sequer conhecê-la
Mesmo assim eu a criaria para amá-la sonhando.


A arte acima é a obra "Colhendo Flores" da pintora gaúcha Regina Schwingel
reginajschwingel.blogspot.com

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Monitores


Fui comprar um cigarro e nunca mais voltei
Cansei de estar sentado na frente do monitor
O computador que monitora sua vida é sua grei
E todos meus amigos não me sabem, e não os sei.

Diante de toda revolta a passear de bicicleta
Às três e meia da manhã onde já não tem mais ninguém no Face
A propósito fica uma neurótica, invisível, on line, discreta
Sentindo um profundo vazio, invisível como sua vida, na certa.

E afinal o que você compartilha com todos os seus monitores
Que dia e noite perscrutam sua vida, são eles os seus seguidores?
Se cuidar da vida dos outros virou a rotina da noite
Nossa missão só será abortada em falhando os computadores.

Carregando uma bola de ferro amarrada ao seu calcanhar
Conectado por inúmeros cabos armazenando vírus da mídia
Você acha que é o grão-mestre na arte de comunicar
Mas por dentro já foi dominado por vazio, tristeza e acídia.

E não pense que essa minha postura é vintage, cult, retrô
Simplesmente não se manipula pessoas como um robô
Se deixar levar pelo engodo da frivolidade, do google,pornô
É achar que desafia o mundo que não conhece além do vitrô.


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(Poema gentilmente publicado pelos amigos do site Olhar Direto em 24/10/2011)
http://migre.me/5ZCuX

Sem Rumo


Pegar o rumo sem destino
Saindo ainda no escuro
É viagem desatinada sem prumo
É família junto e amigos.

Lembro da carroceria e do vento
Como é bom ser menino!
E menino digo criança
Um tempo sem dor nem lamento
E se tinha, francamente, não lembro.

Deitar em sacos de arroz
Viajar contemplar as estrelas
Numa viagem intensa e veloz
Tanto é que já chegamos aqui...

Minha viagem tem cachoeiras
E salto de olhos abertos
Mergulho na vastidão verde das folhas
Quem disse que nunca dá certo?

O medo é um freio pra tudo
E é sem rumo que o mundo se move
A gente até tem certezas no fundo
Mas as correntezas do rio são enormes.

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sábado, 22 de outubro de 2011

Atonal


Gosto é da rima despropositada
E quando a vida é desatinada
Tudo combina com nada.

O nada combina com tudo
O nada é nada é tão mudo
E daí se rio do surdo-mudo
O mundo é assim e eu não mudo.

O peso do corpo na corda bamba
O peso do corpo com a corda no pescoço
Que cai da cadeira de balanço
A queda é branda num poço.

Não tem essa de política
A vida é tão paralítica
Quando pensa de uma forma analítica
Tudo é só uma questão de estatística.

E pra cada celenterado sentado ao seu lado
Existem uma centena de invertebrados
Exigindo seu sagrado trocado
E torrando centavo a centavo.

E não é querer ser igual
Ser diferente não é normal
O mundo é mesmo atonal
E só destoa o igual do igual.


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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Cálida

A imagem abaixo é a obra "As três idades do homem" (1512) do pintor renascentista Ticiano do século XVI.


O que é meu e seu é só nosso mundo
Ninguém pode entrar e ninguém saberá

E cada segundo é um mistério profundo
Que não há como entrar e saída não há.

E no labirinto de nossos desejos
percorremos os corredores milhares de vezes

O nosso suicídio é o gatilho dos beijos
E podemos amar por meses e meses.

E numa mistura de amor selvagem
Algo como morrer em sacrifício

Onde seu corpo é a melhor passagem
E morrer de amor é bem mais que um ofício.

Beber o vinho da sua boca cálida
É embriagar-se do mel dos anjos

Habitar a vivenda de sua carne pálida
É de prazer ser levado à morada de Tânatos.



A imagem acima é obra do pintor Hans Baldung (1510).
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Brisa de Outubro

O meu querer é não querendo
Porém tão intenso e imenso por dentro
Que acaba acontecendo.

O meu querer é mais que vivendo
E quando penso em alguém já sinto chegando
Sinto o mesmo momento como se estivesse já vendo.

E mesmo sem conhecendo
Já imerso nos olhos posso ver a palpitação e o corpo tremendo
Quando menos já amanhecendo.

E por mais que pareça impuro ameno sutil tão pequeno
O meu sentimento é maduro sereno como uma brisa de outubro
Soprando em novembro.

Mesmo sem conhecê-la já espero no vento de braços abertos há muitos anos atrás
Ou num futuro propínquo
Já sinto os abraços os beijos e afagos que virão ou vieram num momento longínquo.


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sábado, 15 de outubro de 2011

Inconclusivo



Quanto mais a loucura invade minha sensatez
Tenho uns achaques de quase que
E quando o raciocínio volta de quando em vez
Sinto dentro de mim uma falta de.

E quero terminar sem reticências
Sem ponto nem traço nem travessões
Vou ser inconclusivo como sempre faço
E termino com portanto, ademais...
Simples, sem rima.

E por ora, quero dizer, outrossim
Não tenho muitos caminhos a seguir
Todavia, contudo, entretanto e enfim
Destarte não sei onde ir.

E minha obsolescência é bem mais que literal
Nas adjacências já questionam minha moral
Mas um dia tu serás tal e qual
Só aguarde e verá ponto final.



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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Eu sou o Monte Everest


Nascido das intempéries
Da força das tempestades
Moldado por desgastes em série
E inúmeras adversidades.

Quem ousa chegar no topo
Pode morrer ao tentar descer
Os poucos que chegam no cimo
Não gostam do que vão ver.

E todas as trilhas são traiçoeiras
Umas beiram ao precipício
De perto só ribanceiras
De longe algo mais que difícil.

Ousar desvendar é loucura
Onde muita gente já pereceu
Dá vertigem, viagem, tontura
E quando menos percebe perdeu.

E dentro de seus limites
Há quem veja beleza
Há quem ainda se arrisque
Mesmo com o frio e rudeza.

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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Marcas

Mesmo as lágrimas em seus olhos não tiram a beleza do seu olhar
Nem mesmo as marcas que ficaram da tristeza não tiram a pureza de querer amar...

Um segundo sequer sem vê-la é um minuto a se afogar
E o oceano disso tudo é nada mais que seu olhar.

E quando sei que não está perto é como se soterrado por mim mesmo
Uma tonelada de terra e lodo bem acima do teto
Quero falar contigo e se não a vejo mais do que morro
E quando acordo nem o inferno é pior que isso tudo.


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