quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Considerações

Entrelaçados num infame desejo
Espalhados na cama como num céu estrelado
Estilhaços de ti que se traduzem em beijos
Estardalhaços assim costumam causar certo impacto.

Se não fosse o desatino o destino esse jogo
Estaríamos contemplando o belo de novo
Com certeza viveríamos um para o outro
E consumiríamos a paixão em nós feito fogo.

Mas é como profecia e necessária se fazia
Se não fosse a tormenta não agradeceria a calmaria
E quem se lamenta perde o brilho do dia
E a gente tenta mesmo acabando a energia.

E essas são só considerações vãs vis ou inúteis
Mas quem disse que o que vivemos não foi deletado?
Hoje imagino você crer os diálogos fúteis
Hoje imagino você me crer antiquado.

Contudo o jugo é sempre duro pesado
Mas cada qual carrega seu fardo
Lamento mas passado é passado
Mesmo que ainda caminhe ao meu lado.


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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Resplandecer.

Tão franco é o meu saber
Quanto meu amor há de nascer
Não surdo como outrora agora
Até então resplandecer...

Estou na vindima dos teus beijos
Esperando pelo vinho que preparas
Enfim vítimas dos nossos desejos
Sentido o frenesi estampado na cara.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Outra dimensão

Estava sentindo-me no meio termo
Num universo paralelo
Estava vivendo num campo ermo
Uma nau perdida em meio ao mar aberto.

Mas meu maior jogo é o mundo todo
E a vida em si o supra sumo do jogo
E fase a fase vencendo o engodo
E se passa a fase, um desafio novo.

É difícil saber o factível
Vencer o invisível
Entender o incrível
Ser o invencível.

Invisível como em outra dimensão
Insensível como em outra estação
Mas ainda abrasam-se mil corações
Contudo, aceito isso... não, não.

E agora mais que antes, dono do meu eu
Senhor das minhas decisões
E se alguém antes perdeu
Já não passam mais que digressões.




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domingo, 19 de dezembro de 2010

Renata

Perder você não foi como perder um relógio ou um objeto qualquer.
Perder você foi perder conteúdo, foi perder tudo. Uma mulher.

Aquela de beleza ímpar,
Doçura inata.
Aquela de surpresas lindas
Enfim, Renata.





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Poema escrito em 06/07/2009.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Vivo

Nada na vista no últimos tempos
Mas de tempos em tempos uma bela conquista
Não sigo sua pista mas bem que querendo
Se bem que persista já segue perdendo.

E ver o seu corpo já trêmulo todo
Foi louco, foi bobo, mas êxtase, jogo
Entrei no banheiro, lavei o meu rosto
Senti-me lascivo, e vivo de novo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A Crença


O frenesi é rítmico e louco
O temor existe bem pouco
Na verdade talvez do seu corpo
Mas quando achegar já estarei absorto.

Ela acopla-se em meu corpo de todo
Remexe-se como queimar-se no fogo
E meu corpo envolto é seu jogo
Faz dele o que quer até morto.

Ela tem a beleza da renascença
Em volume, textura, e sabores
Faz da lascívia que sai dela minha crença
Traz-me paz seu perfume de flores.

Aprisiona-me em seu quadril feito cão
E febril excito-me na pantomima
Anima-se e engole a mim feito pão
Abasteço-te de tesão, proteína.

Não foge à dança tresloucada
Entende o nexo do meu despudor?
Se escolhes a mim todas as madrugadas
É que Precisamos de sexo, energia, calor.

Na nossa mente ninguém sabe o que passa
Somos o vício um do outro, a luxúria
Amo você desse jeito, devassa
Amo seu corpo, seu poder, fogo e fúria.


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sábado, 6 de novembro de 2010

Mágoas...

A noite é feita de sons graves
E ladram trovões ao longe
Babam gotas de chuva esparsa
Da boca do cão que se esconde.

E quando ladrões se veem aos montes
Roubando nações, horizontes
Multidões retiram-se em montes
Mas na volta não existem pontes.

