sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Contraposição


Um sobe e desce descomunal
Como se nada acontecesse,
Como se fosse normal
Tanto sobe e desce como esse.

Altos e baixos; prédios e casas.
E como nada muda ou mudasse
Joguei cartas.

Nem sorte, nem nada,
Um sobe e desce de escada;
Antes tudo mudava,
Agora só muda a palavra.

Tudo vai, não volta,
Mas sobe-se e desce-se no caminho,
Abre-se e fecham-se portas,
Mas ainda resta porta e caminho.

Tudo dá certo no fim,
Mas se é fim, porque há razão se dar certo?
Isso não é certo pra mim
“Se não deu certo é porque não chegou o fim”.

No fim nada importa.
É um sobe e desce nessa vida,
Se fecha-se a porta,
Não haverá mais saída.

Vai e não volta, um sobe e desce descomunal,
No fim nada importa,
Como se fosse normal
Tanto sobe e desce,
Bom e mau.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A ventura


Eu e meus pensamentos incertos, confusos.
Pensamentos são tormentos, são como os dias. Lentos, lentos.
A solidão é necessidade da alma,
Tal qual a dor é a certeza do amor.
O dia vai lento. A noite é uma flor.

A estrada é poeirenta, mas a ventura é olente,
Parece nostalgia, mas já é novembro,
Dos sonhos que tive, nenhum eu me lembro.

Se existiu amor, não posso sentir. Se se sentia, já faz muito tempo.
O tempo passou,... Outubro, novembro.

Claustrofobia, isso aqui não é vida!
Trancou-me sozinho no esquecimento,
Enfim chega o fim. Dezembro,... Dezembro!

Cem quilômetros da incerteza pungente,
Sem inocência, sem rosto rubro.
Cento e cinqüenta e três dias para trinta e um de outubro.

Eu e meus pensamentos levados por ventos para longe daqui,
Lugares distantes em poucos instantes.
Mas nada como antes.

O coração pulsa pedindo solidão,
Em um pulsar desvairado de amor,
O futuro incerto, bem certo só dor... Dor e mais dor.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Ela não olha pra trás


Ela não olha pra trás,
Para ela passado não há.
Ela não olha pra trás,
Pois passos não voltam mais.

Gosto como arruma o cabelo,
Gosto simplesmente de vê-lo,
Admiro todo o seu corpo,
Que sei nunca vou tê-lo.

Mas ela não olha pra trás,
Não olha de jeito nenhum,
Mesmo quando eu fico pra trás,
Ela não olha pra mim.

De longe a vejo arrumando o cabelo,
Este que sei, não vou tê-lo,
Exibindo seu corpo pequeno
Que mais longe, sei não vou vê-lo,
Os passos não voltam mais,
E ela não olha pra trás.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A dúvida da primeira vista.


Meu coração ainda me trai,
Julgava-o incapaz de inquietar-se novamente,
Último amor então se esvai,
Mas não sai a dor pungente.

E não se quebra a dor tão fácil,
A lembrança fica, ela não some,
O amor não é volátil,
Nada se evola ou se consome.

Fica a dúvida da primeira vista,
Não sei julgar pela impressão,
A não ser que se persista,
Ou a não ser que não.

O corpo todo responde a esse impulso,
Mas não se altera o pulso da vida,
A alma empalidece, desce o sangue no pulso,
E cresce a viva ferida.

Uma palavra resolveria tudo,
Mas que saia de ti, do fundo da alma,
Eu com você fico mudo,
E se não mudo é porque falta calma.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

31 de outubro


O fim do mês de outubro tende a ser confuso,
Entra novembro e me lembro de tudo.
O dia das bruxas é o dia mais duro,
Foi o fim de tudo, mas não é o fim do mundo.

Se eu sou um eterno insatisfeito,
Não faço um inferno na vida dos outros,
Nunca enxerguei seus defeitos,
E deixei os desejos soltos.

Não trancafiei seus sorrisos,
Ora indecisos, e preciso deles,
No inferno um ataque de risos
Da minha angústia de todos os meses.

Pintando palavras na frente da tela,
Mandando mensagens para uma face opaca,
Luzes apagadas e luzes de velas,
Iluminam seu rosto, sua vida, mais nada.

Agora os sonhos são mornos como o chuveiro,
A loucura passou como as flores são murchas,
O ano vai tombando em um despenhadeiro,
Mas as dores são duras no dia das bruxas.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O que preciso...


