quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Um doce dia para Ananda - O Dom de Ananda (Parte 3)


Enquanto Dom cada vez mais se enternecia da figura quase angelical de Ananda, e já quase superado o trauma daquele encontro mal sucedido, esta por sua vez lutava para controlar as sensações que seu corpo experimentava, queria compartilhar com ele, ela carrregava o desejo no olhar, como ele não percebia? E não percebia. Dom só vislumbrava aquele estar junto, saborear os beijos de Ananda, passear de mãos dadas, observar o pôr-do-sol irradiar-se sobre os cabelos da bela em um banco de uma praça qualquer. Hoje sabia que a palavra Ananda é um termo sânscrito que significa felicidade suprema, e a Ananda que ele amava, já na época, lhe proporcionava exatamente o que o nome sugeria. O dom de Ananda era dar felicidade suprema ao próprio Dom. Mas para ela esse estado de consciência ainda não era pleno, pois o que seria da felicidade da alma se o corpo estava insatisfeito?
Lembrou-se Dom de que certa noite estivera com Ananda na velha praça da cidade e a beijava carinhosamente em meio aos transeuntes e recostado a um banco, a tenra idade o impedia de lances maiores, mas num instinto que surgiu como um feiche de luz numa floresta fechada, este beijou calorosa e umidamente o pescoço da jovem e ainda mordiscou-lhe o lóbulo da orelha, pôde sentir os arrepios, os pêlos se eriçavam e era possível percebê-los, com os olhos entreabertos pôde ver Ananda de olhos fechados e lábios entreabertos como que sussurrando algo a si mesma, mas de súbito Dom interrompeu aquilo, não sei, sentiu-se incomodado, parecia estar violando um segredo que não podia, ou ao menos não estaria preparado para descobrir. Ela abriu os olhos lentamente como que despertada de um encanto feito fogo que mal começara a queimar-se de todo.

Havia duas coisas em Dom que realmente encantavam Ananda: O sorriso e os beijos. Ah, o sorriso de Dom, para ela era como se o mundo mudasse de todo quando ele abria o sorriso, parecia que todos apreciavam, pois era tão puro, verdadeiro e encantador. Ele poderia armar as maiores travessuras no colégio, mas para Ananda era impossível alguém irritar-se com aquele Dom de sorriso largo, sempre. Quanto aos beijos? As noites eram quentes naquela cidade em que um dia estaria a milhares de quilômetros de distância, aquela pequena cidade; nessas noites ao lembrar dos beijos úmidos, intensos e demorados de Dom, se revirava no lençol da cama, abraçava o travesseiro com força, o colocava entre as pernas, e os beijos de Dom, as mordidinhas nos lábios, suava o seio pequeno e perfeito, mordia os dedos dentro da boca, umedecia-os, ora ousava um toque mais íntimo quando ainda molhados, ora agia com mais vivacidade. O frenesi era intenso.
Não que não houvesse o mesmo desejo no rapaz, de modo algum, ela a tinha como uma peça rara, uma relíquia que conquistara, afinal foi nada fácil convencer as irmãs de Ananda a permitirem aquele romance. Ia arriscar uma ousadia e perder aquilo que lutou por três anos para conseguir? Jamais.

Aquilo da alça fora premeditadamente arquitetado por Ananda, não era possível que não. Tínhamos combinado nos ver segunda, quarta e sexta e nos fins de semana ficava a combinar, e assim ocorreu. Naquela semana, Ananda foi todos os dias da semana na casa de Dom e na sexta ocorreria o fato. Geralmente ela chegava, ouvíamos música, às vezes comíamos alguns petiscos, conversávamos, nos beijávamos e pronto, logo ela ia-se embora e eu ficava a observá-la a caminhar. Os quadris largos, o belo sorriso, e de quando em vez ela se virava apenas para mandar um beijinho. Ele sorria, sorria e retribuía. Felicidade suprema.

Na sexta, por algum motivo, já estava tenso, algo me dizia que o romance caminhava para um ponto crucial, o fogo de Ananda já lançava faíscas sobre o meu rosto; seu corpo era um vulcão prester a explodir, melhor, era uma granada pronta para querer detonar, mas o estopim estava em minhas mãos.
Alguém que estivesse na sala, naquele momento veria, que, quando Dom estava beijando Ananda, de olhos fechados, compenetrado, esta remexeu um dos ombros para frente e para trás com delicadeza, e, sutilmente, a fina alça da blusinha cor-de-rosa sedosa deslizou pelo braço, Dom já estava beijando seu pescoço, e, ao abrir os olhos, pôde ver com perfeição um dos seios de Ananda quase que completamente exposto. O que fazer? O que fazer? Tinha que dar uma resposta, melhor, tinha que agir como resposta àquele fatídico e maravilhoso acontecimento. O tempo urrava exigindo a resposta e, mais inconveniente seria aquela situação perdurar sem qualquer reação de Dom. Mas a resposta não vinha. Creio que mordi os lábios, umedeci-os, a vontade mais lógica e intensa era acolher aquele seio pequeno e perfeitamente rijo nos meus lábios, ia brincar com ele, deslizar a língua por aquele bico róseo e tentador, provavelmente desceria a outra alça teimosa, faria de Ananda o doce mais saboroso da face da terra, e deveria ser provado com suavidade e sem pressa nenhuma. Contudo, a moça parece que percebia essa vontade e, creio hoje, até ansiava por isso. Ela já parecia deitar-se sobre o sofá esperando algo que não fosse o que foi feito, ou seja, nada.
Com a cara mais desapontada e infantil possível, Dom, com muito carinho, fez a alça voltar ao lugar de onde caíra. Sentiu-se tonto, mais tonto ainda, quando da afeição nada satisfeita de Ananda com sua atitude, ou sua falta de atitude. Mas era tarde, o destino, só age uma vez, pelo menos cria ser o destino. Não era.

Não consegui levar Ananda ao seu estado de ananda, e o dom de Ananda era fazer-me sentir cada vez mais apaixonado, e ao mesmo tempo, cada vez mais sem noção do que era realmente o certo a se fazer. Hoje sei que o certo nunca agradou muito a Ananda, nem tampouco a Lascívia, ou a Virgínia ou a quem quer que eu tenha conhecido. Contudo, o que de fato sei é que ainda hoje ela pode se vangloriar em dizer que eu sou o Dom de Ananda. E ela a felicidade, minha e suprema.

2 comentários:

daniela disse...

adorei esta historia...me intentifiquei muito com a historia, poderia jurar que se trata de minha historia.

Alle Vargas disse...

Oi querida Daniela.
Obrigado por ler e gostar da história e que bom que identificou-se.

Como canta o Cazuza: "...Eu escondi o seu nome por amor, em um codinome beija-flor... (...)"

Beijos na alma.