E os sentidos lancinantes
Como pontadas sentidas ao longe
O algoz se esconde, se esconde
Enquanto a dor essa se expande.

Brados do céu desabam
E desaguam mágoas que parecem eternas...
E quando as águas todas se acabam
Ficam lembranças passadas e ternas.


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Carta de Amor



Os olhos distantes e intensos,
O aspecto infante de antes,
Os momentos parecem tão tensos,
O peito em chamas, arfante.

Vejo desejo nos olhos seus,
Um porto seguro na sua inconstância,
Você é perfeita, um presente de Deus,
Um brinde a doçura, ao amor, à infância.

Uma pureza que fiz votos de abolir,
Mesmo assim fico perdido se a encontro,
Um fascínio que me dá ao ver sorrir,
E ao lembrar da sua beleza fico tonto.

Mais feliz é saber do seu amor,
E quando diz que ainda me ama e quer amar,
E sem dormir enche meu peito de um calor,
E fico a noite toda em claro a delirar.

E quem viveu um amor que nos vivemos
Sabe bem o que é viver em sonhos lindos,
E se promessas um ao outro nós fizemos
Agora resta finalmente nós cumprirmos.

Viajo nos seus olhos, seus cabelos
Da sua pele, a maciez, uma delícia,
Seus encantos sei que em breve posso tê-los
Enfim te dar o meu amor, a ti, Patrícia.

Esse poema é dedicado ao seu sorriso,
É uma canção a sua beleza, sua ternura,
Pra que saibas o quanto amo e te preciso,
É uma carta de amor sincera e pura.





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sábado, 23 de outubro de 2010

Em jogo

Sou todo eu
Sou todo mesmo
Sou todo seu
Sou assim a esmo.

O tempo todo
Inconstante jogo
Do mesmo modo
Herói reprobo.

Às vezes morno
Mas não de todo
Inferno é fogo
E a vida é o jogo.

Ora me jogo
E machuco todo
É sabido o jogo
Morrem mil a rodo.

Em ti me envolvo
E me coloco todo
Em ti sou novo
Sou inferno e fogo.

sábado, 4 de setembro de 2010

Meus eus

Teço diálogos com meu eu pequeno e digo:
_ Não tenhas medo!

E adolescente com cara de soldado, difícil:
_ É só o início.

E meu cãozinho que perdi, onde anda?
Amigo Panda.

Tantos sofrimentos que envergaram tudo...
E sentimentos de mudar o mundo...
Tentei gritar mas me encontrava mudo...
Tentei lutar mas não havia escudo.

Forjei sorriso na máscara de ferro
Soltei um berro quando menino tímido
E hoje é único esse meu jeito tépido
E antes lépido me diziam cínico.

E o menininho de terninho aos seis
E a ternura sempre ali presente
Mal sabia ter aos dezesseis
Um desafio de seguir em frente.

E uma vontade de pular o muro
Os arrepios a correr na espinha
O mundo meu era tão obscuro
E o meu outro eu era o que tudo tinha.



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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Fúria e Pecado


Uns dizem de nós predestinados
Outros chamariam adrenalina!
Somos amantes mais que antes tresloucados
Tal qual na música feito fogo e gasolina.

Somos luxúria, fúria, vento, dor, pecado;
Somos tornado, violência, fim, início,
Somos o corpo a se esgarçar pelo imediato,
Somos um só corpo a se atirar num precipício.

E em sua pele, sem querer, me envolvo todo
Livro do medo, aquele mesmo,tanto faz.
Se pensar bem irás julgar o amor um jogo,
Mas nesse lodo e engodo todo sinto paz.

Em sua boca meu refúgio, meu abrigo
Livro de todos os ataques e granadas
De ódio em chamas que me lançam o inimigo
E em ti sou guerra, mil guerreiros, força armada.

És meu algoz, minha aliada, fogo amigo,
Tenho em ti mais que perigo e atração;
Somos bomba nuclear, enfim perigo,
Mas tenho abrigo e meu refém é o coração.

