terça-feira, 29 de julho de 2008

Ótimo e próximo


É tão ótimo!
Teve lua linda
Tinha violão
Ainda tinha...

Teve banho de rio
Teve comer bastante
Teve dormir no banco
Por alguns instantes...

Teve amigos ótimos
Sempre tem!
Teve neuroses passageiras
Ainda bem!

E fogueira constante
Sem queimar o pavio
Como tripulantes
De um invisível navio

E tão duradouro
O sol escaldante
Pôr-do-sol de ouro
Delirante!

É tão ótimo!
Teve lua linda...
É tão próximo!
É mais ainda...

terça-feira, 22 de julho de 2008

O Cordeiro



A ovelha fofinha
Desgarrada, berrando
A centelha divina
O pastor vem chegando...

O cordeiro alvo e medroso
O cordeiro amarrado
O lobo quer pêlo todo
O lobo quer almofada...

A ovelha é pega nos braços
O pastor vai levando
Ainda olha pros lados
O temor vai passando...

Tem medo dos lobos...
Mas o arqueiro vem vindo...
O cordeiro medroso...
O cordeiro sozinho...

Não queria sujar o lago
Em que o lobo bebia
Queria só um gole
De água bem fria

Nao tinha irmãos, nem companhia
Nem falaria mal de quem é mais forte
Mas para um lobo não existem desculpas vazias
Ao cordeiro restava esperar sua morte.



[Baseado na Fábula de La Fontaine "O Cordeiro e o Lobo"]

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Missão Demente


Estou pronto.
Finquei pé no chão.
Adliguei-me a mim mesmo.
Sem digressão.

Ganhei os pontos.
Sobrevivi à gestação.
A espera é sempre árdua.
Mas não é em vão.

Dizem-me oportunista.
Mas só estou lá.
Podem imitar-me.
Não é tão bom.

Corri no encalço.
Desatinado.
Ferido e descalço.
Desolado.

Na escuridão.
Não estava em mim mesmo.
Mas em companhia.
A alma sem medo.
Jazia.

Bebida quente.
Pra subir pra cabeça.
Para aliviar.
Pra que não enlouqueça.

Empreendi Fuga.
Não queria outras bocas.
Em meio aos carros.
Sou só um corpo.

Na rodovia.
desnorteado e a pé.
Em busca desatada.
Desatada fé.

Com um corvo negro.
Sobre os fios de cobre.
Com as asas molhadas.
Sob a noite fria.

Sonâmbulo vivo.
Um só segundo.
Mundo soturno.
Um morto vivo.

Hoje sei.
Coração doente.
Psicológico destroçado.
Missão demente.

domingo, 20 de julho de 2008

A Cura


A quero para curar-me... Se ela me amasse
Se de fato houvesse razão para o alarme
Se não fosse tarde

Em meio ao alarde ela me cura
Daquela sensação de que ninguém me procura
À tarde fico em meu quarto
De noite às escuras.

Do outro lado do abismo invisível ela me escuta
Do meu lado não sei que “raios” me perturbam
Do seu lado seria mais árdua a minha luta
Isolado não sei até onde esses sonhos chegam.

Queria-te, dona da cura
Dos problemas cardíacos que você causou
Ser-me-ia dona da lua
Onde homem jamais pisou.

A cura que você me afere
Vem dos seus lábios de beijos desconhecidos
Do seu olhar que ao me olhar me fere
Do seu corpo envolto em tecidos.

A quero para curar-me
Se ela viesse
Se de fato houvesse razão para o amor que por ela só cresce

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Um Desejo de Fé


Te tenho um desejo de fé
Pode crer, creia já
Um desejo que não será
Um desejo que sim já é

Te tenho nas mãos borboleta
De tão frágil e prematura
E tão verde de não madura
Te tenho até obsoleta

Promovo-lhe um olhar pesado
Pra desejares mais que tudo
Pra sentires um amor rotundo
Pra sentires o amor roubado

Assinta com meus planos
Assim desse modo imoral
Assassine toda a moral
Assine por baixo do pano

Te tenho um desejo de fé
Mas não posso consumar
Nem tampouco te contar
E nem sei se você quer

A fuga amiga é
Te deixo de volta prometo
Te trago pra casa não minto
Pois te tenho um desejo de fé

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Sensações


Um copinho de café pra aumentar a dopamina
Um momentinho só de fé pra aumentar minha auto-estima

Um pouquinho só de sexo pra aumentar a endorfina
Um poquinho aqui, sem nexo, só pra dar adrenalina

Entre um meio tempo e outro curta as sensações
Entregue-se de corpo todo a curtas sensações
Entre o tempo todo de corpo às sensações
Entregue seu corpo todo, curta essas sensações

Banhe-se de uma vez nas águas da insensatez
Banhe a sua tez mas faça-o de uma vez

Corra no encalço de aventuras violetas
Corra assim descalço pois venturas são violentas

Violentas e tão belas as venturas audazes
Violetas e bromélias e alegrias lilases

terça-feira, 8 de julho de 2008

Incensos


A noite clara e sopra um vento quente,
Balança as cortinas do quarto no alto,
Tem luz acesa, é sinal de gente,
E sinto sua vida daqui do asfalto.