Preciso de um banho de praia
De água gelada
Preciso de um banco na praça
E vento na cara

Preciso confiar em alguém
Mesmo que em mim mesmo
Preciso chegar além
Mesmo que seja a esmo

Preciso de um banho de chuva
Preciso de um amor primeiro
Não preciso de guarda-chuva
Muito menos de muito dinheiro

Preciso de mãos dadas
Preciso de caminhada
Não precisam muitas palavras
Não falta mais quase nada

Preciso andar sozinho
E areia entre os dedos
Preciso fazer caminho
E dizer adeus para os medos

Sem dizer um adeus
Obsessões para trás
Sozinho e com Deus
Em busca da paz

quarta-feira, 15 de outubro de 2008


"Gostaria que apostasse em quem te ronda,
mesmo sendo apenas uma sombra do que podes desejar
Gostaria que abrisse seus braços e se deixasse levar como numa loucura de amar improvável...
Saudável como ondas do mar..."

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Destroços


Sei o quanto posso ferí-la
Mas amar não sei se posso
Sei que se amar só vou destruí-la
Depois não amarei destroços

A culpa é vã, o pecado capital, a dor é triste!
O momento profano
O ardor natural
O sofrimento inexiste.

Um simulacro de vida
Um sepulcro vilipendiado
É o coração em carne viva quando é abandonado.

A carne perfeita, cor-de-lua-cheia
Que tange a minha toda
E penetra nas veias.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Planador de Passageiros


É desculpa pra analfabeto...
É desculpa pra analfabeto...
O negócio já começou.
O negócio já começou.

É planador.
É planador.
Incrível queda livre.
É plena dor.
É plena dor.
Indescritível.

Sustentou-se em nuvens voláteis.
Agora aguenta as pontas.
Sabe-se os últimos dias.
O que me contas?

Mais cedo ou mais tarde viria.
Sabe-se-lhes na boca do leão.
Bem que mo diziam.
Se bem que uns diziam que não.

É planador de passageiros.
E ainda falta vento.
Sem motor ou paraquedas.
Mau tempo.

Sem rebocador.
Sem rebocar dor.
É plena dor.
É plana a dor.

Deve-se desculpas pr'os analfabetos.
Por não lhos terem aberto os olhos.
Por eles não serem os prediletos.
Por lhes furarem os olhos pelas costas.

Pelo voto de cabresto.
Por quem não presta.
Pelo julgo do incesto.
Pela catequese.

Planador cabe só um.
Aqui tem gente demais.
Queda livre em comum.
E ainda vem mais.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Poema do Desacordo Ortográfico


Não tenho mais idéia
Nem existe ato heróico
Muito menos assembléias
Eles não vêem mais paranóicos

Feiúra já não existe
É a nova cara do Brasil
Amazônia ainda resiste
Mas a jibóia se aboliu

Eles não crêem mais na gente
Eles não lêem mais artigos
Eles parecem bem contentes
Mas e você aí amigo?

Não sei se vou ou vou na boa
Só sei que não levanto mais meus vôos
E que de barco ou de canoa
Não me acometo mais de enjôos

Estão extinguindo mesmo com tudo
Lingüiças, sagüis e pingüins...
A qualquer hora muda-se o mundo
E ao invés de por tiram os pingos dos is

O que era constante não é mais freqüente
Mesmo assim se acostuma
Ainda mais se inteligente
O brasileiro se apruma

Mas agora é vida nova
É pegar a autoestrada
Ou até mesmo o paraquedas
Mas primeiro a autoescola
Acrescentar algumas letras
O dicionário está na moda
Não está achando uma boa ideia?

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Aquele que seguia sombras


Já não é mais aquele que seguia sombras
Nem companhias boas de beber vinho
Já não é mais desses de residir penumbras
Nem faz mais daquelas de investir sozinho

Não chega mais ao raiar do dia
Não é mais amigo das incertezas
Não chega perto de onde antes ia
Não procura em tudo toda a beleza

Ele é o transgressor das gerações
Todos passam, ele permanece
Ele é o gerador das transgressões
Ele falha, mas não recrudesce

Talvez inove de quando em quando
Mas não mais aquele de iludir o mundo
O tempo passa e ele vai passando
Não se sente mais o que é no fundo

Não mais comícios, beijos e praças
Não faz mais nada que antes fazia
Não vê sorrisos, não vê mais graça
Fugiu a alma que aqui jazia

Age como antes só de quando em vez
Foge quase sempre quando é muito sério
Vive muito tempo quando muito um mês
Se mais que isso já é deletério