Lembro dos beijos em meio à guerra, tantos mortos
Estilhaços de pecado, sangue e gozo,
Enfim dormimos abraçados, nossos corpos
Alinhavados num romance perigoso.

domingo, 15 de agosto de 2010

E agora, Pereira?

É, a coisa vai mal, como antes, igual
Cadê o troféu na algibeira?
E agora, Pereira?

Nem fatos nem nada,
Nem fotos, roubada, nem truques, nem mangas
Como vai sua amada?

Adiantou o disparate?
A espera aviltante, a disputa aflitante,
Quase chegou-se à cegueira
E agora, Pereira?

Mais uma vez vou dizer,
você nasceu pra perder
E o que vai dizer lá na repartição?

É, vai perdendo o respeito
Já não bate no peito, nem sequer emoção
Afinal foi eleito, mais uma vez para um pleito
De segunda opção.


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sábado, 7 de agosto de 2010

O Beijo

Digam o que disserem
Em vão ou sem importância
Sou seu mal necessário
O vento da mudança
Arraigado, embrionário.

Como um furacão, um tornado
Depois que passa tudo é mudado
Nada mais como antes
Como ferro em fogo forjado.

Sei que podes ter sofrido
Mas sou o beijo de Judas
Vê o quanto tens crescido
Ainda esnoba minhas ajudas?

Você é uma peça do tabuleiro
Não vês que esse mundo inteiro
Se ri quando se desfacela,
Entende a contenda, a mazela?
E ainda despreza meu zelo?

Não escolhi-te a esmo
E sou eu seu algoz, sou eu mesmo
Um amante, um perigo, sobrepeso
mas nunca disse que era fácil, não é mesmo?



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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Amor Visceral

Não posso negar
Mas não dá pra falar como é estar
Intimamente ligado a ela de forma visceral
Alinhavado de maneira tal que impossibilita
O dialogar de maneira mais lúcida.

É ódio e amor
Tanto é que não bastam os toques beijos carícias
E as porções de delícias misturadas a sangue
Cortes e dor.

É bem mais que carnal
É a linguagem das unhas a violentar a alinhavar
Sua pele na minha como a cimentar
Um romance anormal.

Está perto a conquista!
E num golpe de vista esquivei do seu ódio
Expus minhas feridas e subi no meu pódio
Como um crime perfeito sem rastros nem pista.

Enfim a vitória
Escapei dos falsários angariarei minhas glórias
Trancafiei em armários o pavor do passado
E o presente esperado me espera dourado
Em alegrias notórias.




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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Uma passagem

Hoje o dia nasce novo
Até a lua brilha nova
O sol que queima o rosto
É o mesmo que me acorda.

No balanço da viagem
Admirando a bela lua
Ora um livro, e a paisagem,
Em um momento a face tua.

E quando pensas que estais forte
Os seus pés são seus amigos
Eu sozinho sou meu norte
E enfrento a dor sozinho.

Mas quando seus pés já se cansarem
De ti e a dor vier
Eu serei a fortaleza
E você só uma mulher.

Tudo isso uma passagem
Mas não será como antes fora,
Quando acabar sua coragem,
Não espere que a socorra.

Enfim, a dor é forte
Mas amanhã restabeleço
A lua é bela, o sol é forte
Enquanto dormes, reapareço.




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terça-feira, 20 de julho de 2010

Sem óbices

Tem dia que a gente acorda para perder
Mas de fato ninguém pediu pra nascer
E se o fato é pedir pra perder
Certamente sabe-se o por quê de fazer.

Mas entregue-se ao amor assim de peito, de pronto
Faz tanto bem amar, que amor deixa-me tonto;
E não sei o que é cansar, e não sei já faz muito tempo,
E deito-me a descansar e sonho contigo e me encontro.

Sem óbices pra te esquecer, aliás, nem um pouco;
O problema será me entreter, parece crer que estou louco,
Mas vou mudar pra melhor e feliz feito cão solto,
Acabam-se enfim as barreiras, e o mundo feliz, claro e novo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Não Critique O Que Não Consegue Entender

Poema extraído da obra "Velhos Invernos e Dias de Diamantes".