No corpo um calor louco que desperta tudo,
Paixões, segredos, fantasias...
Um corpo esguio estremece no escuro,
E por baixo das sedas as mãos minhas.

As cortinas parecem querer voar além da janela,
De carona com a brisa no calor tão intenso,
A noite é tão longa, a noite é tão bela,
E as ruas vazias cheirando a incenso.

Se pudesse chamá-la queimaríamos como incensos,
Olentes, na noite quente e corpos esguios,
Suaríamos na cama e lençóis brancos e lenços
Amarrados na cama, nas janelas, ao vento.

Queria um só momento de impulso, de ímpeto, frêmito,
Sequioso dos seus lábios, levá-la para o meu templo,
Na floresta negra da vida levá-la até meu momento,
E chegarmos ao topo do amor, do torpor que é tão denso.

domingo, 6 de julho de 2008

Luxúria


Você é a luxúria que me sufoca
Você é um sufoco no céu da boca
Eu sou o imperador de suas costas
Eu te guio na dança louca

Eu a controlo pelos cabelos
Prefiro que você esteja em minha frente
Adoro a balbúrdia, os desmazelos
Prefiro assim mesmo, insano, demente

A tempestade no furacão
O sexo sem nexo, a paixão
A fúria lasciva, a opressão
Os corpos fazendo pressão

Não sinto nada que não o desatino
Não vejo nada que não o momento
Da sua boca só quero o absinto
Em sua boca só quero estar dentro

De joelhos pra mim, clemente
Descontrolada no afã, infante
Sorve o néctar da fonte à frente
Engole a essência de seu amante

Quero que proves do mel sagrado
Quero o cálice de teu sangue
Quero algo jamais provado
Mesmo que esse algo derrame

Vou desvendar cada curva tua
Destroçar todos os seus sentidos
Na noite turva, na rua, nua
Não conterá mais os seus gritos

Enfim chega o fim
Com torpor que assombra
Esperarei-te bem ali
Na próxima sombra

(***)

sábado, 5 de julho de 2008

Os bóias-frias da modernidade


Entre um expediente e outro
Entre a troca do terceiro trampo
Uma pausa para o almoço
Umas três e tanto

Uma digestão eficaz
Senão já era
Querer um minuto de paz?
Quimera

Um olhar de soslaio pro sol
Da janelinha do banheiro
Uma volta no meu quintal
De uns dois por três metros e meio

Acorda às quatro à força
Mas já não é pau-de-arara
Sobe no "rasga-roupa"
Pra ir pra batalha

Geralmente é rotina
De quando em quando um incidente
Às sete da matina
Só se for acidente

Sacia a sede de sangue
Dos transeuntes passantes
Parecem sanguessugas de mangue
Na lama, mas esgarçantes

Mas a gente merece lazer
A gente se diverte com tudo
A gente sabe que vai morrer
Mesmo assim não razão para o luto

Chega em casa, seu reduto de paz
Onde lá tem alguém que o espera
Se arma, se prepara, e refaz
Porque amanha é dia de guerra

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Sais de Lítio


Fico perdido e confuso
Num sobe e desce difícil
Preciso de um parafuso
Preciso de sais de lítio...

Navego pelo universo
Montado num lindo míssil
Acredito já estar bem perto
Da terra dos sais de lítio...

Caminharei satisfeito
Em meio aos cristais
Lá tudo é perfeito
E os caminhos de sais...

Já não sei escolher
Entre o bem e o mal
Mas só deve ser
A ausência de sal...

Confuso e estranho
Perdido e complexo
Sais de lítio no sangue
Excesso de sexo...

Esquizofrenia, comportamento
Nada está nítido
Meu Medicamento
Meus sais de lítio!

Abro os olhos pro mundo
De um azul bem atípico
Mesmo assim me pergunto:
_ E meus sais de lítio?

terça-feira, 1 de julho de 2008

O Caminheiro


O caminheiro vai contente com o seu cajado na mão;
Não, não é deficiente,
Mas faz parte da missão.

O caminheiro vai alegre e cantando quando pode,
Na estrada de poeira,
Mas poeira se sacode.

Ele leva uma mochila bem pesada nos trieiros,
Ele vai feliz da vida
Sem tristeza e sem dinheiro.

Pára pra comer e conversar com os caminheiros,
A lua é seu teto
E sua casa o mundo inteiro.

Não arruma namorada, até porque não sobra tempo,
É dificil uma amada
Que queira dormir ao relento.

Sabe que seu caminho é ora flores, ora espinhos,
Mesmo assim segue andando
Pois não gosta de desvios.

Gosta mesmo da vida, desatinos, destinos, percalços,
E não reclama das feridas
Que ostenta por pés descalços

O caminheiro vai sozinho, com seu cajado a cantar,
Segue por novos caminhos,
Não sabe onde vai chegar.