Não critico, pois não entendo,
Não posso ver atrás dos seus olhos,
Não sei o que vês, não sei se está vendo...
Seu mundo caindo, seu mundo descendo.

Repreensão, repressão, reprimenda,
E ainda mais, tudo o que dizem de ti,
Sem ação, reação, reticências...
Você não vive, não come ou sorri.

Mas você bebe, e o cigarro te consome,
E você some como fumaça no ar,
Não come, não vive, não dorme,
Por falta de amor e de um lar.

Indecente, inerte, inexistente?
Não critico, pois não entendo,
Não posso ver atrás de seus olhos,
Nem tampouco seu mundo descendo.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Leve

É, meu amor, o que escrevo tem dor, dor de verdade,
Por isso, amor, aonde for, leve um pouco, aliás, leve à vontade.

Espero

Das bilhões de pessoas na Terra
Podia ter errado com qualquer menos ela;
Já sofrera o quinhão e há sequela.
Podia ter tido compaixão, mas supera.

Sei que hoje seria perfeito
Estou bem mais perto e esmerado
Faríamos quase tudo do mesmo jeito
Aquele presente por nós tanto esperado.

Sonho ouvir sua voz rouca e doce
De madrugada em meu telefone
Mesmo que palavras doces não fossem
Mas suspiraria se ouvisse meu nome.

Lembro que marcamos um reencontro
Num campo verde de sonho e de flores,
Infelizmente houve dano, confronto,
Mas já faz tempo, e calaram-se as dores.

E a distância nunca teve importância,
Mesmo distante mais que antes espero;
Não vejo do esperar decadência,
Não quando é aquilo que quero.

sábado, 26 de junho de 2010

Loucos

E como são meus cabelos revoltos
Onde estão meus parafusos já soltos?
O frenesi achegando-se aos poucos
Porque o mundo é o covil desses loucos.

O paraíso aqui é pra poucos
Tanto gritam aqui e ali que até roucos
Afugentam-se as almas feito cães loucos
Falando-se em loucos sei que estão soltos.

Acordo absorto no chão feito morto
Nem colchão, nem lençol, nem um pouco
O abrigo faz parte do engodo
O inimigo tece as regras do jogo.

Feito Nero por que brinca com fogo
A depressão cai feito um mundo ruidoso
Ninguém escuta ou perscruta, sem rogo
O mundo louco aqui jaz, perigoso.

E pra fugir disso tudo, seu corpo,
Onde mergulho num afago estrondoso,
Não me afogo é um lugar tão gostoso,
É o lagar do vinho mais poderoso.

E recebes em sua boca o mel todo
Faz-me esquecer o mundo dos loucos
Em meu universo só nós em meu jogo
Fora do jugo dos cruéis homens soltos.

(...)

domingo, 20 de junho de 2010

Torto

Não sei que diabos mas o queriam internado
O queriam bem longe, pra lá...
Ele comprou discos do Caetano, usados
E uma tela regionalista em Cuiabá.

Gastava dinheiro, ousava.
Fazia amigos só por afinidade.
Nem drogas mais usava.
Por isso mal visto na cidade.

O diziam torto, se bem que por isso, natimorto.
Não ligava, ao invés disso, cantava João Bosco, absorto!

Remendando sequelas antigas
Já não existem mais aquelas feridas
Pode sentar já no cais sem partidas
E pensar como faz bem a vida...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Esses e Aqueles


Amo o amigo que faz complô,
Amo o amigo que não é robô.

Amo aquele das controvérsias,
Amo aquele que me prega peças.

Gosto daquele das desavenças,
Melhor é-me ainda o fujão das crenças.

Não aprecio tanto o que me defende,
Mas mais ainda o que, enfim, compreende.

Não sou dado a esses dos elogios,
Mas mais daqueles de olhar sombrio.

Não me agrada aquele que da briga foge,
Me alegro desse que mata ou morre.

Sou mais esses de escudo e espada,
Do que o afago de hostis palavras.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Vidas em Jogo (Quase um soneto)

Quando a conheci já era insana,
Mas muito bem a mim fazia;
Não compreendia toda a trama,
Enquanto eu já enlouquecia.

E entre mimos, risos e choros,
Ao mesmo tempo, embaraçados;
Entre lágrimas, suspiros e gozos
Acordávamos, enfim, abraçados.

Sorriso infante, andar mais ainda,
Não sabia o risco que a mim despertava,
Talvez da minha vida, a moça mais linda,
Melhor se acordasse enquanto ainda sonhava.

Presentes, passados, vidas em jogo,
E vidas duplas de um lado e de outro;
Traição, depressão, mentiras e fogo,
E muita culpa aliada ao pecado.

Um soneto imperfeito de amor e de ódio,
Infelizmente são essas palavras,
Hoje inexiste qualquer dor ou imbróglio,
Mas ainda persiste o som das suas risadas.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O Jugo


O Senhor dos exércitos livrou-me
Do cárcere e das grades aterradoras,
Dos pareceres poupou-me,
E das masmorras perturbadoras.

Quebrou os grilhões invisíveis da alma,
Curou as enfermidades do coração,
Apagou do passado o trauma,
Apacentou o cordeiro fujão (vilão).

Todas as noites fizeram-se dia,
Todas as lendas fizeram-se tolas,
Todas as contendas submergiram
Em águas purificadoras.

Outros provarão os desgostos
Do jugo impreciso, antecipado,
Mostrar-me-á o Senhor os seus rostos,
Como prova e presente ao passado.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Simbiose



E as pessoas dizem por aí:
_ Olha, ele ainda vive!
E botam seu nome no Google...
Um sonho que nunca tive.

E lembra-se de brincadeiras,
Entre praças e bem-me-quer,
Toques em dormideiras,
Esconde-esconde em canto qualquer.

Entre castelos andam ainda,
E dizem meu nome em vitupérios,
Mesmo que tarde da noite se finda,
Meus perjúrios são deletérios.

E há acromanias por toda a parte,
Nas retinas, em nós, simbiose,
Ignora-se a chama que arde,
E na válvula cardíaca, necrose.

Uns dizem dele hipérbole,
Outros o veem cataclisma,
Uns temem dele overdose,
Outros pra isso nem ligam.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Incógnitas


Até quando verei meu rosto no espelho?
Até quando serei pele, ossos, cabelo?
Sou mesmo feliz por tê-la visto em meu mundo
A vida só é bela por saber que vives ainda.

Mesmo sabendo que a senda é curta, imprevisível
Atalha pelos caminhos um perigo invisível
Nada que detenha-me, não enquanto ainda respiro
E paro, e detenho-me, dou uma olhado, prossigo e suspiro.

Todos conhecem-me, aqui e ali, nas adjacências,
Tudo que sobra e falam de mim, nada são que excrescências;
E tudo que sobra, se não incomoda é ardil e profanações,
Mas não vivo de cobras, nem de covis, ou escorpiões.

Até quando verei meu rosto íntegro no espelho?
Mesmo não sendo Dorian Gray possuo segredos,
Mesmo não sendo Narciso, preciso afogar-me em meus medos,
Pra poder descobrir-me e que sou mais que pele e cabelos.

E as incógnitas me boicotam todo o tempo,
Já não quero crer que viver é só uma perda de tempo,
E quando vejo que o tempo perdido é só um contratempo
Tento reviver e pensar que é só uma passagem, ou melhor, passatempo.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Lodo
















Não mais mergulho naquele engodo todo
Enlameado, de medo e lodo
Sinto respirar com esforço improbo
E acordo afoito com desgosto e bobo.

Não mais pertenço a esses ares outros
Já faz-me mal tanto inútil povo
Já não é mal acordar-se morto
Pelo menos isso faço crer que é novo.

Sinto falta do som do seu choro tolo
E sem decoro me preparo todo
E quando lembro desse desaforo
Vejo-me todo enlameado em lodo...

Uma noite afoita como a de um vil cachorro
Faz-me falta tanto aquele som de choro
Que era a trilha de um romance improbo
Que hoje vejo como um tremendo engodo.

Cães violentos ladram o dia todo
E o meu dia mal começa um novo
E se tardia já me sinto bobo
Melhor que antes todo envolto em lodo.


segunda-feira, 19 de abril de 2010

O bobo da corte


E então como vai você?
Batendo sempre na mesma tecla
Andando sempre na mesma vereda
Dá até pena de ver.

E bate na mesma tecla
Parece o bobo da corte
Parece um lobo na flecha
Periga ser o noivo da morte.

Ele corre por aí com alarde
Ela sempre chega mais tarde
O amor já não queima nem arde
Ela é fria, vilã e covarde.

Mergulhou-se na mais fria quimera
E o amor servidor, enfim, já era
Batendo sempre na mesma tecla
valeu a pena o esforço, a espera?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Um Doce Dia para Ananda - Parte IV - "Ananda, A flor da Vida"

Ela havia desistido da vida. Por quê? Em breve explicarei, mas sem delongas por agora, ou melhor por ora.

Ele consentia do fato de que nada era mais impossível que Dom e Ananda, unidos.

Naquela tarde sombria, mesquinha, para ela vazia, era somente ela, tão-somente-ela, e quatro caixas de comprimidos coloridos na estante. E nada mais seria como antes. A dor pungente, o seio arfante, aquele mesmo que Dom amante, tanto ousara em seus sonhos, na verdade infante.

O brilho do sol se dissipara de tanta mágoa estampada na cara, o rosto sobreposto em lágrimas salínicas, demasiadas salgadas. Ninguém dissera que a fuga nada mais era que o suicídio lento que em breve achegaria.

Mas suicídio não lhe convinha, tinha aquilo como um refúgio daquilo que o mundo todo a expunha sobremaneira e que lhe oferecera com gosto de mel, e na verdade era mistura de fel e sangue coagulado.

Jogou de lado o travesseiro molhado, e o sentimento exposto, lembrou do gosto da noite de ontem, "quem a seguira?" "quem a espreitava?"...


(...)

sexta-feira, 26 de março de 2010

Ritos

Há sentimentos que se nutrem de longe
Senão perde o sentido.
Melhor ser subentendido
Que por vezes incompreendido.

Felicito-me em outros ritos
Mas não mais como era outrora
Não preciso mais sair aos gritos
Pelo menos não agora.

Antes via a vida como se pudesse ser repetida
Hoje sei que a hora é agora
E melhora a cada decaída.

Nada imutável, mas sempre muda, acontece
Parece de novo mas é outro, esquece
Quem pensa assim, não dura, perece
Assim como fiz um dia, tardio, amadurece.

terça-feira, 23 de março de 2010

Bata à minha porta

Sinto falta de ser seu amigo
Faz falta os momentos contigo
O jeito estranho que batia à minha porta
Hoje a noite é mais do que morta.

Persigo visões aturdido se bebo
Alucinações se acordo bem cedo
Perigo encontrar-te por aí, eis o medo
E se divago em ti nem percebo.

E espero mesmo assim ouvir de repente
Aquele bater à porta irreverente
E ao abrir a vir sorridente
E voltar a pensarmos na gente.

E mesmo na noite já morta
Espero que bata à minha porta
Não quero explicar nada, concorda?
Afinal isso já não importa.

E dizer que sem ti não há nada
Nem poesia, alegria ou estrada
Nem um ponto obscuro, nem escada
Nem razão pra sequer uma risada.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Obliterações

Sinto falta dos seus cabelos
Sem sombra de desmazelos
Mesmo que sei não vou tê-los
Mas há saudade de vê-los.

E à noite na cama é o mesmo
Sempre relembro surpreso
Pensamentos vagueiam a esmo
E por isso sei que estou preso.

Sinto a textura da pele
Mesmo que não se revele
Um sentimento que arde, que fere
Mesmo assim quem o repele?

segunda-feira, 15 de março de 2010

Constatações

O fio de barba que rasga o rosto
O sentimento tosco como ferimento exposto
O momento exige um tremendo esforço
O vento lento que me lembra agosto.

Até porque o amor não se exige
Ele acontece ou desvanece
Mas se é amor então que existe
Será que assim desaparece?

quinta-feira, 11 de março de 2010

Não é tão fácil assim

Não é tão fácil assim
A gente carrega a alegria nos ombros
Mesmo com a bateria no fim.

Tenta esquivar-se dos vidros
Que se fizeram cacos no chão
Os dias se fazem compridos
Os dias que ainda nem viram.

E não põe-se um ponto final
Ah, se fosse assim
Mas não é tão fácil pra mim
E não é só um dia ruim.

E desventuras da mente insana
E nostalgias que nascem por si
Nem cabem na mente humana
Nem sabem por que eu nasci.

sábado, 6 de março de 2010

Ainda

Hoje carrego sorriso nos lábios
Mas ainda penso nela
Mesmo nos dias cálidos
Impossível esquecê-la.

Mesmo que nade por outras águas
Mesmo carregando vitórias
Sumiram de todo minhas mágoas
Ficou só o bom da história.

E sou feliz tendo você
Em meu dia a dia em meu mundo
Mesmo sem poder te ver
Te vejo a todo segundo.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Confusões

Era um emaranhado de confusões
E profusões de sensações
Até que tudo inundou-se.
Um mar de paixões.

E nada mais era que mera quimera
E o mundo aturdido na cabeça de um vagabundo
Um segundo já era o que sabia de tudo
E tudo não mais como foi absurdo.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Previsões

Existe amor platônico e correspondido
Se não cruzasse o oceano pra estar contigo
Não seria aquele Alessandro por ti conhecido.

Não conheceria lugares por ter te esquecido
Não mentiria pra ser menos iludido
Não viveria um minuto o perigo
Não seria nem mais seu amigo.

Não posso abdicar se não amei completamente
Nao posso protelar, será que me entende?
Quero seu corpo, passado e presente
Posso prever o futuro recente.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Magias

Tenho engendrado magias e tecendo venturas
A caixa está vazia mas cabe almas ainda
Talvez não seja aquilo que tu procuras
Mas tenho poções e porções de afã e loucura.

Num átimo está ótimo e faço a bel prazer o que sonha no íntimo
É ínfimo mas sinto que contigo posso ir mais além e não minto.

Já sabia da insanidade mas não levarei sorriso no nosso encontro
Posso ser mesmo aquele de sempre que resolve tudo de bate pronto.

Tenho feito planos que me deixam zonzo, me deixam tonto
E pensar em rever parece a meu ver certo contraponto.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Palhaços

Enquanto os espinhos não tocam meus pés
Sigo do jeito que sou, tal como era
Não carrego falsos status,
Não mantenho falsa alegria,
Nada mais seria que pura quimera.

Não precisaria acreditar no que não sou
Não subjulgaria quem certamente é mais que eu
Não comemoraria falsa vitória minha
Não riria de quem já perdeu.

E de que te adiantou esse estardalhaço?
Hoje sei bem que não é esse auge todo
Hoje nada mais vejo que um infeliz palhaço
E ainda quero ver pessoalmente sua cara de bobo.

Não, nenhum espinho chegou a meus pés
E hoje sei realmente o que tu não és
Talvez realmente acreditei na supremacia
Hoje vejo que nada podes, que nada és.

Gostei até das caricaturas, ri-me todo, ri alto
Felicidades não são estampadas daquela maneira
Acordou do pesadelo, de sobressalto
Valeu, palhaço, a brincadeira.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Condicionado

Faça tudo quanto queira fazer
Diga tudo o que queira falar
Faça nada pra se arrepender
Só não tente me obliterar.

É assim mesmo desconexo, errado
É do lado que quero
E mesmo assim, perplexo, isolado
É do jeito que espero.

Sopra um ar condicionado
No escuro da viagem noturna
Tem ninguém do meu lado
Só paisagem soturna.

Enquanto passam as horas
Pensamentos ecoam aturdidos
O mundo voa lá fora
O mundo dos seres perdidos.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Estátuas

Poderia eu acelerar a rotação da Terra?
Poderia eu controlar a fúria das águas?
Como posso sentir desprazer na espera
Se entre as expectativas reside a cura das mágoas.

Tem quem pensa que o aguardo é derrota
Mas quem espera sempre alcança
Um dia o mundo nota
E logo a vida amansa.

Percebo cada qual em suas hostilidades
Mas pra mim são hospitalidades disfarçadas
Enquanto consomem tempo em iniquidades
Pra mim nada mais são que estátuas defasadas.

Borboletas sem casulo
Obsoletas reféns do consumo
No futuro pode que um bom adubo
Por enquanto um razoáel produto.

Nem guardo suas máculas como lembranças
Tampouco vestígios de intemperança
São apenas estátuas, são apenas crianças
Já não fazem mais nada que não irrelevâncias.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Acertos


Não é que tudo mude
Ou acabe...

E nada que acabe que não possa ser restaurado.

O fim é nítido mesmo que um horizonte o esconda
O fim está na curva
E o recomeço bem na próxima...

O mundo com suas voltas
Sempre nos envolvendo
Fazendo-nos enganar
E achar que estamos certos.

Hoje vejo o erro
Mas aprendi como os acertos
Nada muda mesmo
Só muda o jeito de fazermos.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Ainda cruzo o oceano...


Um dia sem arrumar a cama
Mas não desfaço meus planos
Não vivo e revivo esse drama
Ainda cruzo o oceano...

Talvez não veja bem certo
O rumo que estou tomando
Talvez não chegue nem perto
Daquilo que estou pensando.

Não é devaneio, tolo, não
Não é perspicácia descomedida
Não é vida levada em vão
Não é isso que chamo de vida.

Tenho parado o frenesi e sigo pensando
Aproveitando o bom vento soprando
Ainda concluo meu plano
Mesmo que cruze o oceano.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Frívola


Parecia tímida
Ora tépida
Um pouco insípida

Às vezes frígida
Mas de quando rápida
E descomedida

Fingia pouco
pelo menos era o que parecia

Parecia louco
Mas não era isso que se dizia

Veio de encontro
Tipo de bate e pronto

Foi tanto estrondo
Que fiquei tonto.

Hoje vejo bélica
Eu lúcido
Creio frívola
Eu íntegro.

domingo, 3 de janeiro de 2010

O Outro


Ele estava ficando louco
Nesse íntimo de querer ser o outro
Ia aumentando pouco e pouco
E tanto foi que virou muito.

Queria sê-lo e sabia
Tomou namorada experimentou as ex
Como ele vestia
Bronzeou pra igualar a tez.

Já não era pudico era igual
Já era popular nas redondezas
Já falava como tal
Vangloriava espertezas.

O outro dizia-se mito
Ele disfarçava o que podia
Uma cópia de um desconhecido
Mas o desconhecido.

Estudou o elemento a ser copiado
As frases feitas que o outro criou
Estava ficando um sujeito perigoso
Mas no seu íntimo, vitorioso.

E tudo que sabia do outro era fascinante
Mesmo sendo um facínora
Sua vida tosca ficou mais vibrante
Já não é mais o mesmo de antes...

Contemporâneos


Queria escrever algo pra você e pra mim
Mas algo não tão singelo e abstrato
Mas algo tátil e verossímil.

Só queria que você soubesse
De como é feliz sermos contemporâneos
Podia ter nascido no tempo de Dom Pedro
Mas não, dividimos os mesmos tempos
Respiramos os mesmos ventos.

Mesmo errando e sendo humano
Mesmo que faleceremos e seremos esquecidos
Ainda não te esqueci
E somos contemporâneos.

Entra ano e sai ano
As gerações vão mudando
E nós cada vez mais mundanos
Mas não mudam-se os planos
Somos retrógrados
Somos nossos fotógrafos
Pra quem sabe um segundo plano.